O tom sépia tomava o final do entardecer quando Ian retornou à cabine com a sutileza de um trovão, batendo a porta e caminhando em passos firmes.
Imediatamente, Peter colocou-se de pé.
— O que faz aqui? — O escocês notou que o garoto estava agachado próximo da prisioneira antes de vê-lo chegar.
— Estava lhe dando água, senhor. — O rapaz justificou, com a voz fraca.
— Não me lembro de...
— Não me ordenou que viesse, senhor. — Peter engoliu seco. — Apenas vim porque está um dia quente, e já faz horas desde a última vez. — Justificava-se. — Fui encher meu caneco no barril, e então me lembrei do que disse sobre não precisarmos ser cruéis com...
— Já chega. — Rapidamente, McLaggen o interrompeu. — Já entendi.
Não o desagradava que Peter demonstrasse recordar de suas lições.
Mas não era necessário fazê-lo sobre as de altruísmo justamente ali.
Com apenas um movimento de cabeça o menino confirmou.
— Necessita de algo, Ruadh?
— Apenas que saia e informe que não estou disponível, caso venham me procurar.
— Sim senhor. — O menino sequer questionou os motivos, não demorando a se retirar.
Com a saída do rapaz da frente de Morgana, McLaggen não hesitou em encará-la.
Quando ambos ouviram a porta da cabine voltar a ser fechada, o escocês sentiu um leve regozijo ao vê-la engolir seco pela compreensão de que ele pretendia ficar.
Havia algo muito estimulante em ver uma mulher durona como ela ser tomada pela hesitação.
— Nós precisamos conversar. — Ian sentou-se na cadeira fixa ao chão, voltando a colocar cada uma das pernas de um lado do assento, encarando-a de frente.
A maneira como o kilt dele subia ao realizar o movimento era algo que, pela segunda vez, Morgana resolvia ignorar.
Ignorar, entretanto, não significava deixar de reparar em como as pernas dele pareciam fortes, completamente constituídas de músculos.
— Creio que já tenha dito tudo o que precisava ouvir de mim. — Com a voz firme, ela confirmou, mantendo o queixo erguido.
— Para seu próprio bem, espero que não tenha dito tudo. — Ian esfregou com uma mão a face, bufando com claro desagrado ao terminar.
— O que quer dizer com isso? — Pressentindo que o infeliz voltaria atrás em seu acordo, a moça já começava a sentir-se irada. — Se ao menos pensar em faltar com sua palavra, infeliz, juro que irei...
— Deixe-me adivinhar... pretende ameaçar-me de morte, outra vez? — Ele ergueu os ombros com claro desdém. — Pelo que me recordo, já fez isto, e a situação na qual se encontra não é diferente para que a eficiência do plano o seja. — Esticou a mão para a figura que ela compunha, completamente incapaz de configurar-se em qualquer tipo de ameaça letal.
Frente ao desdém dele, Morgana repuxou o maxilar, como um animal feroz prestes a atacar quando sente-se acuado. Graças a isso, os dentes dela mostraram-se pela primeira vez e, para sua completa surpresa, Ian notou que estes eram brancos, firmes e lisos, como cerâmica. A luz que refletia na janela fizera a pele negra cintilar em um brilho dourado, destacando os traços dela como se o Sol a beijasse em sua face.
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Mar Aberto - Entre Corsários e Piratas. [DEGUSTAÇÃO]
Historische RomaneLANÇAMENTO NA AMAZON EM 31/01/2021!! Após um breve período em solo inglês, Ian McLaggen decidira que já era a hora de voltar para o mar. Sempre considerando que no mundo não existia nada mais eficaz do que o vai e vem das marés para afastar os info...