Era véspera de Ano Novo, Mário tinha voltado a morar no apartamento e Augusto já havia falado com o meio-irmão para que deixasse Cristiano ficar em sua casa. No começo Jonas foi irredutível e disse que queria o filho de volta, mas Augusto fez uma chantagem para a qual o outro teve de ceder.
– Ou você deixa o Cris ficar na minha casa ou eu pessoalmente vou fazer um escândalo naquela sua igreja e vou fazer questão de frisar que somos irmãos. Eu vou te envergonhar tanto, maninho, que eles vão te expulsar de lá. – Estavam sentados na sala de estar da casa de Jonas e pelas veias saltando no pescoço do outro, Augusto teve quase certeza de que já era causa ganha.
– Você não se atreveria a fazer isso... – ao que o cirurgião sorriu de forma irônica e após tomar um gole do café servido a ele pela cunhada, respondeu.
– Pague pra ver. Eu não tenho nada a perder, meus clientes sabem que eu sou gay e não se importam, contanto que eu os deixe dez anos mais jovens. Agora, eu fiquei sabendo que você é um dos principais colaboradores lá dentro... – Jonas parecia quase a ponto de explodir, a pele normalmente clara estava em uma vermelhidão só e as veias no pescoço pulsavam de puro ódio.
– Esta bem! Leve o moleque embora, mas eu quero dizer uma coisa! Ele não pisa mais aqui, nunca mais! Para mim e para a Jussara, o Cristiano morreu hoje! – a cunhada derrubou a bandeja ao ouvir o marido falar aquilo, mas Augusto se esforçou para parecer indiferente e olhou para ela, dizendo com a voz mais calma e impassível que conseguiu fazer.
– Jussara, você poderia me ajuda a juntar as coisas do Cris? – o cirurgião se levantou e puxando a cunhada gentilmente pelo cotovelo, afastou-a de perto do marido, até chegarem ao quarto do menino. Antes que pudesse encostar a porta, a mulher desabou em lágrimas.
– Por favor, Jussara, se recomponha! Você não vai ficar sem ver o Cristiano. Podemos combinar de vocês se verem quantas vezes você quiser! Eu só concordei com aquele absurdo pro Jonas deixar o menino morar lá em casa. – ela enxugava as lágrimas e os longos cabelos negros, presos em um rabo de cavalo baixo e com muitas pontas duplas mortas caiam sobre um de seus ombros, como uma cobra sem vida. E pela enésima vez desde que conheceu a mulher, Augusto pensou no quanto queria dar banho de loja na cunhada.
Depois de encaixotar e colocar no carro todas as coisas do sobrinho, o médico, que foi auxiliado pela cunhada, pegou um dos seus cartões de visita e o colocou na palma da mão da mulher.
– Me prometa que se o Jonas te machucar de novo, você vai me ligar, ta? Aqui atrás tem o meu celular particular. Jussara, eu quero te ajudar, mas você é quem precisa dar o primeiro passo. Você me promete? – ela encarou o pequeno cartão por longos segundos e respondeu com algo que soou como "mas, ele é meu marido..."
– Você me promete Jussara? – Augusto repetiu a frase com mais ênfase e então fechou delicadamente os dedos da mão dela que segurava o cartão e a encarou. E pela primeira vez em todos aqueles anos que ele a conhecia, a viu sorrir. Sorrir de verdade!
– Eu prometo Augusto. Obrigada por cuidar do meu menino. Eu não sei se consigo aceitar quem ele é; pelo menos não por enquanto, mas o Cristiano ainda é meu filho e eu ainda o amo muito. Eu só não queria que o Jonas o machucasse mais. Só isso. – ela começou a chorar de novo e o cirurgião, que não tinha muito jeito com esse tipo de situação, abraçou a mulher de forma meio desajeitada e lhe deu uns tapinhas nas costas.
Finalmente se despediu. Apenas Jussara permaneceu na porta acenando, Jonas se manteve dentro de casa, espiando por uma fresta na janela. Isso tudo aconteceu no dia seguinte ao Natal e agora, quase uma semana depois estavam os três vivendo em seu amplo apartamento. Sem fantasmas!
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Um novo Conto de Natal
RomanceAugusto é um famoso cirurgião plástico, mas também é um homem egoísta que não se preocupa com os outros a sua volta, no entanto isso irá mudar nesta véspera de Natal, quando ele será visitado por três peculiares espíritos que o farão se recordar do...