Um mês havia se passado desde o fatídico dia do meu "quase casamento", o mesmo dia que conheci Rafael e Tonta.
Meia hora foi o tempo exato até João aparecer na porta da minha mãe depois que o Rafa me deixou lá.
A cena foi armada e a confusão foi das grandes, mas entre mortos e feridos salvaram-se todos. Decidi então que eu precisava de um tempo sozinha, por isso aproveitei que estava de férias por causa do casamento e fui viajar. Claro que em segredo, para que o João não descobrisse, por isso apenas minha mãe sabia do meu paradeiro e ficou incumbida de dar notícias para os outros.
No dia seguinte, bem cedinho, fui de táxi até a rodoviária, peguei um ônibus para o Aeroporto de Presidente Prudente e de lá parti para o Rio de Janeiro, com destino a Arraial do Cabo.
Durante o último mês eu chorei as pitangas por ter sido enganada, por não ter me casado e por ser uma tola. Mas logo sacudi a poeira e comecei a pensar na minha vida, fiz um levantamento de tudo.
E sabe qual a conclusão? Eu não amava o João, eu amava como ele parecia se encaixar no meu plano perfeito de conto de fadas. Se eu parasse bem para analisar, ele nunca me fez sentir borboletas no estômago, nunca me fez ficar ansiosa ou contando os minutos para estar com ele.
Hoje, posso ver que aconteceu comigo igual àquela música da Marília Mendonça diz "me apaixonei pelo que eu inventei de você". E quando a minha invenção foi por água abaixo, a paixão foi junto.
Eu senti a traição, senti por ele ter fingido me amar. Mas se fosse amor mesmo, eu não estaria tão bem quanto estou hoje.
Nem agora, que acabei de entrar na minha casa, onde passamos bastante tempo juntos nos últimos meses, eu estou sentindo aquele sofrimento que é por perder alguém que ama.
Vim da rodoviária direto para cá. Deixei as malas no quarto e me joguei no sofá, ainda não avisei a família que estou de volta. Só a mamãe sabe.
Fecho os olhos por um instante e Rafael e Tonta vem à minha mente. Os dois foram parte dos meus pensamentos por tempo demais nesse último mês. Falei com o Rafa várias vezes e era como se fôssemos íntimos. Acho que posso dizer que ganhei um amigo, ou melhor, dois, já que Tonta ficou feliz ao ouvir a minha voz nas ligações.
"Amigo, sei. E desde quando se tem sonhos eróticos com amigos?" Zomba minha consciência.
Não posso negar que o Rafael é um homem e tanto e depois que minha ficha caiu para a real, comecei a reparar mais nele. Primeiro na sua foto do perfil do WhatsApp, depois nas fuçadas de leve que dei no seu insta. E então das lembranças do dia em que ele me acolheu. As suas mãos em mim, os seus olhos, sorrisos.
Eu só posso estar louca, mas acho que Rafael é o meu novo crush.
Meus devaneios são interrompidos pelo som da porta sendo aberta. Pulo do sofá assustada e dou de cara com João.
— Então é verdade, você voltou mesmo — ele diz e segue na minha direção.
Dou dois passos para trás e esbarro na outra ponta do sofá.
— O que você está fazendo aqui?
— Luluzinha, vamos conversar — pede. — Eu sei que errei, mas eu te amo e quero o seu perdão — João pede com cara de cachorro que caiu da mudança.
— Não, João, acabou. Você me traiu.
— Luíza, foi um deslize, mas eu juro que nunca mais vai acontecer.
Ele se aproxima e eu dou a volta no sofá, indo em direção a porta. Se precisar eu saio correndo.
— Um deslize? Você só pode estar brincando, não é? Foram cinco, cinco, isso que eu sei — berro. — Mas não importa mais, acabou.
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Short StoryDesde os cinco anos de idade Luíza sonhava com o dia em que encontraria o seu príncipe encantado e viveria o seu felizes para sempre. Finalmente esse dia chegou, mas antes do tão sonhado sim, o príncipe virou sapo e o conto de fadas virou conto de t...