A Face Do Fim | Trilogia: Faces | Spin-off

Capítulo 16 - Decisão

A garota que eu estava encarando não parecia nada com ela mesma, seu olhar parecia sem brilho, seu sorriso parecia forçado, eu gostaria de poder ajuda-la, eu faria qualquer coisa para mudar a realidade dela, se estivesse ao meu alcance

Mas eu não posso fazer nada

Eu não imaginava que um dia veria meu reflexo tão destruído, logo eu, que sempre mantive um sorriso no rosto

- Vamos lá, Joice - me encorajei

Minha roupa estava de acordo com a ocasião, um vestido preto simples, que sem dúvidas voaria com o vento leve que soprava naquela noite de lua cheia, era agradável e belo, uma lembrança de que eu ainda tinha o que sentir, o que ver, um mundo todo que eu não conhecia e que depois de ELA... Eu tinha a obrigação de apreciar e desvendar

Entrei no meu carro e dirigi conscientemente, parei nos sinais, deixei os pedestres passarem em cada faixa, usei o cinto e não toquei o meu celular, nem mesmo quando ele me chamou brilhando com uma nova mensagem recebida

Depois da minha calma viagem, parei o carro próximo ao bar já conhecido por mim, saí dele calmamente e tomei uma longa respiração antes de ir em direção a entrada, antes que eu pudesse alcançar o estabelecimento, meu celular vibrou na minha mão, desbloqueei e surpreendentemente sorri ao ver de quem era

Heitor:
Você está mesmo vindo hoje, né? Por favor, diga que sim.

Guardei de volta o aparelho, eu não previsava escrever, ele teria sua resposta em poucos minutos, pensando nisso, finalmente tomei coragem e entrei no bar, o lugar estava cheio, típico de uma sexta-feira, fui em direção ao meu banco habitual, Heitor logo me viu, ele sorriu e veio em minha direção, animado, seus olhos de prata brilhavam

- Joice - ele se aproximou e deixou um singelo beijo nos meus lábios, me surpreendendo - Oi

- Oi - sorri - Como você está?

- Estou bem e você?

- Bem - olhei em volta - Esse lugar está bem cheio

- Sim, está

Olhei para ele novamente, seu olhar estava pregado em mim, eu queria correr para perto e para longe ao mesmo tempo, era um paradoxo sufocante que eu sabia exatamente porque existia

ELA

Senti um aperto no peito só de lembrar o motivo de eu estar aqui, eu precisava contar o que ia acontecer, ele precisava saber que eu não estaria aqui por muito mais tempo, esse peso tinha que sair de mim

- Heitor, eu... - olhei diretamente em seus belos olhos - Eu queria conversar com você, mas eu preciso ir para a churrascaria hoje, eu...

- Eu vou dar um jeito - ele sorriu - Espere, eu vou pedir para o meu tio ficar aqui um pouco para mim

- Seu tio? - fiquei surpresa pela menção do homem meio rabugento

- Sim - ele assentiu - Um minuto - ele correu para trás do bar e me deixou ali, esperando

Olhei em volta, respirei fundo e comecei a pensar no que dizer:
a) Então, Heitor, vou morrer em breve, eu tenho uma doença terminal
b) Eu estou doente, já ouviu falar de Esclerose Lateral Amiotrófica?
c) Então, eu não tenho muito tempo de vida, eu tenho uma doença que vai tirar todos os meus movimentos, até me matar

Droga! Nada disso parece bom!

- Olá, Joice - de repente, o tio de Heitor estava na minha frente

- Oi - sorri

- Demorem o tempo que precisarem - ele olhou para Heitor - Você trabalha demais, menino