- As pessoas são passageiras - a moça do meu lado disse. Ela estava olhando o horizonte com as mãos nos bolsos e parecia pensativa. Eu nunca tinha visto essa mulher antes e ela estava falando comigo enquanto esperávamos o trem
- O que disse? - Perguntei a ela mesmo tendo escutado, na verdade queria que ela explicasse
- As pessoas são passageiras em nossas vidas, já parou para pensar em quantas pessoas passaram por aqui hoje? Quantas histórias e vidas diferentes, quantos amores deixados para trás e quantos nasceram aqui neste mesmo banco em que você está sentado agora? Quantos sorrisos ou lágrimas derramadas neste mesmo instante... Vidas e mortes num mesmo segundo. Quantos simplesmente esquecidos e deixados para trás?- ela me olhou bem nos olhos e pude ver ali a tristeza, mas continuei em silêncio comendo meu croissant gorduroso sem saber o que dizer
- É, eu acho que sim... - respondi meio confuso
- Gostaria que não fossem... Gostaria que não existissem estações de trem que levassem quem amamos embora para longe de nós. - ela falou sobre o trem, mas senti que foi apenas uma metáfora para outra coisa.
De novo não sabia o que responder, apenas continuei ali olhando-a tentando entender sua dor, ela parecia muito infeliz naquele momento. Seu nariz estava vermelho e os olhos também, o cabelo preso de qualquer jeito como se não tivesse forças nem para pentea-los naquele dia. Ela respirou fundo tentando conter suas lágrimas
- Desculpe, eu falo demais - disse dando as costas para sair do meu lado, a parei antes que saísse
- As pessoas são passageiras, mas o que elas deixam não! Não sei o que houve, mas você quer um abraço? - ela continuou ali estagnada com o olhar vazio e triste, eu a puxei e aos poucos ela se aninhou em meus braços, meus dedos engordurados não pareciam incomodar. Ela simplesmente se agarrou a mim, um completo estranho e chorou. Fiquei sem saber o que fazer, apenas a balancei em meus braços
- Espero que você sempre lembre deste abraço e que ele não seja passageiro, vai ficar tudo bem moça.- sussurrei
Ela foi se acalmando e aos poucos me soltou, enxugou as próprias lágrimas e sorriu.
- Obrigada! Me desculpe pelo meu descontrole... Você é uma das poucas pessoas que faria algo assim nos dias de hoje meu rapaz, continue com essa empatia pelo próximo sempre, que nada nem ninguém tire essa luz de você, estou me sentindo melhor, pelo menos por agora.. qual seu nome?
- Elias Ribeiro, e o seu? - ela apertou minha mão, eu sorri e o trem chegou antes que ela pudesse responder, nos olhamos por uns instantes e ela partiu. Fiquei ali parado pensando em quantas pessoas como ela passaram por aquela estação hoje e precisavam desse abraço? De um pouco de atenção ou amor mesmo que de um estranho passageiro?
As palavras dela ecoavam em minha mente: "as pessoas são passageiras em nossas vidas", talvez ela tenha razão... ou não. Mas sei que não esquecerei essa moça e nem ela a mim por mais que não nos encontremos outra vez e que eu não saiba nem o seu nome .
O sentimento que deixamos um no outro, a sensação e essa memória ficarão guardados para sempre em nossas lembranças por mais que o momento tenha sido passageiro.
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Textos Retirados da Alma
RandomNas madrugadas da vida eu escrevo textos diversos sobre sentimentos diversos, espero que vocês gostem e aconselho que eles sejam lidos com calma e de coração aberto! Todos autorais, saidos da minha alma para o papel (no caso para a tela) Boa leitura...