Capítulo IV - Presságios

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Peter acordou antes do sol nascer, naquela manhã. As primeiras luzes apenas prenunciavam a chegada de mais um dia quando o jovem já trabalhava em sua mais recente missão.

Mesmo não possuindo grandes habilidades na arte da costura, ficou bastante satisfeito com o trabalho desenvolvido, pretendendo entregá-lo o quanto antes a seu mestre.

O jovem atravessou o navio sem grandes dificuldades, carregando o colchão improvisado, e desceu as escadas laterais que davam para a cabine de McLaggen. Precisou apoiar o item na parede do lado de fora para abrir a porta, sequer imaginando o susto que estava prestes a tomar.

— Cristo! — soltou o impropério, em desespero. — Ruadh! — Chamou McLaggen em um grito extremamente urgente, fazendo-o despertar em um salto.

— Por todos os demônios, o que há?! — Ian pulou da cama já alcançando a pistola que havia tido o zelo de deixar pernoitar em sua cintura.

— A prisioneira! Ela se soltou! — Peter colocava-se com os braços abertos em frente a porta, com a pequena faca que sempre trazia consigo já estrategicamente empunhada, realmente crente de que seria suficiente para barrar a mulher, caso esta tentasse escapar.

Em pé, no canto do quarto, Morgana tinha os braços cruzados sobre o busto quando rolou os olhos, impaciente com a cena.

Finalmente compreendendo o que se passava ali, Ian soltou um longo e desgostoso suspiro. Caminhando em silêncio até Peter, retirou a arma de sua mão, encarando-o com pouca paciência.

— Ela não se soltou, seu grande tolo. Eu a livrei das amarras.

Sequer deu atenção para a expressão confusa que ocupou a face do jovem, caminhando em direção à bacia do quarto para jogar água na face.

Peter encarou a prisioneira e, no rosto dela, notou que um sorriso bastante presunçoso havia se formado.

— Mas o senhor... — o menino tinha dificuldade em estabelecer uma linha de raciocínio. — Como poderia se defender se durante a noite ela tentasse lhe atacar?

Foi possível ouvir apenas um riso abafado soar através da toalha com a qual o escocês enxugava o rosto.

— Ela não seria tola a ponto de fazer isso. — A encarou propositalmente enquanto esclarecia ao rapaz, como se pretendesse lembrá-la. — Além disso, libertá-la das amarras é parte do acordo que fizemos.

— Um acordo?

A cada instante, a situação tornava-se mais confusa ao pobre pajem.

Ian apenas balançou a cabeça, deixando claro que, naquele momento, era tudo sobre o que estaria disposto a lhe falar sobre o assunto.

— Bom... Já que me acordou tão cedo, creio que não seria muito esperar que trouxesse o desjejum, não é?

Observando a janela, notava que no horizonte cerúleo o sol apenas começava a despontar.

Ainda um tanto desconcertado, Peter reorganizou a postura.

— É claro, Ruadh... Trarei imediatamente. — garantiu.

— E traga o de Morgana, também. Ela fará três refeições por dia, e você será responsável em trazê-las, Peter. — Deu uma pausa considerável, antes de prosseguir com as orientações. — Ninguém mais poderá fazê-lo, estamos entendidos? Sem minha autorização, ninguém deve entrar nesta cabine... — Voltando os olhos novamente para a mulher, Ian enfatizou. — ou sair dela.

— Sim senhor. — O menino não demorou a responder, sendo a surpresa por finalmente saber o nome da prisioneira algo que resolveu não pontuar.

Mar Aberto - Entre Corsários e Piratas. [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora