Capítulo 2

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Depois que o jovem rei saiu do salão tudo se tornou uma bagunça, o primeiro a levantar e seguir o sobrinho para fora do salão foi Jiang Cheng, mas nem mesmo ele pode invadir o quarto do rei de uma nação amiga, quando o mesmo ordenou que não quer ser incomodado, sem gerar um incidente diplomático, então por mais que ele tenha gritado e ameaçado quebrar as pernas no garoto quando o visse novamente, ele teve que voltar para os seus aposentos de mãos vazias.

No salão, todos começaram a se retirar para os aposentos que foram reservados na Torre de Carpa, nome dado ao palácio de Lanling. Os corredores se encheram de fofocas e comentários sobre o motivo do jovem rei ter se retirado daquela forma indecorosa, a maioria deles concordava que a culpa havia sido do jovem musico, apesar de nenhum deles entender o motivo verdadeiro.

Sizhui foi provavelmente um dos últimos a sair do salão, quando terminou a música e o rei se retirou ele ficou tão assustado que suas pernas não se moviam e ele só conseguia pensar que havia ofendido Jin Ling de alguma forma que não conseguia entender. Ofender o rei era a última de suas intenções e sua mente vagou por várias possibilidades de como aquilo havia acontecido quando ele somente estava tocando uma música no guqin, mesmo depois de um tempo ainda não havia chegado a uma conclusão, apenas sabia que precisaria se desculpar assim que possível para não causar problemas entre os dois reinos.

Ele era apenas o filho adotivo do segundo príncipe de Gusu e seu tio havia lhe dado a grande missão de representar seu reino naquela festa, ele não poderia falhar. Um dos serviçais o acompanhou até seus aposentos para que pudesse descansar, ele trocou de roupa, soltou os cabelos e estava meditando para limpar a mente antes de dormir quando ouviu uma batida forte na porta.

Jin Ling chorou como a muito não chorava pela perda de sua família, sua insegurança e todas as responsabilidades que foram jogadas em suas costas sem lhe perguntarem se ele queria ou estava pronto, ele chorou até não restar nenhuma lágrima. Quando finalmente estava mais calmo ele trocou de roupas e saiu do quarto pela janela, de modo que ninguém o visse, indo pelos corredores desertos da torre até a ala que haviam designado para os convidados, não demorou muito para que encontrasse o quarto de Sizhui. Como a luz ainda estava acesa ele bateu na porta, aguardando ansioso uma resposta enquanto brincava com as mangas do seu robe.

Sizhui olhou para o relógio na parede, vendo que já eram quase nove horas, ele deveria ir dormir logo, mas estando fora de Gusu era normal que as pessoas ficassem acordadas até mais tarde, então uma visita a essa hora não era algo incomum, apesar de um pouco sem consideração com as regras de sua família. Suspirando, ele se levantou e foi até a porta, abrindo-a devagar para ver quem era o seu convidado. Do outro lado da porta o jovem rei esperava com o rosto um pouco vermelho e visivelmente nervoso, foi uma surpresa tanto para a pessoa que abriu a porta quanto para ele.

-Majestade, boa noite.

O rapaz cumprimenta se curvando com as mãos unidas a frente do corpo, mas Jin Ling segura seu braço cortando a formalidade ao meio e entra no quarto fechando a porta atrás de si.

-Ninguém deve saber que estive aqui esta noite.

Ele explica sua intromissão em voz baixa deixando o outro rapaz intrigado com a sua aparição, mas aquela podia ser a oportunidade de se desculpar pelo que ocorreu no banquete.

-Eu...

-Olhe...

Os dois começam e param ao mesmo tempo, olhando um para o rosto do outro surpreso. Sizhui sente as orelhas esquentarem enquanto as bochechas de Jin Ling são tingidas de rosa.

-Por favor, você primeiro majestade.

-Não, eu posso esperar, o que queria dizer?

Sem querer contrariar uma ordem direta o rapaz começa a sua explicação, se curvando novamente.

-Eu gostaria de me desculpar pelo que ocorreu no banquete, não era minha intenção ofendê-lo ou perturbá-lo com a música que toquei de nenhuma forma. Aceitarei qualquer punição que queira me dar, mas por favor saiba que isso não teve nada a ver com a minha família.

Quando ambos eram discípulos ele não precisaria usar esse tom, mas agora que Jin Ling havia ascendido ao trono eles eram claramente diferentes e havia a necessidade de trata-lo a altura. Em contrapartida o jovem rei escondeu o rosto na manga para abafar... o riso, deixando Sizhui claramente confuso com a sua atitude.

-Foi isso que você achou que havia acontecido? Não fiquei ofendido, na verdade...

Ele virou de lado olhando de relance para Sizhui antes de andar até o lado oposto do quarto onde ficava a janela.

-Sua música foi a coisa mais linda que já ouvi... por isso, vim aqui pedir para que toque novamente para mim.

Ele se virou inseguro, sem saber o que encontraria no rosto do outro rapaz, mas tudo o que Sizhui expressava era surpresa, ele estava aliviado por não ter feito nada de errado que ofendesse o soberano. Seus lábios formaram um pequeno sorriso tímido semelhante ao do pai e ele se ajoelhou invocando novamente o guqin de sua bolsa.

-Por favor sente-se majestade, eu tocarei novamente para você.

Não havia muitas opções de onde se sentar, então Jin Ling foi até a cama e se sentou enquanto as primeiras notas eram tocadas, ele observou o musico percorrer as cordas com dedos hábeis e uma concentração invejável, não era só a melodia que saia do instrumento que era linda. Percebendo o rumo que seus pensamentos seguindo agora que os dois estavam sozinhos e podia observar Sizhui o quanto quisesse, ele tratou de fechar os olhos para se concentrar na música sendo tocada por ele.

Logo as lágrimas vieram, mas dessa vez ele não precisou fugir e pode simplesmente deixa-las escorrer enquanto a melodia seguia seu ritmo até um final agridoce que não dissolvia a melancolia, mas expressava a esperança de que tudo fosse melhorar. Sizhui desviou os olhos das cordas rapidamente algumas vezes para olhar o jovem rei, vendo-o limpar o rosto com a manga dos robes enquanto ele tocava.

Certamente aquela era uma melodia um tanto triste, mas ele gostava da forma simples com a qual expressava os sentimentos que ele acumulou ao longo da vida e tudo aquilo que ele gostaria de poder dizer e não pode. Não imaginava que sua primeira composição fosse causar uma emoção tão forte nos demais e ainda não tinha certeza de como se sentir a respeito.

Quando a última nota foi tocada ele esperou alguns momentos para que o som se dissipasse e o jovem rei pudesse se recompor. Do lado de fora ouviram-se vozes e gritos cada vez mais próximos do quarto, levando Sizhui a se levantar para verificar o que estava acontecendo. Antes que pudesse chegar na porta houve uma batida forte e seu olhar foi imediatamente na direção do jovem rei que parecia assustado.

O rei e o musico - ZhuilingWhere stories live. Discover now