Capítulo 2 - Vontades estranhas

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Capítulo 2 – Vontades estranhas

Passado o susto, Harry se aproximou e o olhou mais de perto. O homem ali deitado era Snape, o homem que fizera seus anos escolares um inferno, mas era também um ser subjugado pelo Ministério, jogado a própria sorte em cima de uma maca escondido em uma sala secreta do ST'Mungus. Estava muito mais magro do que jamais vira na vida, suas vestes negras agora traziam manchas esbranquiçadas como se tivesse vomitado nelas e deixara secar sozinho. Estava fedido, sujo e abandonado.

- O que fizeram com o senhor?

A pergunta não foi respondida pelo homem que apenas ergueu a mão em direção ao pescoço. Harry apontou a varinha e viu as ataduras amarradas e encharcadas de sangue. Lembrou-se daquele dia maldito, da guerra, das mortes, lembrou-se do homem moribundo que morria diante de si com o veneno da cobra a passar pelo seu corpo. Se o resgataram, por que ainda estava com tal ferimento depois de tantos meses? Por que não se curara e mais ainda por que estava naquele estado? Não houve tempo para pensar na resposta.

- Quem é o senhor? – Perguntou uma voz grossa atrás de Harry. – O que faz aqui?

Harry sabia que havia uma varinha apontada para suas costas e que se virasse rápido demais e com a varinha em mãos acabaria sendo estuporado antes de conseguir se explicar. Não gostava muito de usar sua imagem para conseguir as coisas, mas essa era uma hora em que agradecia por ser quem era. Devagar levantou as duas mãos acima da cabeça e virou-se. A varinha apontada estava nas mãos de um medibruxo um pouco mais velho que ele, não parecia experiente em combate, ainda assim Harry aguardou pelo momento da descoberta de sua cicatriz. Logo viu os olhos do medibruxo descer da mão no alto segurando a varinha para seu rosto e então parar na cicatriz em sua testa. Um rubor apareceu no rosto do rapaz assim que compreendeu quem estava a sua frente e até afrouxou um pouco a mão, mas não baixou a varinha. Harry aproveitou para abaixar os braços.

- Senhor Potter, o que faz aqui? Essa é uma área restrita.

- Entrei por engano ao procurar uma saída discreta, não queria ser fotografado na entrada principal.

- Ah, entendo, realmente está sempre cheio de repórteres do Profeta Diário lá na frente procurando alguém famoso para entrevistar. Outro dia o senhor Longbottom quase não conseguiu sair, foi uma loucura.

- Eu imagino.

- E com o senhor então, nossa, seria horrível, eles voariam para cima do senhor e...

- Sim, eu sei, seria um circo, mas isso no momento não me interessa. – Disse Harry interrompendo o medibruxo. – O que me importa agora é saber o que esse homem está fazendo aqui. – Apontou para a maca onde Snape estava deitado fazendo força para respirar.

O medibruxo olhou para Snape e Harry se surpreendeu ao não ver surpresa ou qualquer coisa que indicasse que aquele homem a sua frente se impressionara com a imagem de alguém em tal estado. Era como se estivesse tão acostumado que se tornara uma imagem comum em seu dia a dia. Em sua cabeça os pensamentos ferviam em contradição.

- Ora, ele é um comensal da morte. – Disse o medibruxo como se aquilo explicasse tudo.

- Isso eu já sei. – Respondeu Harry, seus olhos se estreitando e seus dedos tremendo com a vontade de apertar o cabo da varinha e apontar para o medibruxo. Sim, Snape era um comensal e provavelmente ninguém no mundo saberá ao certo quantas pessoas ele já matara ou torturara a pedido de Voldemort. Sim, ele era um homem amargurado e cruel com seus alunos. Mas era um humano também, um bruxo que sacrificara a própria liberdade em pró de cuidar do filho do seu maior inimigo. - Quero saber o que ele está fazendo aqui nesse lugar abandonado? Por que ele está todo sujo e por que o ferimento da Nagini ainda não fechou?

A vida depois de você (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora