Pseudópodes

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Eu disse que era assexual,

Ele me perguntou se eu era uma ameba.

Com uma risada alta de 'você não sabe o que fala.'

Eu observei os carros passarem da janela enquanto ele falava e falava.

Talvez seja uma ameba, um parasita que pode mudar de forma.

Estou sempre mudando de forma, me encaixando em cada espaço que me derem.

Estou lá, até me percebam e me expurguem.

Não é fácil, essa vida de ameba.

"Vem cá, mas me dá um beijo."

Amebas não beijam.

Amebas observam de longe e se locomovem com seus pseudópodes.

Ameba imagina beijar ele como beijar o espelho de um banheiro,

troca de bactérias e frieza.

"Não, não leve pelo lado pessoal."

"Vem cá, deixa eu segurar sua mão suada por alguns segundos e fingir que essa noite não é um trem descarrilhado."

Ameba pensa quem foi a primeira pessoa que teve a ideia de enfiar a língua na garganta da outra.

Deve ter sido uma situação engraçada.

Ameba e ele pediram a conta em um silêncio desconfortável.

Mais um expurgo de uma ameba.

Ao chegar em casa eu tive um pesadelo em que me dividia em duas.

E ela tomava todo o meu café e não me sobrava nada. 

Pseudópodes e outros poemasOnde histórias criam vida. Descubra agora