[02] Vou tentar

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* Yoongi on

Eu não aguentava mais essa angústia dentro de mim. A culpa e medo me consumiam cada vez mais. Como em câmera lenta e no repeat, a cena do carro em alta velocidade a acertando em cheio passava em minha mente.

*flashback on

- vamos Marina?- estendi minha mão em sua direção e ela a pegou entrelaçando nossos dedos. Nos despedimos da moça simpática do café e fomos andando olhando as vitrines das lojas e o movimento caótico da cidade. Marina tinha descoberto a pouco tempo que estava grávida. Foi um choque para nós dois, mas aos poucos e com muita conversa, nos acostumamos com a ideia.

Eu estava planejando pedir sua mão em casamento no final de semana. Já estava tudo pronto. Marina desconfiava de mim pela minha mudança de comportamento. Eu estava nervoso e ansioso e ela sempre me perguntava o que estava acontecendo e eu sempre mudava de assunto.

Vi uma barraquinha com flores e decidi comprar um buquê pequeno com as flores que ela mais gostava. Paguei a moça e me virei para entregar o pequeno buquê, mas assim que vi o que estava prestes a acontecer, eu simplesmente congelei, fazendo o buquê cair e meus olhos serem tomados pelas lágrimas.

Marina tinha corrido para a rua. Uma criança de mais ou menos dois anos, começou a atravessar a rua. O sinal estava aberto e não tinha nenhum sinal dos pais dessa criança por perto. Marina conseguiu puxá-lá pelo braço e a empurrar para a calçada, mas o carro não freiou.

Marina foi arremessada para longe, e seu corpo rolou várias vezes pelo chão. Perdi o ar e as forças em minha pernas. Minha boca formava um "O", mas não saía som algum.
O carro fugiu, levando várias pessoas a tentarem anotar a placa, mas o carro era novo e estava sem identificação. Corri em direção de Marina e me ajoelhei ao seu lado.
- Marina? Marina por favor, fala comigo. - eu comecei a chamá-la dando leves batidinhas em seu rosto. Ela sangrava muito, o que me levou a pensar no pior. Sua cabeça estava com um enorme corte. Seus braços e seu rosto estavam ralados. Os bombeiros chegaram, e a colocaram na maca correndo com máscaras de oxigênio e checando seu pescoço e pulso.

*flashback off

O barulho sem fim do "beap" da máquina que media seus batimentos cardíacos estava cada vez mais lento. Eu estava à dois dias ao seu lado esperando algum sinal, mas ela simplesmente não reagia a nada.

- Marina, por favor. Acorda.- eu pedia incansavelmente encarando seu rosto pálido. Encostei minha testa no colchão, abaixando minha cabeça. Eu não aguentava mais o seu silêncio.
- Yoongi?- escutei sua voz rouca me chamar.
- Marina. Ta tudo bem, você vai ficar bem.- eu disse vendo o seu pânico estampado em seu olhar.
- Yoongi, eu perdi o nosso filho.- ela disse com os olhos marejados. Os médicos disseram que o aborto ocorreu realmente, mas eu não queria dar essa notícia em definitivo para ela agora. Eu neguei com a cabeça e sorri.
- Não Marina, está tudo bem.
- não Yoongi, não está, eu sei disso, eu sinto.- ela levou sua mão fraca ao seu ventre e o acariciou.- Yoongi. Olhe para mim.- eu a encarei nos olhos e vi suas lágrimas rolagem uma atrás da outra.- amor, eu quero que você saiba que eu te amo muito. Eu fui a mulher mais feliz do mundo ao seu lado. Foram tantas coisas vividas que mal sei enumerar. Você é um cara que toda menina quer ter como namorado e esposo.
- porque você está dizendo isso agora Marina?- perguntei com a voz embargada.
- Yoongi, eu quero que você me prometa uma coisa.
- o que?
- eu quero que você siga em frente com sua vida. Não deixe com que eu te atrapalhe. Você vai escontrar alguém melhor do que eu- sua respiração acelerou e seus batimentos cardíacos também. Seu choro aumentou e sua voz era desesperada.
- Marina..- neguei com a cabeça.
- promete pra mim que você vai seguir com sua vida. Promete pra mim.
- eu prometo meu amor.- ela sorriu.
- eu te amo.- um barulho irritante foi ecoado no quarto. A máquina que antes tinha várias ondas com seus batimentos, agora possuía uma linha reta. Seus olhos se fecharam e seu sorriso foi desaparecendo aos poucos.
- Marina? Marina por favor não. MARINA, NÃO.- a sacudi pelos ombros mas ela não reagia.

Os médicos entraram na sala e alguns enfermeiros me colocaram para fora. Corri para o vidro e vi o desfibrilador em contado com seu peito. Suas costas se arqueando. Massagem cardíaca. Várias e várias tentativas e nada.
Um médico saiu do quarto de cabeça baixa. Fui em sua direção e o olhei nos olhos.
- eu sinto muito.- ele colocou sua mão em meu ombro tentando me confortar.
Ela havia me deixado.
- nós iremos retirar os seus órgãos para o banco de doação. Foi um pedido dos pais dela.- o médico disse
- não, não podem fazer isso. Tentem de novo. Tragam-na de volta para mim.
- Sr. Min, eu sinto muito, mas nós temos a autorização dos responsáveis por ela e nós vamos fazer. Se me der licença.- o médico disse e saiu de cabeça baixa pelo enorme corredor do hospital.

Seu funeral foi no dia seguinte. Todos os seus amigos e familiares estavam presentes. Os meninos vieram me dar apoio nesse momento tão difícil em minha vida.
Todos já haviam saído do cemitério e eu fiquei para trás. Me sentei em frente a sua recém feita lápide e deixei com que as últimas lágrimas que ainda restavam em mim saíssem.

- Marina, eu sei que você pode me escutar da onde você está. Eu não sei se consigo seguir em frente como eu te prometi. Está tudo tão confuso em minha cabeça. Eu não sei mais o que fazer ou pensar. Como eu vou viver sem você? o que vai ser de mim sem você?- o tempo fechou e logo uma chuva forte começou a cair. - Marina, eu vou tentar por você. Eu vou tentar seguir. Eu prometo.- me levantei e andei até meu carro.

Agora tudo seria diferente. A vida não tinha mais graça pra mim.
Mas por ela, somente por ela, eu resolvi tentar.
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Butterfly | M.Y | Onde histórias criam vida. Descubra agora