5 - GO

183 20 16
                                    

" Um sorriso de anjo é o que você vende
Você me promete o Céu, então me coloca no
inferno
Correntes de amor me prendem
Quando a paixão é uma prisão, você não consegue
se libertar."  – Bon Jovi - You Give Love a Bad Name.

FRIO. ESTAVA FRIO quando ele acordou entre seu grosso cobertor. Era engraçado que ele não tinha um cobertor tão grosso como aquele antes de ir dormir. Mãe.... Sua mãe. Desde que ele disse que talvez possa ir  embora final do ano para São  Paulo, sua mãe vem lhe tratando como um príncipe. Ele amava isso, aliviava as broncas. Talvez ela não queira que ele vá com as más lembranças de uma mãe que nunca deu carinho para seu filho. De fato. Ele era sempre o último dos mais preferidos. Sua mãe deixava isso claro à um tempo atrás, ao dizer na sua cara que preferia que ele tivesse nascido morto; ou até mesmo se ela pudesse voltar no tempo para ela mesmo o matar. Fatos que o deixavam sempre de lado; pra baixo. Viveu sem amor de mãe. Viveu sem amor de ninguém... Talvez o amor que vem de Deus. Esse sim, era real. Por  isso que depois de tantas coisas que sua mãe lhe disse, ele não esteja numa clínica psiquiatra. Mesmo assim gostava de sua mãe. Ela estava realmente tentando ser uma boa mãe para ele; e ele não iria reclamar disso. Amava ela – apesar de quase não falar com ela.

Naquela manhã ele sentiu um carinho vindo dela com aquele simples gesto. Ficou feliz, começou bem o dia. Lembrou da menina dos olhos puxados, lembrou das conversas que não pareciam ter fim – ele preferia assim, sem fim. Só eles o dia inteiro conversando diversos assuntos. Parecia dois matutos malucos por debates, era assim que ele gostava. A idéia de ter alguém que compartilhe das mesmas coisa entravam rápido na cabeça do menino. Ele sorriu. Torceu por uma mensagem dela no WhatsApp. A mensagem não veio. Sua expressão foi de "poxa, seria perfeito se tivesse uma mensagem aqui". Enfiou a cabeça debaixo do travesseiro. E deu gargalhadas! Sim, gargalhadas. Estava feliz por ter conhecido alguém como ele. E uma "não-mensagem" não ia estragar isso. Levantou em um pulo. Pegou a toalha e foi tomar um banho, nem se importou com o frio. Até csntou What A Wonderful World, de Luis Armstrong:

Eu vejo o céu azul e nuvens brancas,
O brilhante dia abençoado, a sagrada noite escura.
E eu penso comigo mesmo,
Que mundo maravilhoso!

— Ora, está feliz, hein? – disse sua mãe ao ouvir cantando.

— Não posso dizer que não, dona! – disse, quase em um grito — Estou muito feliz, maínha.

— Ora, que bom, estava pensando que ainda estava mal ainda por conta...

— Mãe, isso é passado – não deixou que ela terminasse. Ia falar do caso da traição. O Menino não gostava de lembrar disso, não agora que ele estava feliz. Seus poucos momentos felizes não poderiam ser estragados.

— Tudo bem, filho – disse. — Olha, deixei um pedaço de bolo pra você no forno. Depois me diz se gostou.

— Tudo bem, maínha, aposto que está uma delícia – disse rindo, sabia que não estava.

— Dessa vez acho que ficou bom – acrescentou sua mãe. — Vou na casa da mãe ajudá-la na faxina. Vem comigo?

— Talvez, Mãe...

— Tudo bem – disse. — O café está do jeito que gosta. Agora preciso ir, tchau!

— Hmm... Tchau, maínha.

                         ×××

Ficou se olhando no espelho, antes de pegar seu celular. Vou mandar uma mensagem para ela – pensou. Estou no WhatsApp, e viu que ela estava on-line. Que sorte... Talvez destino. – riu dessa pensamento Bobo. Ficou por uns bom tempo olhando as letras do teclado colorido... Não posso. Ela... Pode pensar coisas. Vou esperar ela me chamar. – Ah, sempre o orgulho fazendo que muitos casais nunca possas desfrutar do amor. Mas, no caso só menino era medo. Medo de que a menina pensasse que ele era pegajoso – coisa que ele não gostava que pensasse. Nem com sua ex ele não era assim. Por que você não liga, não manda mensagem nem nada? – Uma vez sua ex namorada disse isso. Sua resposta foi fria e sincera: Não quero que me abuse. Quero que me conheça aos poucos, assim como eu quero te conhecer, amor.

Então, ficou ali apenas olhando as conversas passadas, e as fotos da menina dos olhos puxados. O frio na barriga permaneceu... Ele sorriu.

                           ×××

Estava com "Gabriela" e um amigo fora de casa, quando uma mensagem chega.

— Cara, esse seu  toque é irritante. Você sabe disso, não é?

— Vou trocar – ele sempre dizia isso, porém nunca trocava, sempre esquecia.

Marcou a folha com um pedacinho de grama e foi verificar quem mandava a mensagem. Ele sorriu. – Nem é preciso dizer quem foi...

Começaram ali mais uma maratona de assuntos diversos. Onde, ele e ela pareciam felizes por estar conversando um com o outro.

[O que faz de bom por aí?]

Ele perguntou.

[ Bem, estou no trabalho. Mas não é um "trabalho", pois nem faço muitas coisas, e também não quero isso agora. Rs']

As vezes ele esquece que ela tem apenas 14 anos. Parece ter mais com essa inteligência. O fato é que ele não via nela uma simples menina de 14 anos, via nela como ele mesmo; como se a idade fosse apenas a idade.

JOUEYOnde histórias criam vida. Descubra agora