- Pai, não! - balancei minha cabeça, andando de um lado para o outro dentro do quarto - Eu queria que fosse assim, você não percebe? É demais para ele, até parece que não conhece o próprio filho
- Eu vou ter uma longa conversa com ele, Joice! Ele é seu irmão, vocês devem ajudar um ao outro!
- Ele está me ajudando, por favor, entenda, eu imploro
- Joice!
- Pai! Eu só quero que passem por isso sem deixar marcas profundas, a dor da minha partida já não é o suficiente? Fernando não merece viver com imagens de sua irmã se desfazendo, ele não vai suportar isso, nenhum de vocês merece isso
- Não ouse, Joice - a voz dele estava embargada
- Eu gostaria de sumir e impedir que vocês...
- Não! Volte imediatamente!
- Em breve, pai - limpei as lágrimas com as costas da mão - Por favor, faço isso por vocês
- Não acho isso certo
- Vocês vão perder uma filha, querem perder o outro também? Se Fernando ficou tão abalado ao me ver desmaiar, como acha que ele vai se sentir ao me ver em uma cadeira de rodas?
- Filha...
- Como acha que ele vai ficar ao me ver paralisada? E quando eu perder a fala? E quando o brilho dos meus olhos se for? Ninguém merece passar por isso, se eu posso livrar meu irmão dessa dor, eu farei
O outro lado da linha ficou triste, sim, completamente, escutei o choro do meu pai e deixei o meu próprio vir, ele tentava falar, mas nada saía, ele respirava forte e o som deixou meus músculos doloridos e meu peito apertado, eu sabia que tinha pegado pesado, o homem durão que me criou estava mudo pela dor, o sofrimento, causados por mim, eu não podia evitar, infelizmente, isso não estava ao meu alcance
- Pai, eu te amo - sussurrei - Até logo - desliguei o aparelho e sentei na cama, a dor era real, era quase palpável, aquele sentimento era forte, o ar estava pesado e eu não podia fazer nada para impedir isso
Eu sabia que não poderia planejar tudo com perfeição, eu sabia que meu plano poderia falhar, quando eu se for, talvez meus pais fiquem desolados, Fernando se sinta culpado, Léo e Lucca pensem que não fizeram o suficiente e ainda tem ele
Meus olhos de luar
E se ele se torturasse? E se acabasse mal? Se Heitor nunca se recuperasse do abandono, se ninguém conseguir adentrar em seu coração? Se eu o tiver deixado fechado e isolado?
Deus! Por favor, os ajude! Os proteja! Não deixe que sofram, eu imploro!
Eu estava criando uma teia, estava tecendo cada fio de seda lentamente e com cuidado, ela precisava se manter firme mesmo quando eu não estivesse mais presente, eu não iria me martirizar, eu esperava que a minha fé fosse o suficiente para todos, eu precisava acreditar, era tudo o que eu tinha
...
- O belíssimo coliseu - Léo apontou - Olhem só para ele, uma estrutura criada para grandes combates, de grandes gladiadores, sabiam que já aconteceram execuções nele, i miei amici?
- O que é isso aí que você disse? - perguntei
- Meus amigos - ele sorriu convencido - Depois do nosso encontrinho, eu passei a noite estudando algumas palavras e frases importantes, eu preciso saber conquistar uma mulher como um bom estrangeiro perdido
- Essa é sua tática? - arqueei uma sobrancelha
- Eu tenho muitas táticas, ruiva
- Você disse execuções, Léo? - Lucca batia fotos do monumento, completamente intrigado e observador
Ele descansado é outra coisa
- Sim - Léo se aproximou de Lucca, animado em explicar - O lugar exibia espetáculos, lutas e execuções públicas, as pessoas que vacilavam naquela época não tinham perdão, eram mortas, humilhadas na frente de muitas pessoas, vou te dar um exemplo, Santo Inácio de Antioquia, aluno do apóstolo João, foi morto no Coliseu, ele foi dado aos leões, devorado na frente de vários espectadores, acredita que o cara ainda disse: "Eu sou o trigo de Deus. Tenho de ser triturado pelos dentes das feras, para tornar-me um pão puro de Cristo" - Léo suspirou - Corajoso!
- Uau - murmurei
- Muito interessante, brutal, mas não deixa de ser interessante - Lucca observou o coliseu - É uma estrutura belíssima, mesmo estando tão acabadinha
- O tempo o deixou assim, por causa dos espetáculos um tanto quanto... Violentos, o Imperador Honório decretou a proibição, o coliseu foi deixado, largado, abandonado - Léo suspirou - Terremotos, saques, ele se tornou assim, algumas pessoas comentam que cada casa de Roma tem um pedacinho do Anfiteatro Flaviano
- Quer dizer que as pessoas roubavam pedaços do lugar e construíam suas casas? - Lucca olhou para Léo
- Você sabe - Léo tocou o ombro do amigo - Há quem diga que sim
- Incrível - Lucca sorriu e se aproximou mais da estrutura, tirando mais fotos
- Diz aí - sorri - Você sabe disso porque conheceu uma italiana incrível
- Ah ruiva - ele riu - Na verdade, eu sou bem apaixonado por histórias... Intensas, eu conheço algumas formas de tortura da antiguidade e batalhas de gladiadores, se eu não tivesse nascido para ser advogado, eu teria estudado história
- Estou impressionado - Lucca disse - Primeiro por você saber tanto de história, segundo por ter aprendido tanto de uma língua em uma noite
- Eu também - assenti - Você seria um ótimo guia turístico, aprende rápido
- Eu não quero inflamar seu ego ainda mais, Léo - Lucca o encarou - Mas você é bem inteligente e cheio de cultura
- Eu sei disso, Lucca - ele sorriu e arrumou a gravata, era óbvio que o ego dele tinha sido preenchido por hora
- Vamos almoçar? - pedi - Depois continuaremos nossa caminhada e Léo ajudará a preencher nossas mentes vazias
- Faço o que for preciso pelos amigos, ruiva
- Não se ache muito, mas temos que te dar o crédito hoje - pisquei
- O que vamos comer? - Lucca sorriu - Pizza?
- Não! - Léo balançou a cabeça - Não vamos ser clichês, vamos procurar algo com nome estranho
- Aqueles pratos que não temos ideia se serão bons? - zombei
- Esses mesmos, ruiva
- Estou de acordo - Lucca sorriu - Vamos procurar aqueles restaurantes bonitos com mesas do lado de fora, de preferência uma construção clássica e elegante
- Estamos procurando sabor, senhor arquiteto - brinquei
- Vou procurar aqui no Google - Léo levantou o celular - Andiamo a pranzo, i miei amici
- O que é isso? - perguntei, com um imenso sorriso no rosto
- Vamos almoçar, meus amigos - ele sorriu - Achei um restaurante que vai agradar a todos
- Boa comida? - questionei
- Ótimas recomendações, ruiva
- Uma boa e bela construção clássica? - Lucca perguntou
- Digna de um arquiteto como você
- Espero que isso seja um elogio, Léo - Lucca apontou o dedo indicador para ele
- Eu nunca desprezaria seu trabalho, Lucca, você é um ótimo arquiteto - Léo riu
- Leonardo - Lucca parecia desconfiado
- Vamos meninos, sem brigas - fiquei entre os dois e segurei suas mãos
- Vamos - Lucca suspirou
- Andiamo! - Léo exclamou
Sorri, apertei a mão dos meus amigos e segui pelas belas ruas italianas
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A Face Do Fim | Trilogia: Faces | Spin-off
DragosteJoice Alencar vivia... Sonhando, sorrindo e planejando, tudo parecia estar caminhando como ela desejava e sem sombra de dúvidas, ela merecia cada momento incrível, entretanto, algo estava para mudar o rumo de tudo, sonhar, sorrir e planejar nunca fo...