Cartas Para Lua | taekook

VII. juntos

Talvez fosse apenas um daqueles sonhos realistas demais onde você acorda assustado e com lágrimas nos olhos. Talvez fosse apenas uma lembrança recriada pelas forças atuais. Talvez fosse uma ilusão doce e venenosa, apenas aguardando o momento para se desfazer.

Talvez não fosse nada.

Taehyung não deixou de pensar em cada uma das alternativas enquanto abraçava Jeongguk. Era ele? Ali em seus braços, chorando com pesar e fazendo seu coração apertar em desejo de apenas consolá-lo? Ainda era estranhamente surreal.

Uma oportunidade que o universo devolvera por ter tirado o mais novo de perto de si quando crianças? O Destino seria assim tão bom?

Engoliu o choro e suspirou, colocando o ar preso para fora. Acariciou a costa de Jeon com cuidado e receio, acalmando as batidas apenas minimamente quando ele pareceu receber muito bem o carinho.

- Está tudo bem - murmurou, meio aliviado, meio tenso. Estava tentando por às coisas em ordem na sua cabeça, mas ver o outro não cessar o choro era difícil. - Ei, é sério, já passou.

- Não passou - Jeon fungou enquanto machucava as mãos com as unhas curtas. Nem mesmo havia tocado Taehyung. Pensava que, agora que o ruivo realmente sabia quem ele era, poderia ser questão de tempo para que fosse embora e evitasse falar consigo. Até mesmo entenderia se isso acontecesse. Prometera algo e no fim, não cumprira.

- Por que diz isso? - Taehyung indagou, seus dedos se infiltraram nas mexas de Jeongguk, tomando-as com gentileza. Estava tentando de todos os modos acalmar o mais novo.

- Eu não pude voltar... - Jeongguk levantou as mãos e limpou as lágrimas, o rosto encarando o soalho tão próximo. Encare-o, sua racionalidade pedia, cobrando por ser tão medroso. - Me desculpe...

- Eu já disse que está tudo bem, Jeongguk - o ruivo falou baixo, se afastando um pouco do outro. - Olhe para mim.

- Não posso - Jeongguk mordeu o interior da bochecha, sentindo as mãos de Taehyung tocarem cada uma delas.

Sentiu o rosto ser levantado com cuidado, obrigando-o a encarar o ruivo a sua frente. Algumas lágrimas salientes voltaram a circular pelas bochechas um tanto ruborizadas, e Jungkook confirmou para si mesmo: seu corpo cederia toda as vezes que Taehyung fosse tão gentil mesmo quando deveria cobrá-lo por tantas coisas.

- Pode e deve - Taehyung observou com cuidado os olhos vermelhos pelo choro. Jeongguk havia realmente crescido, mas continuaria sendo seu pequeno dongsaeng. - Viu, não foi tão difícil - brincou, e o sorriso que o outro não conseguira conter para si serviu por todo o esforço.

- Por favor, não me deixa - pediu baixinho, criando coragem suficiente para levar uma das mãos até a bochecha do ruivo e tocar ali, deslizando com calma e apreciando a tez do mais velho. Taehyung fazia seu coração bater acelerado demais, e mesmo que soubesse no fundo que aquilo era bem mais que saudade, manteve-se apenas com o toque singelo.

- Tem certeza que não sou eu que deveria dizer isso? - o ruivo indagou com um riso contido, apreciando a mão que se direcionara para suas madeixas ruivas e puxaram sem muita força ali. Percebeu bem o corpo ser sutilmente puxado para frente, e não era como se não estivesse contribuindo para aquilo.

A dúvida pareceu retornar vivida e harmônica para dentro de seus pensamentos. O beijo de Jeongguk ainda teria o mesmo gosto? Por que suas batidas continuavam desenfreadas mesmo tentando manter a calma?

Não percebeu direito quando fechou os olhos ou quando o aperto em seus cabelos ficou um pouco mais forte. Só saberia dizer que um peso inimaginável escorregou de seus ombros.

Jungkook apenas deslizara sem intensidade os lábios nos de Taehyung, evitando assustá-lo com a surpresa súbita demais. Pediu passagem para que pudesse ter apenas um pouco mais dos lábios alheios, não demorando para ser atendido.

O ruivo estava o deixando desconcertado com tão pouco! Nem conseguia contabilizar o tamanho da saudade que sentia sendo exposta naquele pequeno ato.

Sentiu a mão de Taehyung concentrar em sua nuca, impedindo que se afastasse - mesmo que aquilo estivesse longe de ser algo que desejasse.

Taehyung se afastou minimamente quando o ar pareceu ficar mais difícil de ser inalado, puxando-o com força. Não fora muito ao contrário de Jeongguk, que selou novamente os lábios aos do ruivo, apenas momentaneamente.

- Senti sua falta - Taehyung confessou enquanto mantinha o rosto do mais novo próximo ao seu.

- Eu tentei voltar, hyung. Eu realmente tentei - suspirou, fitando as orbes do ruivo. - Só não consegui.

- Não precisa me convencer de nada agora - falou baixo. - Só não quero passar por tudo aquilo de novo.

- Não. Nunca mais - Jeongguk puxou o ruivo para um abraço necessitado, buscando reaproveitar o tempo que não o fizera. Permaneceria naquele aconchego por toda uma vida se pudesse, mas a porta do quarto sendo aberta retirou toda a sua privacidade sentimental.

Jimin encarou o colega de quarto, reconhecendo tão bem as madeixas ruivas quanto a notou.

- Hm... é... o que aconteceu? - perguntou receoso em entrar no quarto ou apenas fechar a porta e dar uma volta. Mas queria dormir, e não é como se pudesse sair fazendo isso em qualquer lugar.

- Nada - Taehyung disse calmamente. - Eu já vou.

- Mas você nem almoçou - Jeongguk segurou a mão do mais velho, sentindo o coração apertar quando Taehyung negou rapidamente com a cabeça, um pedido simples e mudo para que não insistisse naquilo.

- Vou comprar meu almoço - esclareceu, puxando a mão de forma devagar para que Jeongguk não visse como algo ruim. Só não estava confortável o suficiente para ser visto daquela forma tão vulnerável de seus sentimentos.

- Mas já é praticamente uma da tarde - Jimin disse, incrédulo com a ideia que o ruivo sugerira. - Jeon, por que não fez nada pra ele almoçar? - indagou em repreensão.

- Mas eu fiz! Está ali - apontou para o compartilhamento onde fizera o almoço, recebendo um olhar falsamente irritado de Taehyung. Jeongguk estava tentando colocar o jogo ao seu favor e fazer com que Jimin apoiasse a ideia, o que não foi muito difícil.

- Se tem almoço pronto, por que está indo gastar dinheiro? - Jimin entrou no quarto um pouco mais tranquilo, fechando a porta atrás de si em seguida. - Vamos, fique e almoce.

- Eu não quero atrapalhar - tentou uma desculpa.

- Ah, vamos. Não irá atrapalhar - Jimin sentou na cama e jogou o corpo para trás, espreguiçando rapidamente. - Querem parar de me olhar e irem logo almoçar?! - disse quando sentiu o olhares sobre si.

- Vem, hyung - Jeongguk voltou a segurar a mão do mais velho, puxando-o com cuidado. Não evitou o sorriso que surgira por ter conseguido que ele ficasse. Jimin havia ajudado deveras e nem mesmo sabia.

Taehyung não deixou de notar que Jeongguk ficara feliz. Parte de si também estava, mas a outra - receosa -, temia por muitas coisas, mesmo que a maioria não tivesse nem mesmo cabimento.

- Só enquanto almoço - deixou claro, impedindo que Jeongguk o mantesse ali por mais tempo. Iria primeiro se reconstruir antes de iniciar uma nova obra. Uma coisa de cada vez.

- Obrigado - Jeongguk disse baixo, e Taehyung não compreendeu bem o motivo daquilo. Sorriu pequeno para o mais novo, tratando de almoçar a comida que o outro havia feito.

Entre um olhar e outro se esbarrava com o sorriso tímido que Jeongguk nem mesmo guardava. Talvez não estivesse muito diferente, e o ardor mínimo no canto de seus lábios fossem pelo sorriso que não conseguia conter.

Afinal, percebera que não era nenhuma das alternativas que imaginara. Jeongguk realmente estava na sua frente, feliz em sua presença, talvez mais do que si próprio.

Era realmente difícil não sorrir com ele de novo em sua vida.