prólogo

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   "Michael, não se preocupe. Você vai fazer muitos amigos e eu já volto para te buscar, certo?" Karen disse, voz e expressão apertadas pela vergonha. Seu filho, aparentemente decidiu gerar uma grande comoção na entrada do centro de educação em Halkins; onde ele chorava e segurava-se na saia da mãe com uma paixão e força surpreendentes. A viagem de casa até onde ele começaria o jardim de infância foi muito menos turbulenta que a entrada. Michael parecia ansioso e sua mãe não deixou de notar. Sua perna balançava para cima e baixo em um ritmo constante e veloz. Ele implorou algumas vezes para Karen dar a volta e deixá-lo em casa mas não houve resultado positivo. Ela afirmou que já passava da hora de Mike ir para a escola, o que o calou em todas as vezes; ele não estava tão escandaloso ou dramático como quando finalmente estavam em público. A estratégia era clara na cabeça do garoto. Quando sua mãe ficasse humilhada o suficiente, ela desistiria de abandoná-lo nessa construção onde tantas outras crianças o observavam e julgavam. Mas ela não hesitou ao deixá-lo nos cuidados de mulheres desconhecidas em quem ele definitivamente não confiava. 

   Mike recebeu algumas informações dentro da sala de aula, coisas como o alfabeto e a tabela de múltiplos estampavam as paredes do cômodo apertado e cheio de cadeiras, mesas e crianças que não paravam de falar. Depois da primeira hora sentado ali, seu pé ficou dormente, o que contribuiu muito com seu incômodo e tirou ainda mais da pouca atenção que ele dedicava à mulher na frente de si, que explicava coisas inúteis e bobas com as quais Mike não poderia se importar menos. 

   Ele passou o resto da aula rabiscando um caderno, escrevendo seu nome e desenhando figuras compostas por riscos simples, irreconhecíveis para qualquer um que as visse. Mas a pior parte sem dúvidas foi o intervalo. As professoras descreveram como um momento divertido para os alunos socializarem, fazerem amizades e descontrair; e a descrição em si deixou Mike extremamente animado. O que deu errado foi a execução.

   Ele estava sozinho, e rapidamente descobriu que estaria por muito tempo. Uma garota um ano mais velha comentou sobre o quanto armado o cabelo de Mike, e ele realmente desejava sumir. Porque todos já pareciam ter feito amizades; algumas crianças aduziam até mais de um amigo, o que o deixava mais frustrado que deveria. Ele se esforçou para se distanciar dos garotos com rostos intimidadores, e acabou se encostando na parede perto dos professores. Mike nunca se sentiu tão vulnerável e inseguro. Ele sentia todos os olhares queimando sua pele, Michael faria questão de nunca voltar àquele pedaço de inferno.

   Enquanto deslizava seu olhar pela natureza morta que cobria todo o ambiente, ele não pôde deixar de notar o garoto que sentava-se sozinho no balanço. Mike se perguntou como ele conseguia se balançar; especialmente considerando que suas pernas curtas não alcançavam o chão. A segunda coisa que ele percebeu foi com certeza o quão pequeno ele era. Michael também notou o quão agradável se tornou encarar o garoto. Seus olhos eram verdes e grandes, seu cabelo refletia um tom de castanho claro e sua pele era talvez um pouco mais bronzeada que a de Mike. Ele também estava sozinho, e antes que pudesse se impedir, Michael seguiu em direção ao garoto, que ele mais tarde descobriu se chamar Will, ergueu sua mão já um pouco suada pelo nervosismo porque era assim que as pessoas se apresentavam na TV. Quando Will colocou sua mão na dele, Mike não tentou parar os arrepios que desceram por suas costas, de repente, ele se sentia no céu.

   "Meu nome é Michael, você quer ser meu amigo?" Ele perguntou, e a resposta, apesar do pessimismo de Mike, foi "sim". Ele se sentou no balanço ao lado, e conversou com Will pelo resto do intervalo. Nesse mesmo dia, Mike descobriu que os gostos do garotos não podiam ser mais similares aos seus; ele gostava de quadrinhos, Star Wars e depois de alguns momentos de insistência por parte de Mike, Will mostrou alguns desenhos em seu caderno para ele. Os desenhos eram provavelmente a coisa mais incrível que Michael poderia tocar em sua vida; além de é claro o autor dos mesmos. Ele decidiu por fim que o garoto não podia vir do mesmo planeta que ele veio, sua pele era macia demais, seus olhos eram profundos demais e ele era perfeito demais.
  
   Esse também foi o dia que ele passou a amar Will Byers.

Michael Wheeler não gosta de garotas [byler]Onde histórias criam vida. Descubra agora