Capítulo 2 (Parte 2)

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A melhor do mundo (Parte 2)

Ter a minha melhor amiga muito, muito distante, era doloroso, mas é amando que se sofre e é sofrendo que se aprende.

- Lari, eu tenho medo de sofrer. O Theo nunca vai me ver como nada além de uma amiga!

- Calma... tenta, Manu. Você nunca vai saber se não tentar.

- E como eu tento?

- Abre o jogo! Fala com ele, assume seus sentimentos. Às vezes, é isso que vai fazer dar certo, Manu, você dar o primeiro passo. Vá!

- Ficou louca? Eu não vou fazer isso nem morta!

- Vai deixar o orgulho bobo extinguir todas as suas chances com o amor da sua vida?

- Não é isso, mas eu não tenho coragem.

- Você pensa que não, mas eu sei que você tem essa coragem. Ela pode estar bem escondida aí dentro de você, mas busque e faça o que você achar melhor. Você vai ver que esse é realmente o correto a ser feito.

Era isso! Eu era corajosa, nunca tive problemas com isso e também não era orgulhosa a ponto de perder oportunidades. Não sei o que me faltava para falar com ele, só sei que me faltava alguma coisa. Justo eu que sempre falava tudo na cara, naquele momento me via diante de uma vontade incontrolável de guardar meus sentimentos em um baú e fugir sem eles para a terra do nunca. Era esse o efeito que Theo causava em mim: em cada sorriso, em cada olhar não intencionado, nascia uma nova intenção dentro do meu coração. Ele bagunçava meus sentimentos na mais perfeita ordem, ele me amava no mais puro desprezo, ele me cuidava no mais puro desdém e ele se apaixonava por mim a cada vez que eu encostava minha cabeça no travesseiro e fechava os olhos.

- Em 14 anos da minha vida, acho que nunca me vi tão perdida.

- Você tá crescendo, Manu. Vai se perder agora pra encontrar seu "eu" de verdade depois.

- Eu tenho medo, Lari.

- Calma, vai dar tudo certo, eu prometo. Estou com você, Manu. Estou aqui.

Larissa era capaz de se fazer presente em cada momento da minha vida, não estando presente em nenhum deles. Ela conseguia fazer com que todo medo se esvaísse do meu coração só por dizer que estava comigo naquela explosão de problemas. E ela provava que estava ali.

A hora já havia passado razoavelmente desde o início de nossa conversa. Meus olhos já pesavam e eu não aguentava mais o peso da minha cabeça, despedi-me de Larissa rapidamente, explicando que meu dia havia sido exaustivo e que meu corpo implorava por descanso, ela me desejou melhoras e prometeu entrar cedo, no dia seguinte, para retomarmos a nossa conversa. Concordei com os planos dela para o amanhã, uma vez que as minhas férias haviam acabado de começar, e desejei-lhe uma boa noite, aguardei sua resposta e desconectei-me do Skype logo em seguida, chequei rapidamente alguns e-mails que haviam chegado enquanto eu falava com ela, sem intenção de responder algum deles àquela hora da madrugada, e depois de tirar o som do celular para não ter o meu sono interrompido, depositei-o na cabeceira da cama mais uma vez.

Dormir nunca foi um verbo que eu soube usar sozinho, sempre que recostava minha cabeça no travesseiro passava horas consertando a minha vida. Eram naquelas horas que eu pensava em tudo que envolvia a minha existência nesse mundo tão grande e me perguntava por que algumas coisas não poderiam ser diferentes do que foram. Por fim, eu sempre me conformava com o jeito como tudo estava e me desesperava com o pouco tempo de sono que me restava até às seis horas da manhã do dia seguinte, mas esse desespero não estava presente nas férias de verão: eu poderia ir dormir no horário em que estaria acordando em dias letivos, e acordar na hora em que eu deveria estar indo dormir.

E então, pensar ocupava boa parte das minhas madrugadas.

Tentando afastar aquele pensamento unitário da minha mente, me revirei na cama por aproximadamente uma hora antes de apagar de vez. Não senti quando estava prestes a dormir, talvez eu nem tivesse rodado na cama por uma hora, mas o tempo que demorei para me desligar de tudo foi massacrante e pareceu durar uma eternidade.

A noite fria me fez despertar várias vezes, o vento batia forte contra a janela fazendo um barulho amedrontador. O breu, no qual meu quarto havia se tornado, não me permitia ver nada além do dia começando a nascer gelado através das frestas da janela, situação atípica em uma noite de verão. Meu pensamento desviou-se daquele ambiente, estilo filme de terror, e quando percebi já estava com os olhos marejados pensando em Theo. Tentei, desesperadamente, ocupar a minha mente com qualquer outra coisa tola para me livrar daqueles pensamentos, sem sucesso. Era difícil assumir, entender e até mesmo sentir, mas eu estava, de fato, apaixonada e isso já deixava de ser uma novidade.

Pensei no que Ítalo havia dito olhando no fundo dos meus olhos algumas horas atrás, e uni aquelas palavras com o que Larissa tinha usado para me consolar também. Eu havia decidido lutar em nome do amor que estava sentindo, lutaria pelas lágrimas que eu já havia derramado desde o início disso tudo, lutaria por aquele garoto perfeitinho que há tempos havia roubado meu coração... eu lutaria pelo nosso futuro, lutaria pela existência dele.

Estava disposta a tudo para ver que o meu amor era recíproco e, se não fosse, eu estava disposta a conquistar o impossível para tê-lo correspondido e então, novamente, eu adormeci.

O tal do para sempre - É isso que dá brincar de pega-pega com o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora