23. Seul/2010: outono

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Seul/outono de 2010

Cinco meses depois

Não foi fácil suportar os abusos psicológicos, tanto os que sofreu, quanto os que testemunhou. A partir do segundo mês da pena, Yoongi deixou de ser um novato e passou ser tratado pelos funcionários como alguém invisível e comum, sem apelidos depreciativos, sem privação de comida, sem tortura psicológica durante as revistas. Com a cabeça mais tranquila, ele se dedicou aos estudos durante a primavera e se saiu muito bem.

O método de ensino do reformatório agradou Yoongi, pois em poucos meses, já estava apto na maioria das matérias do segundo ano do ensino médio, exceto matemática e geografia. Como não sentia a menor vontade de voltar para a escola, decidiu morar até os dezoito anos com pai em Osaka para aprender a ganhar dinheiro e depois ele faria um supletivo para concluir o ensino médio.

Durante o verão, as coisas voltaram a ficar tensas. Yoongi não gostava desta época do ano, pois o calor era irritante nos quartos mal ventilados e em todos os lugares! Ele não conseguia dormir direito, não tinha apetite e nem concentração.

As coisas ruins sempre esperavam para acontecer na estação das chuvas. Durante uma revista noturna de dormitórios aconteceu algo muito perverso. Os guardas não tinham horário para cumprir essa tarefa e quando entravam nos quartos, geralmente não se prolongavam muito.

Certa madrugada, um deles entrou com a sua lanterna acesa e os colegas de sono leve imediatamente cobriam suas cabeças. Yoongi se irritou por ter que se cobrir com uma temperatura tão abafada. A luz da lanterna pairou sobre si por alguns segundos e depois se distanciou. Ele suava muito, seus cabelos encharcaram o travesseiro. O guarda desligou a lanterna e Yoongi aguçou os ouvidos, esperando o ranger da porta ao ser fechada, porém não ocorreu. Era angustiante não poder ver o que estava acontecendo e ficar preso ao calor.

Os ruídos que se seguiram foram os mais perturbadores de sua vida. Ouviu passos muito lentos, como nos filmes de terror e na sequência, barulho de cinto desafivelado e um zíper escorregando. Um gemido baixo que pareceu uma súplica foi seguido de tapas e choro, engolido e sufocado. A repulsão desabou uma avalanche de horror em Yoongi.

Ele tirou a tipoia e pulou da cama, usando o elemento surpresa a seu favor. O maldito era apenas uma sombra na mais profunda escuridão sufocante. Yoongi o atacou com um side kick nas costas e depois aproveitou a distração do sujeito para acertar-lhe um soco no rosto, mas o desgraçado conseguiu golpear o seu ombro, acionando uma bomba de dor incapacitante, que o fez recuar.

O restante dos meninos permaneceram quietos, com suas cabeças cobertas. Ninguém poderia culpá-los por sentirem medo. O filho da puta derrubou e imobilizou Yoongi, respirando quente próximo ao seu rosto. O garoto lutou e chutou, tentando se livrar das duras mãos que apertavam a sua garganta.

As pupilas de Yoongi se dilataram devido à falta de oxigenação e o seu rosto já estava lívido quando algo inacreditável aconteceu. Uma cobra se enroscou no pescoço do infeliz, estrangulando-o até a perda dos sentidos. Depois ela o arrastou pelo tornozelo para fora. Ele foi atrás da cobra, mas não viu nenhum rastro, apenas o corredor vazio e silencioso.

A vítima do abusador chorava muito, abraçado aos joelhos na cama, aliviado e agradecido pela atitude heroica, pois aquele guarda o assediava e atormentava o seu psicológico há dias e ninguém fazia nada. Yoongi o encorajou a denunciar, mas o garoto não quis, tinha vergonha do que a família e a sociedade iriam pensar. Ele já estava satisfeito por alguém ter dado um fim no sofrimento.

No dia seguinte, Yoongi contou aos Norkeys que viu a cobra. Eles riram, dizendo se tratar de uma lenda urbana, pois os guardas atacados sempre a negaram, mas passavam a viver com medo e se sentiam perseguidos o tempo todo.

Seesaw Connection [yoonseokmin]Onde histórias criam vida. Descubra agora