início

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Como todas as histórias de amor em livros, nós resolvemos contar a nossa.

Minha e de Any, para ser mais preciso.

Nossa história.

Eu gostaria de compará-la como uma onda que se quebra e tenta se separar do mar correndo em direção a areia, mas não consegue. Então volta para onde se deve estar.

Uma conexão profunda, vocês não entenderiam...

Ou entendam, porque, particularmente... eu nunca pensava que um sentimento assim poderia ser real.

Eu não sou muito bom com as palavras como ela, então desde já peço que me perdoem, no decorrer da leitura entenderão o porquê.

Como se começa uma história mesmo?

NOAH POV

Quando ouvi o barulho da água escorrendo da nuvem e se aproximando do chão, não imaginaria o que estava por vir. É normal que, devido ao ambiente no qual estou nesse momento, estar preocupado não seja precipitado. Me levantei em destino ao tanque para pegar os baldes que minha mãe guardava debaixo do mesmo, mas não antes de passar em seu quarto e conferir se estava bem aconchegada.

A encontrei de bruços, segurando fortemente seu cobertor. Eu não conheço muito o passado da minha mãe, ela nunca quis me contar e também penso que seja muito difícil e doloroso. De uma coisa eu sei, ela é uma mulher guerreira, luta sempre pelo que quer e nunca se deixa vencer pelo cansaço. Com os anos, eu fui crescendo, vendo quão o sacrifício que ela fazia por nós dois estava a cansando. Decidi retribuir tudo o que fez por mim, não deixando que trabalhasse mais. Quando começou a ficar doente e sentir dores fortes na coluna, foi o pontapé inicial para eu acordar e começar a fazer algo quanto a isso.

O meu maior medo é perdê-la, ela é tudo para mim. E quando esse sentimento veio até mim, lembrei-me da situação na qual estamos e que se ela tivesse uma doença, a morte seria o destino final.

Infelizmente, eu ganho muito pouco.

Me agachei para ficar na altura da cama, beijei sua testa e desejei boa noite. Foi só esse simples gesto que a fez despertar de seu sono tranquilo.

- Filho, você está acordado? — apertou os olhos, franzindo a testa, levantando calmamente para sentar-se no colchão.

- Desculpe mãe, não queria te acordar. — me expressei preocupado por ter atrapalhado o sono dela e sentei na ponta do seu colchão.

- Ah, foi bom ter me acordado, gostaria de conversar com você. Um assunto que não pode ser deixado para depois. — cruzou os braços, levantando uma sobrancelha.

- Sim, mãe. — desviei os olhos para a madeira que separava seu quarto da cozinha-lavanderia. Já imaginava onde aquela conversa ia dar.

- Você sabe que eu estou ficando doente e eu sei que pode ser difícil falar sobre isso — olhou fixamente em meus olhos, segurando em minha mão.

- Mas, se um dia eu partir... — desviou os olhos, pesarosa.

Não... não... isso não vai, não pode acontecer! Neguei com a cabeça.

- Gostaria de te ver feliz, meu amor. – ela voltou com os olhos para mim, minha vista começando a ficar embaçada.

- Eu quero que deixe um pouco de se importar com os outros e passar a focar mais em você. Entende? — arqueou as sobrancelhas e apertou minha mão.

- Mãe... — neguei com a cabeça, secando o rosto com as costas da outra mão livre de seu toque.

Ela interrompeu

- Escute, Noah! Você já é um homem, precisa encarar que as coisas não são da maneira que esperamos, filho. Eu te amo, a última coisa que gostaria é te deixar. — falou firme, enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto.

Baixei os olhos para sua mão segurando a minha.

- Por que está me dizendo isso? — balancei a cabeça para os lados, com uma expressão de dor em meu rosto.

E era o que eu estava sentindo dor.

Só de imaginar a minha vida sem a mulher que me deu ela.

- Eu preciso que você me diga! — arrancou as lágrimas com as costas das mãos.

- Que se acontecer algo comigo... — a voz embargada. - Vai sair deste lugar onde estamos e ser feliz por você mesmo! Me promete que vai começar a pensar na sua felicidade!

- Você não me respondeu...

E nesse momento fui interrompido por um trovão, que soou como uma bomba atingida no céu. Trazendo consigo o desastre de gotas fortes e seu som contra o chão.

Dona Joyce me puxou para um abraço.

- Eu te amo tanto meu filho. — disse entre soluços. - Por favor, prometa pra mim?

O estrondo no céu foi ouvido pela segunda vez e a chuva cada vez mais forte. A água já estava a vazar pelo telhado.

- Preciso pegar os baldes. — me desprendi de seu abraço e corri em direção ao tanque.

Mas foi apenas esse segundo para que o desastre em um piscar de olhos acontecesse.

Um temporal veio como um relâmpago, destruindo só de uma vez o telhado improvisado que colocamos, caindo de uma vez em cima da mulher que eu mais amei nesse mundo.

- MÃE!!! — corri em sua direção, mas o resto do telhado caiu impedindo o meu caminho.

- NÃO VEM AQUI, VÁ PROCURAR ABRIGO!!!

- EU NÃO VOU TE DEIXAR! — minha voz entrecortada e a tempestade cada vez mais forte, impedindo que eu ouvisse sua voz.

- FILHO... EU... — disse entre soluços. - NÃO VAI ADIANTAR!!!

- EU NÃO CONSIGO PASSAR!! VOU PEDIR AJUDA!!!

Corri para o lado de fora, mas não precisei ir em direção a nenhum barraco.

Todos já tinham se retirado de suas casas, procurei o Tio Joseph e o Bill.

- EU PRECISO QUE VOCÊS ME AJUDEM, O TELHADO CAIU EM CIMA DA MINHA MÃE.

Fomos em direção a minha casa, a chuva diminuindo aos poucos...

Mas, já era tarde.

- Mãe, vamos tirar você daqui! Eu trouxe ajuda! — disse diminuindo o tom da voz, a chuva já estava quase parando.

Aos poucos fomos tirando tudo que estava por cima, eu não estranhei o fato dela não estar respondendo. Pensava que estava medindo esforços, já que provavelmente poderia estar sentindo dor.

Ledo engano...

Quando retiramos a última peça sobre ela percebi o motivo dela ter dito que não adiantava. O resto de telhado havia perfurado seu estômago.

Eu a balancei, ela poderia estar desmaiada.

Ela tem que estar desmaiada...

Senti tio Joseph encostar em meu ombro.

- Noah, acho melhor nós...

- NÃO! Ela tá viva, ela só... desmaiou pelo impacto do telhado. — continuei balançando seu corpo.

- Parça, não faça isso consigo mesmo. — foi a vez de Bill se pronunciar. - Só o impacto do telhado...

- CALA A BOCA! ELA FALOU COMIGO! ELA... — antes que eu completasse, percebi o sangue escorrendo pelo chão.

Coloquei meus dedos em seu pulso. A cor sumindo do meu rosto.

Foi o suficiente para que eu caísse de joelhos e na realidade que, de agora em diante, teria que aprender a viver num mundo sem ela. 



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