2 - Ni

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" Toda vez que fecho os meus olhos
É como um paraíso sombrio
Ninguém se compara a você
Eu temo que você não estará esperando do outro lado." - Lana del Rey - Dark Paradise.

— Tá na hora de acordar, não é?... – disse sua mãe o sacudindo. Já era tarde quando ele abrira seus olhos para o mundo, e, seu grande problema era esse: o mundo. De alguma maneira ele achava que viver era apenas uma prova. Algo mais profundo e melhor está por vir. Por vezes ele acreditava que a morte era apenas uma forma livre de se tornar livre. Por um tempo pensou seriamente nisso. Para ele não adiantava viver.

Meus sonhos e planos para o futuro estão todos quebrados. Não tenho força e nem razão para continuar... Talvez seja melhor... - pensamentos que alguém que habita no escuro sempre dizia para ele.

Por um bom tempo ele viveu por uma garota. Ele achava que ela era a mulher de sua vida, e por isso, cuidou e deu todo o carinho possível para ela. Canções, poemas, versos, presentes... Eram coisas que ele tinha oferecido para a garota. Chegou certo momento que ele não imaginava mais sua vida sem ela; passou a viver para ela. Seus planos era de estudar, trabalhar e dar tudo para ela. E todos os dias elogiar seus lindos cabelos, e dizer o quanto a amava, e quando velhinhos ficar na varanda a observar, o pôr do sol, que já caia no infinito mar. Preferia tomar para si as mágoas, dores e qualquer coisa que deixasse ela mal. Ele a amava; ela nem tanto.

Em uma bela noite ele descobriu. Descobriu que a garota dos seus sonhos... Era apenas mais uma que brincava com seus sentimentos. Ele havia descoberto que ela vinha o traindo por uns longos três meses. Parecia não acreditar no que tinha descoberto. Não era ela. Não era a menina que ele pensava que era digna. Mas, infelizmente era. Ele chorou. Por toda a madrugada ela chorava como um menino que teve seu pirulito roubado. Seus planos e sonhos era um fracasso, era um time que tinha tudo para ganhar, mas perdeu...

Foi então que ele começou a se odiar. O ódio se tornou amigo íntimo do rapaz. Por um longo tempo ele ficou em casa, e, de preferência no escuro. Alguém que mora lá disse para ele que era melhor, disse também que ele era seu único amigo... Ele acreditou. Afinal, queria alguém para cuidar dele. Era raro ele abrir sua boca para pronunciar algo, sua família e amigos perceberam isso. Não era mais aquele menino que vivia feliz e sorridente, era um menino estranho e sombrio. Esse foi o período em que ele decidiu se odiar e odiar os outros ao seu redor. Sua vida agora, era ficar em casa preso lendo seus livros – Agora, livros onde demônios estavam inclusos, onde o ódio era vivido no personagem. Para ele, aquilo era uma forma de se sentir bem, e sim, ele ficava bem. Mas à noite seus pensamentos iam junto a menina que lhe fez de otário – ele ainda gostava dela, mas o amor que ele tinha por ela virou ódio.

Desde então, ele vivia pelos cantos calado e solitário. Nada parecia importar; nada fazia sentido.

                                 ×××

Quando o menino estava jogando Super Mário Word em seu celular, chega uma notificação do Wattpad. Ele puxa à barra de status e verifica do que se tratava. Era mais uma indicação. Só que dessa vez, a menina disse que a amiga dela tinha indicado ele para ela. Ele abriu um sorriso e fez uma cara de dúvida:

— Alguém me indicou?! – disse mordendo seu lábio inferior — Woo! Parece até que sou importante!

Parecia ironia que uma menina havia indicado ele para sua amiga. Não era normal. Ele ficou Feliz, o dia havia começado bem. Ele logo disse que leria o livro da menina - livro que se chamava Love Story, ele ainda acrescentou um:

"Se for tão bom quanto o de sua amiga..."

Então foi no perfil da menina, e deu uma olhada no nome da mesma – parecia uma japonesa. Mas sem mais delongas ele adicionou a obra leu dois capítulos e ficou bastante surpreso. Pensava ele que seria aquela histórias quentes de amor que ele já "estava por aqui" de ler. A obra era composta por amor e poesia, amor de verdade... – pensou consigo mesmo, antes de mandar uma mensagem para a menina no chat:

[ Minha querida autora. Gostei pacas do jeito que escreve. Gostei muito do fato do romantismo e da linda poesia, o amor...
Bem, estou sem tempo para ler agora - tenho que jogar vídeo-game com um amigo para relaxar um pouco –, mas à noite vou lê-la.]

Mandou a mensagem para a menina e foi para casa de seu amigo. Era uma bela disputa entre o menino e seu amigo, eles já estavam jogando por umas longas 3 horas seguidas. Pausa apenas para um lanche. O jogo em questão era Super Street Fighter II, um dos clássicos do Nintendo. Eles não ligavam para gráficos modernos, gostavam de jogar os jogos que marcaram sua infância e que até hoje fazem sucesso. Era a longa a lista de jogos de Nintendo reservados no computador do amigo. Era um dos passa-tempo preferidos dos dois. Nessa tarde quem ganhava era seu amigo. Ah, ele tem a vantagem de jogar em casa!

O celular vibra. Uma nova mensagem acaba de chegar. Ele dá pausa no jogo, pega seu celular e nota que a menina respondeu. Ele não ligou muito, continuou jogando. Depois mais uma mensagem chega. Uma mensagem da mesma menina, ela disse que tava adorando o livro do menino. Ele sorriu. Era muito bom saber que alguém estava gostando de seus escritos.

   

                               ×××

A partida estava cada vez mais emocionante. De um lado tínhamos Ken e do outro Ryu. Essa o menino ganhara e deu quase um pulo de vitória apontando o seu dedo indicador para seu amigo:

— Eu sabia! – disse — Tente da próxima Ryu.

Os dois ficaram jogando por mais um tempo. Já era tarde, o sol já estava descendo no horizonte quando chegou mais uma mensagem da menina. Uma mensagem um tanto que estranha:

[Eu sei que não tem nada a ver... Mas você tem qntos anos? E uma pergunta que tá tirando mnha amiga e eu do sério... Vc é homem, certo? 'RS desculpa pela última pergunta.]

O Menino ria muito quando viu essa mensagem. Mostrou-a para seu amigo, ele riu ainda mais. O Menino sabia que seu perfil era anônimo no wattpad – gostava do fato de ninguém saber direito quem é o autor por detrás da obra, vai ser um bom mistério –, por isso não culpou a curiosidade das meninas. Ele ficou rindo mais um pouco e depois jogou mais algumas partidas quando lembrou de responder a menina:

[Tenho 18 anos. E sim, sou homem. Garoto, seria mais adequado. E vocês?]

E por mais uma vez ele voltou para o jogo. Depois de alguns minutos ela responde:

[Eu e mnha amiga temos 14. E somos meninas! Õ/]

Não deixou se analisar a resposta da menina. Bem, tava na cara que elas eram meninas. Mas resolveu não questionar, também não simplificou sua pergunta de modo adequado. Então resolveu apenas mostrar seu sorriso em um tom meio que "dã". Logo em seguida chegou outra mensagem ainda mais engraçada:

[Vc parece ser uma boa pessoa!! De onde vc é? Se não for muita ousadia, gostaria de ser meu amigo "virtual"?]

Ele abriu um sorriso sincero. Pareceu gostar da idéia. Então respondeu que seria uma boa idéia, porque poderiam se ajudar com os livros. Só que preferiu pelo WhatsApp, ela deu seu número para ele, e ele o anotou.

JOUEYOnde histórias criam vida. Descubra agora