Seesaw Connection [yoonseokmin]

19. Seul/2010: Reformatório

Era quase março de 2010 quando Yoongi fez uma revisão médica após a última cirurgia. Para seu alívio as bandagens incômodas foram removidas, mas a imagem da deformidade no lado direito do torso, a qual se assemelhava à lataria amassada de um veículo, era perturbadora. Tanto quanto saber que os seus ossos estavam suturados com fios de aço cirúrgico.

Por um longo momento, o médico observou a caixa torácica do paciente se expandir e se contrair com a respiração.

Yoongi olhou de relance para sua mãe, divertindo-se com a sua expressão de nojo e indignação.

-- Precisa melhorar muito - ela grunhiu.

-- Esta foi a primeira cirurgia estética e os resultados foram muito bons. Dentro de seis meses, ele poderá fazer outra e assim por diante, até se sentir melhor consigo, mesmo - acrescentou o médico, pacientemente.

-- Não adianta melhorar só a aparência se nunca mais irei jogar per- levantou o queixo, determinado a torturar Min Hae, que não suportava seus defeitos.

-- Se a sua deformidade fosse no rosto, você não iria pensar assim.

Ele lhe dirigiu um olhar frio e depreciativo e sorriu com um sarcasmo gelado enquanto uma vívida lembrança de infância dançava em sua mente. Ele nasceu com os cabelos lisos, mas para desespero de Min Hae, aos quatro anos, os fios começaram a ondular só de um lado. Todos os dias a sua mãe o fazia acordar mais cedo para alisar a parte ondulada do cabelo e quase sempre acabava queimando sua testa, pescoço e orelhas. O procedimento gerava atrasos para a escola e para os compromissos sociais, fato que deixava Min Hae muito estressada.

-- Se ficar quieto não se queimará! - ralhava ela.

-- Hayoon me mostrou como enrolar o cabelo, Omma! e não doeu. É só colocar os rolinhos - disse, com a voz chorosa.

-- Eu sou a sua mãe e decido qual tipo de cabelo é melhor para você. 

Lembranças infelizes e discussões com Min Hae eram desperdício de tempo e não levavam a lugar nenhum. Yoongi piscou duas vezes e voltou a se concentrar na voz do médico, que recomendou manter o uso da tipóia bilateral, além de fisioterapia.

No mais, estava apto a cumprir a sua custódia de seis meses no reformatório masculino de Seul, uma instituição privada especializada em ajuste comportamental de jovens delinquentes.

Yoongi desejava ir para o reformatório após o seu aniversário, mas a sua mãe queria entregá-lo logo e só estava aguardando o aval do médico. Segundo ela, não havia motivos para festejar, ignorando que o filho foi aprovado no internato e que a sua boa média não foi afetada pela expulsão.

Min Hae inspecionou o local pessoalmente alguns meses antes e se agradou das instalações, em especial pela clínica. A correção comportamental de Yoongi mais as sessões de fisioterapia iriam custar em torno de 100 mil dólares e ele era obrigado a cumprir no mínimo seis meses de detenção para ficar quite com a sociedade recuperar os seus direitos civis.

A sala do diretor do reformatório lembrava uma delegacia. Havia uma câmera de vídeo num dos cantos do teto e dois agentes uniformizados usando colete a prova de balas e revólver dentro do coldre preso aos quadris.

Min Hae, transparecendo seu rotineiro esgotamento físico e mental e desapontamento, assinou o cheque e levantou-se apressada para sair, sem ao menos se despedir do filho.

-- Omma? Onde a senhora vai? - Yoongi chamou-a em voz alta.

Min Hae parou de andar e girou nos calcanhares, olhando-o com repressão.

--Não vai perguntar como funcionam as visitas? - disse ele bruscamente, julgando a frieza da mãe.

-- Ah, sim. Como funcionam as visitas? - Ela sentou-se novamente, apertando a alça da bolsa, fingindo interesse.