Girls Talk

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Aquela era uma pergunta ao qual Jiwoo não estava pronta para responder, mas ao mesmo tempo ela sentia uma profunda necessidade de dividir algumas dúvidas. Precisava ser com alguém que não estivesse metida naquela confusão, alguém que pudesse dar opinião avaliando a situação de longe. Bem, alguém como sua irmãzinha mais nova. Respirou fundo. Fazia tempo que não podia respirar tão bem quanto ali, dava até pra sentir a maresia. Ou o que Jiwoo achava que era maresia.
-Eu estou fugindo. - Esperou uma reação surpresa da mais jovem, mas tudo que viu quando a olhou de soslaio foi um leve acenar de cabeça.
-Eu também estava fugindo quando vim pra cá, as pessoas fazem isso. - Deu de ombro e então a encarou. - Mas do que você fugiu, unnie?
-É complicado.
-Sempre é. - Chaewon continuou a olhando, como se esperasse a continuação. A morena suspirou.
-Estou tendo problemas com minha assistente virtual. - A de cabelo rosa levantou uma sobrancelha – Sim, você tava certa, é estranho ter alguém que cuida de cada passo seu. - As duas riram brevemente. - Eu vou tirar esse tempo pra pensar num jeito de resolver as coisas, meio que os problemas que ela tá dando não tem um manual pra resolver, mas eu não quero falar disso.
-Bom, sobre ser estranho, você nunca viu aquele filme clássico, Eu, robo?
-Não, mas deveria? - Perguntou séptica, o gosto de sua irmã para filmes era bastante duvidoso.
-Óbvio! - Elas riram. - Depois você procura pra olhar. E eu respeito que você não quer falar de problemas virtuais, você lida muito melhor com tecnologia, nada do que eu falasse ia resolver algo que você não conseguiu. - Riu fraco. - Mas... tem mais alguma coisa não, tem?
Sooyoung. Não disse o nome em voz alta, mas pensou.
-Hum, pelo silêncio não tem alguma coisa, mas alguém. - Jiwoo arregalou os olhos e a irmã riu. - Eu tava jogando verde e você se entregou. - Colocou um braço em volta do ombro da mais velha. - Sobre isso você quer conversar? - Negou com a cabeça.
-Não, mas eu queria saber... o que fez você querer estar num relacionamento, Chae?
Era uma dúvida comum na cabeça de Jiwoo. Ela demorou tanto para tentar gostar de alguém, e quando tentou – com Heejin – simplesmente não deu certo. Então, como é que as pessoas faziam isso? Gostar uma da outra, se apaixonar, e o mais difícil de tudo, ser mutuo.
-Ah Jiwoo, isso é inexplicável. - O sorriso era de uma sonhadora e naquele momento, a morena a invejou. Todos aqueles livros de romance e sentimentos humanos que já tinha lido, e ela nunca tinha sorrido daquela forma. Nunca sequer tinha visto alguém sorrir assim. - O que aconteceu comigo e com Hyunjin... eu não esperava sabe? Eu estava num bar, tomando um coquetel e escrevendo um artigo, quando um cara lindo, porém muito sério apareceu. Ele sentou do meu lado e nem me viu de primeira. Ele tava super estressado e eu pensei, nossa ele precisa de uma bebida. E eu comprei pra ele. A cara que ele vez de surpresa por eu ter pago uma bebida pra ele foi muito engraçada. - Ela riu com a memória. - E foi assim, sabe. A gente se olhou e aconteceu uma conexão. Não é com todo mundo assim, mas tem gente que se vê pela primeira vez e...
-É como se fosse feita pra você. - Completou. Ela não lembrava quando tinha visto Sooyoung pela primeira vez, provavelmente quando tinha trabalhado com a BBC antes, mas sabia que o motivo de Yves ser tão bonita era porque Jiwoo estava pensando na senhorita Ha quando descreveu suas características favoritas em uma pessoa. Chaewon encarou a irmã e a morena desviou o olhar. Sabia que a mais nova era ótima em ler as pessoas, ela sempre fora fechada, é verdade, mas era porque não precisava contar as coisas para menor, bastava a olhar. E naquele momento ela entendeu.
-Bom, eu sou a mais nova, mas nesse campo eu entendo um pouquinho melhor do que você. - Sorriu. - E eu digo Ji, se você tem uma conexão dessas com alguém, não deixa escapar. É muito raro nos dias de hoje.
...
Naquela noite, depois de conhecer o namorado da irmã e encher a barriga de carne – como não fazia a anos – Jiwoo decidiu duas coisas. A primeira, ela não iria assistir ao filme Eu, robô, até terminar o livro, que ela descobriu que existia quando procurava a película. Nas buscas pela internet, descobriu ser um livro muito antigo, mas que ainda servia para compreender o avanço da inteligência artificial. Talvez nele ela descobrisse alguma coisa útil sobre Yves. A segunda coisa foi que ela iria atrás de Sooyoung assim que retornasse a Seul. E no momento ela já não planejava passar um tempo longo fugindo mais.
O segundo dia em Sokcho foi marcado por mais trabalho. Montar a configuração do site, como ele seria mais agradável para quem quisesse mudar as roupas da sua Y.V.E.S, os penteados e etc. Sua irmã passou o dia trabalhando, então mal se viram, assim como o Hyunjin, que só chegara tardezinha. Também começou a ler o livro. O começo pouco lhe fez sentindo. Nem conseguia imaginar robôs que usassem óleo, o que tivessem um sistema tão simples. Mas ainda assim, a escrita era boa, e a história era envolvente, então resolveu dar uma chance. Se não fosse útil na questão de Yves, pelo menos fora divertido ler. E ela queria saber se algum robô já havia desrespeitado alguma das leis da robótica. Naquele dia o jantar havia sido muito mais em conta, omelete de ovo em pó. E mais uma vez um dia acabou.
Jiwoo teve outros dois dias assim. Acontece que o avanço do livro a deixou fascinada, mais confusa e com um pouco de medo. De fato, alguns robôs ao longo dos anos desenvolveram uma inteligência virtual que nenhum humano podia controlar. Eles eram superiores e se parecerem para pensar nisso... se desenvolvessem sentimentos, eles podiam chegar bem perto de ser humanos. Não, ser melhor do que os humanos. A morena sacudiu a cabeça enquanto bloqueava o celular e ia pegar o café que havia saído da cafeteira. Sua irmã tinha uma máquina de expresso em casa e isso era bem legal, a quantidade de cafeína no organismo da mais velha foi nas alturas nesses dias. Sobre o livro, ela tinha que colocar na cabeça que aquilo era só um livro, escrito em outra era, não queria dizer que era mesmo possível.
Escutou a porta abrir e sorriu ao ver sua irmã. Tinha ido se reunir com a editora, iam tomar algumas decisões sobre os próximos meses de trabalho em Sokcho.
-Como foi a reunião? Quer um café?
-Ah, eu quero café sim. - Tirou os sapatos ao entrar e pendurou a bolsa. - E foi boa, mas bem diferente do que eu tava planejando. - Suspirou pesadamente.
-Quer conversar sobre isso? - Disse lhe entregando uma xicara de café.
-Ah claro, eu vou ter que falar com você sobre isso e com o Hyunjin – Suspirou pesadamente.
-Ih, problemas? - A garota de cabelos rosa segurou a xicara e sentou na bancada.
-Depende. - Sacudiu a cabeça. - Quer dizer, eu sei que não tem problemas. Mas acho que a insegurança é normal.
-Desabafa Chaewon, você ta me matando de curiosidade.
-Eu recebi uma proposta de mudar a minha base. - Começou a falar. - Vou sair do país, ser correspondente pra revista do Japão.
-Uau! - Disse animada. - Isso é incrível, Chae e a sua cara. Você nunca foi feita pra ficar num lugar só. - Ela estava feliz pela irmã, viu que a mais nova estava feliz também, porém tinha alguma coisa a segurando. - Por que você não ta pulando de felicidade?
-Eu tenho que ir no final de semana pra Tokyo. - Olhou pro café nas mãos e em seguida olhou pra mais velha novamente. - E eu estou gostando tanto da nossa pequena rotina, eu queria mais tempo com você aqui em casa e com o Hyunjin.
E então ela entendeu, suas férias curtas acabaram de ser reduzidas. Em menos dias que planejava teria que voltar e enfrentar os problemas. Na verdade, esperava que a distância que tinha tomado de Yves resolvesse os problemas com a secretária. Tudo bem, ela ainda tinha dois dias pra se programar.

Y.V.E.S. - Your Virtual Expert Secretary  (Chuuves)Onde histórias criam vida. Descubra agora