Capítulo 1 – ST'Mungus
Harry odiava estar naquele lugar, a primeira vez que fora ali o senhor Weasley estava machucado pelo ataque da cobra no Ministério. Fora difícil ver o homem em cima da cama, com ataduras no pescoço e muitos vidros de poções ao lado. Já naquela época Harry odiara aquele ambiente, pois o sofrimento de muitos pacientes e familiares era palpável. Agora estar ali era simplesmente cruel. Seis meses se passaram desde que Voldemort atacara Hogwarts e com muito custo morrera no salão principal, e aquele hospital ainda mantinha-se lotado com os sobreviventes da guerra. Os ferimentos eram diversos, desde os mais leves como um braço quebrado até pacientes em coma sem previsão de retorno.
Apesar de odiar estar ali, era obrigação daquele que matou Você-Sabe-Quem visitar os sobreviventes e dar-lhes uma luz enquanto se recuperavam. Harry queria dizer que não podia ajudar aquelas pessoas, que ele não era medibruxo, mas não era possível, além do Ministério estar em cima para que cumprisse esse serviço, tinha os próprios pacientes que o olhavam como se fosse a cura de todos os seus problemas.
Era cansativo.
Ainda assim Harry ia ao ST'Mungus a cada quinze dias há seis meses. E assim como fazia em todas as visitas, quando acabava, ia visitar os pais de Neville. Os Longbottom estavam da mesma forma que os viu na primeira vez e assim como na primeira vez Neville estava ali conversando com os pais.
- Olá Neville. – Disse Harry se aproximando.
- Ah! Olá Harry, tudo bem?
- Tudo sim e com você?
- Tô na mesma também. – Respondeu Neville levantando e caminhando até a janela com Harry para poderem conversar. – E Rony e Hermione?
- Hermione ainda está com os pais, mas logo ela volta para completar o sétimo ano junto com a Gina. O Rony está na loja com o George, mas depois fará o curso de auror junto comigo.
- Legal, vocês se darão bem como auror.
- Você também. – Disse Harry lembrando-se da resistência que Neville montou em Hogwarts.
- Não, não, não sou como vocês que encaram tudo, prefiro ficar mais tranquilo, farei curso para virar professor de Herbologia em Hogwarts, a professora Sprout quer se aposentar logo e a McGonagall disse que posso ser estagiário lá até me tornar professor.
- Fico feliz por você Neville. Você merece.
- Vovó não ficou muito feliz, queria que eu fosse auror, mas não implicou muito porque sabe que farei o necessário quando preciso.
- Com certeza que fará. Eu vou indo Neville, foi bom te ver.
- Foi bom te ver também Harry, até mais.
Harry apertou a mão de Neville, deu-lhe um rápido abraço e saiu caminhando em direção a saída quando percebeu que haviam diversos jornalistas o aguardando. Devagar Harry recuou e voltou para o corredor onde estava antes. Parou por um momento para pensar se havia alguma outra saída do hospital. Não encontrando uma resposta resolveu ir pela escada de emergência, ela daria em algum lugar. Amaldiçoou ST'Mungus por não permitir desaparatar no prédio. Rapidamente subiu pelas escadas escuras usando sua varinha para iluminar o caminho. Seus passos constantes só pararam quando a luz da varinha passou por uma porta entre dois lances de escadas, Harry parou a subida e voltou a luz para a porta onde se lia que a entrada era permitida apenas para pessoas autorizadas. Ele não era uma pessoa autorizada, nem mesmo deveria estar naquele lugar, mas aquela era a única porta que apareceu entre os lances. Era com certeza algum segredo que não poderia ser acessado por pacientes ou visitantes. Harry odiava segredos e mais ainda a enorme vontade que seu corpo tinha de se por em movimento até tocar a maçaneta e abrir a porta.
Em sua mente Harry rezava para que não tivesse ninguém do hospital naquele lugar, pois seria bem difícil explicar porque estava ali e mais difícil ainda tentar se passar por um estagiário de medibruxaria vestindo tênis, jeans e blusa de zíper, pois essa era a desculpa pronta em sua cabeça. Hermione sempre lhe dissera para comprar roupas novas e mais sociais, talvez devesse dar ouvidos a menina. Ao caminhar pelo corredor a qual a porta dava acesso percebeu que não havia nenhum responsável naquele lugar, o que o deixou mais tranquilo. Guardou a varinha no bolso e seguiu em frente passando os dedos pela parede branca, seus olhos ardiam um pouco por causa da luz, mas ainda assim Harry os mantinha completamente abertos.
Era tão estranho, sabia que não deveria estar ali, que nada que ali houvesse era de seu respeito, porém não conseguia recuar, havia algo naquele corredor que o chamava fazendo ir cada vez mais adiante. Tentou imaginar porque sentia isso, mas não conseguia encontrar a resposta.
No final do corredor haviam duas portas, uma de frente para a outra, ambas brancas e sem inscrições ou indicações. Harry estava prestes a continuar a exploração quando ouviu o barulho da porta de entrada abrindo, imediatamente voltou-se para uma das portas brancas e entrou no local tomando um choque pela escuridão. Apagou a varinha e aguardou ouvindo os passos no corredor se aproximarem, por um momento segurou a varinha com mais firmeza só aguardando, mas logo percebeu não ser necessário visto que os passos foram retos e sumiram. Soltou o ar dos pulmões e abriu um sorriso enquanto pensava como era um idiota que só se colocava em riscos por sua enorme curiosidade.
Estava prestes a ir embora quando congelou no mesmo lugar com uma mão na maçaneta e outra na varinha. Congelara devido a voz que lhe falara.
- Potter.
Harry sentiu o coração acelerar, as mãos suarem e a espinha arrepiar. Não era medo, era algo a mais, pois não deveria ouvir aquela voz, ela e seu dono morreram há meses, ele vira sua morte, sujou a mão com o sangue dele, viu a vida se esvair de seus olhos, e depois lamentou seu falecimento, sentiu a perda e o luto.
Não deveria ouvir a voz dele.
Devagar se voltou para o quarto afastando-se da porta. Não havia uma nesga de luz, tudo estava em completa escuridão, mas agora que estava prestando atenção conseguia ouvir a respiração irregular, parecia cansada e fraca, mas constante e perto. Não podia negar, havia um medo profundo em sua alma. Ele estava morto.
Estava morto.
No entanto estava ali também, a luz da varinha atingiu o rosto pálido e moribundo, mostrou-lhe a decadência da pele murcha, as gotas de suor escorrendo-lhe pelas bochechas fundas. Harry levou a mão a boca ao compreender a cena, ao reconhecer os cabelos negros grudados na testa, o nariz adunco parecendo muito maior perante a magreza, mas o pior eram os olhos, duas pedras de carvão, tuneis fundos e sem fim, olhos antes duros e secos, desprovidos de sentimentos e que agora, sobre as sombras das olheiras fundas, lhe direcionavam uma coisa que Harry jamais imaginou ver.
Um pedido de ajuda.

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A vida depois de você (Snarry)
Storie d'amoreSeis meses após a grande guerra bruxa Harry encontra Snape em um estado deplorável e agora cabe ao jovem bruxo ajudar o ex comensal a se recuperar de todos os traumas que passara.