O grande dia

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Ellen

Ele vai amar o bolo. Eu tenho certeza. Não ficou lindo, como aqueles de revistas culinárias, porque, ao desenformar, metade da massa ficou na assadeira. Tive que raspar com uma colher o restante e colocar por cima do bolo, o que esteticamente não ficou perfeito. O que teria o
formato de coração acabou se tornando um hexágono.
A cozinha está um pouco suja. Tranco a porta e coloco o bolo na sala de jantar. Depois a empregada do Giacomo dará um jeito na bagunça.

- Você não está animado, não é?

- Claro que estou, amor. Comer seu bolo é tudo que sonho fazer.

Viro-me para encará-lo e percebo que gostaria muito de acreditar nele. Eu gostaria de fazê-lo feliz, nem que fosse com um simples bolo.

- Então por que não está sorrindo ou fazendo graça como sempre?

- pergunto quando adentramos na sala de jantar.
O olhar dele vai para o bolo, por meio do qual está escorrendo brigadeiro sobre a mesa. Eu coloco uma toalha, mas também há brigadeiro em excesso ali e uma meleca sem fim se espalha sobre a toalha vermelha.

- Quem te ensinou a fazer esse bolo tão lindo, baby?

- Aprendi pelo YouTube. Acrescentei um pouco dos ingredientes à minha moda. Agora você vai experimentar e amar.

A minha empolgação é tanta que corto um pedaço gigante e coloco no prato. Ele se senta à mesa e pega o garfo na mão, mas não leva o bolo até a boca. Seu olhar é triste e me magoa.

- O que houve, Giacomo ? Por que não quer comer meu bolo? – pergunto, já perdendo a paciência.

- Não consigo - ele diz, empurrando o prato para o meio da mesa.

- Como não consegue?

- Uma vez, baby, eu estava andando de carro pelas ruas aqui de São Paulo e um garoto no semáforo me pediu chorando que eu desse dinheiro para ele comprar um bolo de cenoura. Eu não tinha um real no carro
aquele dia. Só cartão de crédito. Eu prometi que voltaria no outro dia.
Cumpri a promessa, só que quando voltei não o encontrei mais. A partir daquele dia nunca mais consegui comer bolo de cenoura. Me perdoe.
Os olhos dele encaram o chão e nunca vi o Giacomo com esse olhar. Eu o abraço forte e beijo seus lábios.

- Me perdoe você. Por que não disse antes?

- Fiquei com vergonha.

- Ahhh, Gi, eu faço outro amanhã, de chocolate.

- NÃO! Não precisa. Quero que você descanse para o casamento.

- Combinado. Também terei todo o tempo do mundo depois dessa festa para fazer quantos bolos você quiser.

- Você nunca vai cozinhar nesta casa. Quero você na cama comigo, o tempo todo disponível.

Seu olhar malicioso me faz recuar. Eu disse que sexo só depois do casamento, mas ele não está conseguindo segurar a barra. Seus dedos ágeis me alcançam e, quando dou por mim, metade da minha roupa já
está no chão.

- Paraaaa, Mike - grito e saio correndo, trancando-me no banheiro.

- Abra essa porta, baby, eu não aguento mais. - Ele tenta forçar a
fechadura.

- Não. Você tem que se cuidar e ficar bom. Faltam só alguns dias, Como você é criança, Giacomo.

-Eu não aguento mais bate uma pesado na minha mulher. Pode se preparar. Assim que você disser sim, vou te arrastar para o quarto do hotel na frente de todo mundo. Vou te
sequestrar de novo. E vamos transar até você  implorar para eu sair de dentro de você.

Quebrando Regras (QR)Onde histórias criam vida. Descubra agora