No bar

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Sexta-feira, 23:45. Um bar de alguma cidade por aí, ao som de Fagner:

"Do que você gosta?"

A pergunta veio repentina.

Analítico, como quem observa um animal particularmente diferente.

E essa pergunta, sempre a mesma pergunta.

"Eu gosto de acordar com o som da chuva em uma manhã de domingo."

Um revirar de olhos.

"Na cama."

"Isso, na cama."

"Não, eu pergunto o que gosta na cama."

"Um bom colchão e uma tomada por perto."

Um gole da cerveja e um olhar frustrado.

Eu continuo sorrindo.

"Você gosta de homem ou mulher?"

"Particularmente de nenhum, pessoas são estranhas."

"E sexo?"

"O que tem?"

"Se gosta."

"Gosto de café."

Uma risada baixa.

"Assexuada?"

"Não sou planta. Me parti várias vezes, nunca brotei de nenhum dos pedaços."

"Puta desperdício hein."

"3,30 no restaurante da esquina."

"O quê?"

"O desperdício."

Ele vai embora.

Eu volto a focar na voz de Fagner.

Pseudópodes e outros poemasOnde histórias criam vida. Descubra agora