▪︎ 1: Quedinha Por Você

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Sérgio Guizé.

Soltei um longo suspiro, enquanto passava as mãos pelo meu cabelo molhado, de quem havia acabado de sair do banho.
Arrumei a toalha na cintura, como se houvesse alguém em casa para ver qualquer coisa. A solidão ainda era estranha pra mim, mas aos poucos ela seria comum, pensei.
Caminhei até a minha cama e peguei o celular largado ali, o desbloqueando e crente de que encontraria uma mensagem de Bianca falando que voltaria, que estava arrependida, que estava de cabeça quente. E tudo que encontrei foi seu número bloqueado e sua última mensagem "dê tempo ao tempo".

Havíamos terminado por diversos motivos, mas não de forma repentina. Algo em nós já estava conturbado, desde as gravações de A Dona do Pedaço. Paranóias vinham em sua cabeça e o ciúme em diversas ocasiões já era difícil de lidar, mas ainda assim, me inconformava sua mudança maluca de comportamento. Sinceramente? Pensava que o nosso amor era inevitável, mas esses dias que estive sozinho, senti mais paz do que nunca. Não sabia mais se eu a amava, ou se era apenas o medo de ficar sozinho pro resto da vida.
Enquanto ponderava sobre o fracasso do meu casamento e sobre meus próprios sentimentos, recebi uma ligação que me tirou do transe.
Atendi no no mesmo momento, esperando que fosse meu agente, a fim de me irritar numa sexta à noite... Como sempre costumava fazer.

— Alô?

Sérgio, meu amigo! Sei que está tarde e de última hora, mas faz esse favor pra mim? Chama a Tio Che pra se apresentar num aniversário, na Moon. Cantem algumas músicas que vocês sabem, improvisem. — De fato, era o meu agente afobado, no meio de uma barulheira. Ele estava na festa. E me perguntei brevemente pelo profissionalismo dessa ligação.

— Ah, não vai dar, não. As coisas não funcionam assim, né? Os garotos devem estar dormindo uma hora dessas, eles têm vida. Assim como eu. Boa noite, cara. — Estava prestes à desligar, mas ele gritou um "ESPERA!" do outro lado da linha que quase me deixou surdo.

Eu liguei pra todos, disse que você estava vindo e eles estão levando as coisas. Uma banda não é uma banda sem o vocalista, garoto. — Ele disse, num tom traquina de quem já tinha pensado tudo.

Revirei os olhos, ajeitando a toalha na cintura mais uma vez.

— Você me paga.

Assim que a ligação foi encerrada, tentei me arrumar em tempo recorde, com a finalidade de me atrasar menos do que já poderia estar atrasado.
Me vesti com roupas frescas, mas adequadas pra uma festa que provavelmente estaria bem frequentada, peguei o celular e chamei um Uber, e assim, larguei o violão no ombro. Apesar de odiar os shows surpresa, eles sempre acabavam sendo ótimos e por essa questão eu já me animava.
Fomos cortando por todas as ruas do Rio, em busca do lugar indicado e alguns bons minutos depois, eu já estava lá na frente.
Meu agente me recebeu e me levou até onde os meninos poderiam estar, e realmente estavam lá. Reclamando da ocasião inesperada e, também, do meu atraso. Entretanto, eu sabia que eles acabariam se divertindo no final.
Nosso nome foi chamado para começar a apresentação ao palco e assim, invadimos nosso habitat natural com muita animação e energia, com a adrenalina do acaso ter nos chamado para essa noite.
E se eu soubesse que a minha vida viraria de ponta cabeça nessa noite, não pensaria duas vezes e aceitaria no mesmo momento. Teria chego mais cedo, mas essa é a graça de não sabermos nada.
Entre uma música e outra, passei meus olhos pela platéia, trazendo uma palpitação diferente em mim.
Lá estava ela, reconhecível de todas as formas, graciosa e delicada como só ela fazia. Seus cabelos balançando ao seus movimentos da dança, de olhos fechados ela aproveitava os ritmos. Por uma fração de segundos, até cheguei a esquecer a letra da música.
A mais brilhante espectadora de todas.

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