Capítulo 24

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Eu estava intensamente quente.

Aquecida em sensações confortantes que, até noite passada, fazia tempo que eu não experimentava. E por mais que eu estivesse plena com isso, uma parte do meu consciente sabia que aquilo vinha com algumas consequências.

Talvez eu não quisesse encará-las agora.

Por isso, meu cérebro entrou em um estado de inercia por um tempo, mantive meus olhos fechados apenas para me situar nos efeitos que acordavam meu corpo pouco a pouco. Era o primeiro estágio para despertar, como se eu estivesse presa em um pequeno sonho, mas ainda tinha consciência das externalidades. Minha cabeça foi a primeira a sentir, estava pesada, existia uma pontada em minha nuca que era a exata sensação de ressaca. O que era engraçado, porque meu corpo se sentia excepcional.

O lençol cobria minha pele como seda, todos os toques da noite passada pareceram explodir na minha corrente sanguínea revivendo cada momento, cada fragmento de desejo. Meu corpo se encolheu um pouco apertando e mantendo aquela sensação. Em minha consciência, um pequeno sorriso se abriu quando inspirei fundo e o perfume de Valentina atingiu meu corpo.

Valentina.

A batida em minha imaginação me trouxe a realidade. Logo meus olhos pareciam cobertos de areia e eu tive receio de abri-los. Quando acordei, aquela sensação quente foi substituída por um frio momentâneo, um espaço vazio ao meu redor que deixou uma fina linha gelada em minha espinha. Quando abri meus olhos e corri-os pelo quarto, logo percebi uma figura fora da cama. Automaticamente soltei um suspiro de alívio.

Valentina usava uma camisa xadrez azul, nada mais por baixo, estava encarando o espelho. Eu inclino meu corpo sobre as mãos para observá-la enquanto seus olhos se batem com o meu através do reflexo.

Na última noite, alguma coisa mudou. Saímos para uma despedida de solteira, bebidas, brigas e ironias e ao longo do caminho, quando eu decidi beijá-la, a chave foi substituída por um ponto de interrogação vermelho gigante. Eu não sei o que somos nesse momento, mas eu tenho certeza do pequeno sorriso que Valentina joga em minha direção e aquece meu peito com algo similar a uma chama. Acesa e crescente.

"Hey". Ela sussurra docemente e vira lentamente para me encarar.

Eu estou um pouco fora de mim mesma, sem saber como reagir, mas é inevitável retribuir, mesmo que o meu sorriso seja um pouco tímido e indeciso.

"Eu vou preparar um café". Ela se apoia sobre a cômoda. "Eu acho que sua escova de dentes ainda está no banheiro".

Por algum instinto idiota, eu aperto o lençol um pouco mais forte em meu corpo e apenas aceno com a cabeça. Valentina parece estar confortável, na sua bolha brilhante e transparente e quando ela se vira para sair eu encontro minha voz para chamá-la.

"Val..."

Ela interrompe e vira para me encarar. Por um breve segundo eu não sei o que dizer, apenas não quero que ela passe pela porta. Era um medo bobo, mas eu tinha a impressão que se ela saísse do quarto nós voltaríamos à estaca zero. E mesmo que meu olhar esteja se desviando, ela está firme, vindo em minha direção e se sentando na ponta da cama para estar ao meu lado. Por um momento eu encaro seus cabelos desajeitados, os primeiros botões da camisa abertos expondo sua pele corada. Seu cheiro matinal está me invadindo com mais força e eu chego a ficar tonta. Tudo parece novo e fora do ar.

"Nós... estamos bem?" Minha voz é falha e insegura.

Ela sorri um pouco desapontada com a minha pergunta, eu não sei o que ela esperava, mas mesmo assim seus ombros relaxarem um pouco.

Quisiera Ser - JuliantinaOnde histórias criam vida. Descubra agora