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É dia de natal e a neve começa a ameaçar cair. Estou melancólica. Tenho mais saudades da minha mãe no dia de natal do que nos outros dias do ano. À medida que a doença avançava, eram poucas as coisas que ela conseguia continuar a fazer, pelo que acabamos por combinar que as tradições do natal eram as únicas que valia a pena serem mantidas. Lembro-me do último natal dela. Todos sabíamos que iria ser o último, pelo que, apesar do pouco espírito festivo, decidimos dar-lhe o melhor natal de sempre.

Acordei nessa manhã antes de toda a gente para poder começar a preparar a comida. Recheei o peru e coloquei-o no forno. Estava cansada portanto não reparei que não o tinha ligado. Perto da hora de dar a refeição à minha mãe para que esta pudesse tomar os analgésicos, apercebi-me de que o peru estava completamente cru porque o forno estava desligado, pelo que rodei o botão da temperatura para o máximo, na esperança de conseguir que ela comesse um pouco.

Escusado será dizer que a única coisa que eu consegui foi esturricar a única proteína animal que tínhamos em casa para os próximos dias e que sabia que ia apanhar uma sova quando o meu pai chegasse a casa bêbado como de costume.

Meu dito, meu feito. Após me empanturrar com a minha mãe com sandes de manteiga de amendoim e nutela, de lhe dar os comprimidos e a colocar a dormir, ouvi o meu pai chegar a casa.

Bateu com o portão, bateu com a porta, partiu a garrafa meio vazia na parede e bateu com o punho em cima da mesa. "És capaz de me explicar o que é que eu vou comer agora, seu monte de esterco? Havia de te comer o cu." Essa foi a primeira vez e o resto vocês já sabem.


Estou cansada. Não tenho forças para me levantar da cama hoje. Há dias assim. Há dias em que só abrir os olhos já dói na alma. Hoje é um deles.

Vejo o brilho do telemóvel que coloquei no modo silencioso ontem à noite. Não me apetece ver quem é. Seja quem for, não me interessa. Só quero que me deixem em paz.

Volto-me na cama, mas o brilho não me deixa dormir. Decido simplesmente desligar o telemóvel, mas algo me impede e acabo por ver que tenho cerca de 30 mensagens por ler. Mas está tudo bem? Não me ligam nenhuma o ano todo e na época das festas lembram-se de mandar mensagens só para encher o meu "nataldiacomoosoutros" da vossa falsidade. Manquem-se, por favor.

O telemóvel volta a tocar. É o Michael. Não me apetece ouvi-lo, mas pode ser que pare de me ligar depois disso.

- Sim? Claro que não sei do Chuck. Por que é que haveria de saber? Não tenho culpa que ele tenha lá estado, ok? Eu disse que queria estar sozinha e ele foi-se embora. Não o vejo desde então. Se já falaste com ele se calhar está bem, não é? Às vezes as pessoas só não querem ter de te dar justificações, Michael. Ok, adeus.

Credo. Ele é a criatura mais chata que eu já conheci e não entendo como é que alguém o consegue aturar sequer. Como é que é suposto eu saber para onde é que o Chuck foi depois de eu o ter mandado embora? Não sou mãe dele, não tenho essa obrigação.

- Olha, obrigada pela parte que me toca então. - Ouço a voz, mas não percebo de onde vem.

- Chuck?

- Ao vivo e a cores.

- Ok, então por que é que eu não te vejo?

- Olha, burra, se calhar porque estás de costas para mim. - Volto-me na cama. Não o vejo na mesma. Não estou a perceber nada do que se está a passar. Ainda estou a sonhar?

- Charles, para com essa merda.

- Mas o que é que foi que eu fiz?

Sinto uma movimentação do ar, mas continuo sem ver nada. - Charles, eu não sei como é que estás a fazer isto, mas eu juro que vais pagá-las.

- Kath, eu estou aqui.

- Já te disse para não me chamares assim! - Senti a mão a embater contra algo suave, mas não vejo nada. - Chuck?

- Agora já acreditas?

- Como é que eu te consigo tocar mas não te consigo ver? - Pergunto, incrédula, estendo a mão devagarinho na direção do som.

- Isso é o meu pénis.

- Oh céus, a sério? Desculpa! Desculpa! Desculpa! - Guinchei, retirando a mão imediatamente.

- Não, estúpida. É grande, mas não chega ao pescoço. Agora, já me podes ajudar a perceber o que raio é que se passa aqui?

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⏰ Última atualização: Dec 27, 2019 ⏰

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Sinceramente teu, ChuckOnde histórias criam vida. Descubra agora