Como tudo começou...

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A embarcação inimiga ainda não estava completamente submersa nas águas do Atlântico.

Ian observou os olhos dela ao ver a nau aos poucos desaparecer. Ele enxergou a dor, mas nenhum resquício de lágrima.

Aquela era uma mulher forte.

— Quantos prisioneiros? — Bradou o capitão, no convés do Jóia da Coroa.

— Doze! — Respondeu um dos marujos, que praticamente todos os dias utilizava o mesmo lenço vermelho na cabeça. — Contando com essa bela surpresa... — Passou em frente à única mulher que haviam capturado, aproveitando-se que ela tinha as mãos amarradas rente às costas para passar um dedo insolente em seu queixo de pele escura.

Morgana não pensaria duas vezes.

Não fosse o fétido trapo a amordaçando, teria arrancado-lhe o dedo nos dentes.

Mas como não tratava-se de uma possibilidade, apenas balançou abruptamente a cabeça, o assustando, fazendo-o se afastar.

Os demais marujos riram com a imprudência dela, inclusive o capitão.

O único que não ria era Ian, que agora, além de dor pelo navio afundado, também enxergava nos olhos dela um resquício de medo.

Mas que diabos aquela mulher tinha que estar fazendo à bordo de navio pirata?!

— Lhe devemos a vitória de hoje, McLaggen. — Ian voltou a escutar o capitão falar consigo, batendo-lhe no ombro com rude parceria. — Por isso poderá levar o prêmio, se quiser. — Olhou com indecência para a moça ajoelhada no convés, enquanto os outros marujos começavam a lamentar.

Ian não se viu com muita escolha.

Sabia que aquilo que diferia corsários de piratas era apenas um documento, um mísero papel, e não poderia negar a essência que possuía ao deixa-la à mercê daqueles homens. Apenas de imaginar as atrocidades que seriam capazes de lhe fazer, o estômago embrulhava.

Damn. —  Desgostoso, resmungou. 

—  O que disse, Ruadh? —  O capitão questionou, chamando-o pelo apelido que o escocês ganhara nos mares. 

Ian então apenas respirou fundo, buscando controlar a irritação que toda aquela situação o causava. 

— Levem-na para minha cabine. — Gesticulou com a face de traços firmes, enquanto as mãos repousavam sobre o cinto que prendia seu kilt.

Ele não sabia o que faria com aquela mulher mas, que Deus o ajudasse, ao menos ela estaria a salvo de ser entregue à um destino terrível, em seus aposentos.

Lá ela estaria em segurança.

Não estaria? 

Mar Aberto - Entre Corsários e Piratas. [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora