– O que temos na nossa cola, Lun? Musak'li? – O capitão lhe leva até uma sala de comando. Era um lugar que finalmente lhe parecia com uma nave espacial de verdade, com cadeiras em formação de "v" invertido e telas de comando.
– Problemas, como sempre. – Lun estava à direita do centro, analisando uma tela de modelos em três dimensões. – Temos três naves inimigas se aproximando e obviamente alguns danos com os disparos que acertaram...
Mais uma vez a nave chacoalha, com um baque abafado.
Uma das cadeiras no final da formação se vira e revela uma criatura de olhos opacos, pele azul translúcida viscosa e quatro braços tentaculares, porém mãos humanoides. Era difícil ficar surpreso com seres não humanos, mas aquela tripulação parecia cada vez mais estranha, cada um de seu próprio jeito.
A criatura começa a se comunicar com o capitão, criando uma conversa em um idioma que não conhecia, mas se assemelhava a estalidos e rangidos mecânicos. Lang flutua até a cadeira do centro, agora gritando comandos na mesma língua.
Com mais um chacoalhar, Lun solta uma série de sons raivosos, porém inteligíveis e corre para outra extremidade do painel de comando, apertando vários botões luminosos. Um brilho azul se estende pela cabine e um campo de força cobre as grandes vidraças que davam visão para as estrelas.
- Humano! – Lun lhe chama atenção, dessa vez usando um idioma conhecido. – Sente-se e prepare-se para sua primeira fuga bem-sucedida!
Sem ter muito o que fazer, se movimenta com cuidado entre um solavanco e outro até uma das cadeiras mais próximas e se senta, atando os cintos de emergência. No assento ao seu lado, o último tripulante – um reptiliano com presas e garras compridas – lhe dirige um sorriso amedrontador e entra na gritaria de comandos com os outros três.
- Como assim usar a catapulta?! – Lun comentava nas duas línguas ao mesmo tempo, com duas vozes diferentes, o que era levemente confuso, mas também o centrando na conversa. – O empuxo?! Isso só deu certo uma vez!
Lang grita alguma coisa, mas dessa vez seus olhos brilhavam junto com o sorriso em seu rosto, então tinha certeza de que tomaria a decisão arriscada. Com algumas reclamações, todos os outros integrantes da tripulação apertam ao mesmo tempo um único botão em seus painéis e a nave começa a soar um alarme diferente, com uma contagem sincronizada em voz eletrônica.
Três
Dois
Um
O espaço fora da cabine começa a se distorcer e as luzes das estrelas viram um borrão. Sua pele começa a formigar enquanto o sangue parecia tentar descobrir para que lado deveria seguir com toda aquela velocidade. Para sua sorte, em alguns segundos tudo volta ao normal.
– E vocês dizendo que o empuxo não funcionava. Fugimos cem por centro bem! – Lang flutua para fora da cadeira, sorrindo enquanto tentava tirar o coque que havia parado em sua cara.
– Aham, com certeza. – Lun também se levanta, agora falando normalmente. Seu brilho normal passara de roxo para verde. – Me lembre de nunca mais aceitar seus planos de fuga, capitão.
Os outros dois tripulantes pareciam menor afetados, mas reclamavam avidamente enquanto saiam da sala de comando.
– Acho que foi uma ótima primeira fuga para você, heim? – Lang flutua até a cadeira em que estava, enquanto tentava desamarrar o cinto.
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Por baixo do paraíso
Science FictionMuitos anos após a destruição da Terra, os seres humanos remanescentes são tratados como escravos e trocados como mercadorias de luxo. Entretanto, um dos poucos escravos restantes é sequestrado e recebe a chance de viver ao lado de uma tripulação au...