Capítulo IV - Muralhas

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Anna Suzuki POVs

— Ei – chamei Tatsumi e ele virou um pouco a cabeça para me olhar – você acha que vamos sobreviver?
Duas semanas se passaram desde que tínhamos chegado ao QG do Reconhecimento e daqui cinco dias teríamos nossa primeira patrulha fora das muralhas.
— Hã? Você é idiota? É claro que sim!
— Como tem certeza? – perguntou Mine. Nós estávamos no telhado do QG olhando o céu, que naquela noite estava espacialmente estrelado.
— Bem, você sabe matar titãs à longa distância, a Anna é ótima com lâminas e eu sou pau pra toda obra, somos imbatíveis! – afirmou com um sorriso inocente no rosto.
— Eu estou começando a me perguntar se você tem mesmo 16 anos – disse com um sorriso ladino e ele revirou os olhos.
— Acho que ele tem cinco anos, Anna – Mine disse entre risos e eu estava sufocando uma risada. Tatsumi apertou a ponte do nariz e bufou.
— Isso que eu ganho por tentar animar vocês – disse com um suspiro indignado. Eu ri e soquei seu braço de leve.
— Nossa, como você é dramático – caçoei e ele revirou os olhos novamente.
— Aliás, de onde você conhece o Cabo Levi, Anna? – Tatsumi perguntou curioso.
— Ah, ele é um velho amigo meu do subterrâneo – respondi simples e voltei a olhar as estrelas, buscando achar uma constelação.
— Hã?! Como ele pode ser do subterrâneo?! – Tatsumi exclamou e logo baixou o tom de voz, percebendo que estava tarde e que nossos superiores poderiam nos escutar – Quero dizer, o subterrâneo provavelmente é o lugar mais sujo das muralhas, e o jeito que ele é obcecado por limpeza é bizarro.
— Desde que eu o conheço ele é assim – respondi e soltei um riso baixo – quando nos vimos pela primeira vez ele nem me deixou cumprimentá-lo, já que de acordo com ele "tanto eu quanto minhas roupas estavam imundas."
Tatsumi e Mine riram da minha afirmação e eu dei uma risada nostálgica lembrando do dia em que nos conhecemos.
— Como se conheceram? – Mine perguntou.
— Ele me salvou de um cara que queria fazer alguma coisa comigo – disse sincera.
— Como assim? O que o cara queria fazer? – Tatsumi perguntou, um pouco de preocupação em sua voz.
— Eu não sei, Levi o matou antes que eu conseguisse descobrir – respondi calmamente e eles arregalaram os olhos.
— E-esse cara é mesmo assustador – Tatsumi comentou e eu ri baixo mais uma vez.
— Ah, tem uma coisa que eu queria pedir pra vocês – Mine se pronunciou e eu e Tatsumi a olhamos.
— Fala – Tatsumi encorajou.
— Bem, é que se nós sobrevivermos...
— O que com certeza vai acontecer... – Tatsumi a interrompeu.
— Continuando, se vocês não morrerem e eu morrer...
— Até parece que eu ia deixar...
— Cala a merda da boca, Tatsumi! – Mine disse irritada e ele recuou com um sorriso divertido no rosto.
— Ok, ok, pode falar agora – ele cedeu enquanto coçava levemente a nuca.
— Enfim, eu queria que vocês vissem o mar por mim – ela disse e eu franzi o cenho. Tinha escutado essa palavra antes, mas não sabia ao certo o que era – li algumas coisas sobre, e parece que é como um lago, só que salgado e infinito – ela tinha um brilho inocente nos olhos e eu sorri com isso.
— Como pode ser infinito? – Tatsumi perguntou, uma curiosidade meio idiota em sua voz.
— Idiota! É por isso que eu quero que vocês vejam, pra saber se é mesmo infinito – ela disse emburrada e eu ri baixinho.
— Bem, de qualquer jeito, se for pra ver essa coisa aí, veremos juntos - disse com certeza. Talvez eu estivesse sendo ingênua, mas eu realmente queria que nós três sobrevivessemos e vissemos o "mar".
— É assim que se fala! – Tatsumi disse com um brilho no olhar que deixava seus olhos ainda mais verdes.
— É! – Mine concordou e eu sorri para eles em resposta.
— Bem, já está ficando bem tarde, acho melhor irmos dormir – afirmei e eles assentiram – boa noite, Tatsumi.
— Boa noite, meninas – disse e se dirigiu a outra ponta do telhado, que provavelmente tinha uma janela que dava para o dormitório dos meninos.
Eu e Mine entramos no nosso quarto pela janela e logo dormimos.
Essa seria uma longa semana.

[...]

Faltavam dois dias para a expedição e eu realmente precisava falar com Levi.
Saí correndo pelos corredores do quartel até que, ao dobrar um corredor, esbarrei em alguém, pouca coisa mais alto que eu. Eu e essa pessoa caímos para trás, grunhi um pouco com o impacto das minhas costas no chão.
— Quer morrer, idiota? – porra, de todas as pessoas pra esbarrar tinha que ser justo ele? De qualquer jeito, ele já estava aqui então facilitava meu trabalho – Quer limpar os estábulos por mais uma semana, pirralha? – disse me olhando sombriamente enquanto levantava e eu amarrei a cara.
— Ah, mas não mesmo, seu... – me controlei e resolvi não começar uma discussão por nada – esquece, não é por isso que estou aqui, eu preciso falar com você, Levi – disse já de pé.
— Sobre...? – perguntou, o tédio era nítido em seu rosto e sua voz, mas, como eu o conhecia faz tempo, eu sabia que ele queria saber do que se tratava.
— Mine – disse e ele passou a me olhar atento – como você sabe, nós do subterrâneo temos problemas com os ossos por não termos muito contato com o Sol.
— Não veio aqui pra me dizer coisas que eu já sei – disse sério e eu o olhei com a mesma seriedade – vá direto ao ponto.
— A família dela já tem uma genética propensa ao enfraquecimento dos ossos, a falta de Sol durante 16 anos só agravou tudo. Recentemente o remédio dela acabou e, para ela participar da expedição, ela precisa tomar esse remédio urgentemente – expliquei e vi ele apertar a ponte do nariz e suspirar.
— Vou providenciar, qual o nome do remédio?
— Calcitin, faz com que ela consiga usar as pernas e os braços normalmente – expliquei e ele assentiu.
— Obrigado pela informação, Anna – agradeceu e se retirou.
Logo chegou a hora do almoço e eu fui me sentar com Tatsumi, Mine e alguns amigos que eu tinha feito.
— Boa tarde, Anna – Naomi disse e eu sorri para ela. Ela tinha os olhos tão azuis que poderiam ser comparados com o céu lá fora, e o cabelo dela era tão escuro e a pele tão pálida que formavam um contraste absurdamente incrível.
— Oi – Kuro cumprimentou. Ele era tímido e tinha olhos castanhos e cabelo castanho grosso e cacheado.
— Boa tarde – Hide disse com um sorriso divertido no rosto. Típico loiro de olhos azuis, ele era engraçado mas nem tanto.
— Boa tarde, pessoal – cumprimentei e sorri gentilmente. Peguei um pão, queijo e um pouco de água. Eu estava com tanta fome.
Começamos a conversar sobre alguns assuntos banais. A conversa teria durado muito mais se não tivessemos todos pulado de susto com um Levi gritando.
— EI, PIRRALHOS, TREINO EM CINCO MINUTOS, SE CHEGAREM ATRASADOS LIMPARÃO OS ESTÁBULOS POR UM MÊS!!! – como ele conseguia ser tão baixo e gritar tão alto?
Fomos para fora do quartel e treinamos combate corpo a corpo. Derrubei Mine algumas vezes e troquei de parceiro. Acabei lutando com Tatsumi e o derrubei duas vezes.
— Faz um esforço, olho verde, pensa antes de atacar – encorajei e ele me olhou concentrado.
Ele veio em minha direção, buscando acertar um soco em meu ombro. Assim que desviei, ele girou o corpo e levantou a perna esquerda, pronto para me dar um chute nos ombros. Empurrei sua perna para baixo, fazendo ele ficar de joelhos.
Ele tentou acertar um soco no meu estômago, mas eu segurei seu punho, o impedindo. Quando eu achei que tudo estava resolvido, ele puxou meu braço, me fazendo cair de joelhos.

"Me pegou de surpresa, olho verde."

Ele me empurrou, fazendo eu ficar com as costas coladas no chão e ele por cima de mim. Ah, mas não mesmo, olho verde.
Virei ele para o lado e inverti as posições, eu estava por cima agora, sentada na barriga dele. Agarrei seu colarinho com minha mão esquerda e flexionei meu braço direito até meu punho direito estar apontado para seu rosto. Ele afrouxou os músculos e suspirou derrotado.
Sorri vitoriosa, saí de cima dele e me levantei. Ele se levantou também e trincou o maxilar.
— Não fica assim, olho verde – dei um leve soco em seu braço – você me pegou de surpresa, quase não consegui te vencer – disse sorrindo.
Ele sorriu fraco pra mim e foi atrás de Mine para poder treinar com ela.
Já que eu não tinha um parceiro agora, resolvi me sentar um pouco e enxugar o suor que escorria por minha testa.
Não conseguia parar de pensar na expedição. Eu não tinha certeza de nada, não sabia se eu sobreviveria, não sabia se meus amigos sobreviveriam. Eu não tinha a mínima noção de nada e isso era frustrante.
— Ei, idiota – por que sempre que eu estou sossegada ele aparece? – por que não está treinando?
— Não tenho parceiro e estou cansada – respondi enquanto colocava meus braços para trás e me apoiava neles.
— Venha, vamos treinar – disse e se afastou um pouco. Me levantei num impulso só e me coloquei em posição de combate.
É claro que ele me derrubou todas as vezes, eu era boa, muito boa, mas ele era incrível. Bem, eu cheguei bem perto de derrubá-lo algumas vezes.
— DISPENSADOS!!! – Levi gritou e eu senti meus tímpanos estourarem.
— Já deve ser a segunda vez que eu fico surda só hoje – murmurei irritada e comecei a sair dali junto com os outros Cadetes.

Você não, Cadete Suzuki – Levi disse e eu me virei para encará-lo.
— O que foi? – perguntei assim que todos os outros Cadetes já tinham saído, não queria ficar enrolando ali.
— Sabe, o remédio que você me falou pra pegar é bem caro... me pergunto como vocês tiveram acesso a isso sendo que essas coisas nem chegam no subterrâneo – disse, a voz carregada de tédio e ironia.
— Uma vez um médico rico foi para lá, talvez ele quisesse se promover ou mostrar que ele poderia ajudar a todos – comecei a explicar – mas o jeito como ele tratava a todos nós era de dar raiva. Mine tentou uma consulta com ele e ele a tratou como se ela fosse a merda de um animal selvagem – disse, meus dentes estavam um contra o outro, rangendo de ódio.
"Eu fiquei louca e, de noite, quando ele estava já tinha feito as malas e também espalhado sua propaganda de que ele ajudava até os que não tinham condições, eu roubei todos os remédios para ossos dele. Metade ficou comigo e com Mine e a outra metade eu dei para uma amiga minha que tinha o mesmo problema."
— Entendo – ele se pronunciou e eu suspirei – aproveite esses dois dias, Anna, não vai ser a mesma coisa depois.
— Como assim?
— Da última vez que saímos das muralhas, perdemos 50% do esquadrão – ele informou e eu congelei – acho que você e seus amigos podem sobreviver, mas mortes são praticamente inevitáveis – avisou e eu senti meu corpo tensionar ainda mais.

"Não vai ser a mesma coisa depois."

As palavras dele ressoavam em minha mente e eu não parava de pensar nelas e em uma outra pergunta que se seguia a essa frase.
— Ei, não pense demais – Levi falou com a sua expressão de tédio de sempre – eu falei pra você aproveitar, idiota.
Revirei os olhos e sorri de lado, mas ainda assim, a mesma pergunta ecoava em minha mente.

"Será que eu vou conseguir protegê-los se eles precisarem?"


















































































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A imagem do capítulo é a Anna, tá?
Espero que tenham gostado 💞💫

Suddenly LeviOnde histórias criam vida. Descubra agora