Capítulo 20
- Mellany?
Senti uma mão acariciar desde meu ombro até meu pulso devagar, e abri os olhos com a mesma velocidade, acostumando minhas pupilas à pouca claridade do ambiente.
- Hm? - respondi, espreguiçando-me um pouco e abrindo os olhos de vez. A pele de Louis, que havia servido de travesseiro para mim durante as últimas horas de sono, ocupavam metade de minha visão, enquanto a outra metade era preenchida pelo interior do carro e pelos trechos do céu que os vidros me permitiam ver. Já estava começando a amanhecer.
- Acho melhor você voltar pra sua cama - a mesma voz suave e rouca voltou a falar, enquanto seu dono me fazia um leve cafuné - E eu, pra minha.
Suspirei preguiçosamente, sentindo seu perfume invadir meus pulmões, e por um segundo, o impulso de continuar ali com ele quase foi mais forte que a vontade de voltar para a cama com Hazza.
- Não conseguiu mesmo dormir? - sussurrei, com a voz falha pelo sono, e ergui meu rosto para poder ver o dele. Fortes olheiras marcavam a região abaixo de seus olhos, respondendo à minha pergunta sem que ele precisasse dizer uma palavra.
- Digamos que você dormiu por nós dois - ele sorriu fraco, e eu fiz o mesmo, um pouco envergonhada.
- Desculpe - eu disse, sem jeito, e ele respondeu com um risinho.
- Se você tivesse roncado ou babado em mim, eu não desculparia - ele retrucou, com a expressão levemente autoritária, e logo depois voltou a sorrir - Mas você se comportou bem, então está tudo certo.
- Idiota - resmunguei, sorrindo junto, e um silêncio incômodo se instalou entre nós. Desviei meu olhar do dele, sem mover mais nenhum outro músculo, mas pude sentir que seus olhos se mantiveram fixos em mim. Respirei fundo, sentindo meu coração acelerar por alguma razão desconhecida, e me esgueirei para o banco do carona para vestir minha calcinha. Louis fez o mesmo, mas só colocou a calça, mantendo-se sem camisa. Homens e sua injusta falta de necessidade de roupas.
- Bom... Vou entrar - murmurei, encarando minhas mãos inquietas, que brincavam com a barra de minha camisola. Louis virou o rosto para me olhar, e eu resolvi fazer o mesmo, trêmula. Me afastar dele estava ficando cada vez mais difícil, mas eu não queria nem iria me dar por vencida.
- Tudo bem - ele respondeu, e aproximou seu rosto do meu, o suficiente para nossos lábios se encontrarem. Correspondi ao seu beijo calmo e inesperado, sentindo meu corpo arder para ir mais além, mas logo me afastei, ao contrário dele.
- Tchau, Louis - falei perturbada, deixando-o no vácuo e abrindo a porta do carro, mas ele segurou meu braço.
- Espera - ele pediu, e eu soltei um suspiro contido, com o corpo tenso pelo nervosismo - Só me responda uma coisa... Quando posso te procurar de novo?
Fechei os olhos por alguns segundos, buscando forças para dar uma resposta repreensiva, mas enganar a mim mesma não era meu forte. Muito menos enganar Louis.
- Você sabe onde me achar - foi tudo o que consegui dizer, abrindo pesarosamente meus olhos e encarando os dele, com esforço para não me perder ali.
Um sorriso discreto apareceu nos lábios dele, que desviou seus olhos dos meus por alguns segundos, como se imaginasse o momento em que me procuraria novamente, e depois voltou a me encarar, agora com um brilho que eu conhecia bem ardendo em suas íris.
- Você também - Louis murmurou, finalmente soltando meu braço e me permitindo sair do carro. Fechei a porta da Ferrari com cuidado para não fazer muito barulho, e caminhei lentamente até a soleira da casa, toda encolhida devido ao vento levemente frio que soprava. Sem conseguir resistir, olhei na direção do carro e o observei dar ré e sumir pela rua, me causando uma estranha sensação de vazio. Suspirei pesadamente, passando as mãos pelo rosto num discreto ato de desespero, e entrei na casa, engolindo toda a noite passada e me preparando para olhar para Hazza novamente.
Subi as escadas cautelosamente até chegar ao quarto, onde ele ainda dormia. Sua pele parecia estar ainda mais vermelha do que da última vez que o vi, talvez pela luminosidade ainda fraca do sol e pelo contraste ainda maior que ela causava em relação aos lençóis brancos da cama. Apesar de sua respiração estar calma, Hazza mantinha a testa franzida, como se seu sono fosse leve e tenso, e batia o queixo, como se estivesse com frio. Pensei em cobri-lo, mas com certeza eu o acordaria, e a ardência de sua pele não ajudava muito a apoiar minha idéia. Mordi meu lábio inferior, morta de pena e de aflição por não poder nem tocá-lo, e o machucado causado por Louis nesse local reagiu a essa ação com uma pontada forte e inesperada. Segurei um gemido de dor e passei a ponta da língua pelo corte, sentindo gosto de sangue. Legal, aquele não curaria tão cedo.
Fui até o banheiro da suíte para ver como estava a minha situação, e quase tive um treco. Eu estava deplorável: toda descabelada, pálida, com leves olheiras sob os olhos e com o lábio inferior um pouco inchado, bastante avermelhado na região do machucado. Balancei levemente a cabeça em sinal de negação, encarando meu próprio reflexo com uma conclusão em mente: Harry Styles e Louis Tomlinson, dois homens maravilhosamente lindos, só podiam ser loucos por gostarem de uma garota tão feia como eu. Fato.
Fiz minha higiene matinal, aproveitando a temperatura e o silêncio agradáveis para tomar um bom banho, completamente absorta em meus pensamentos. Vesti uma calcinha branca com bolinhas coloridas e uma blusa branca de Hazza que chegava até a metade de minhas coxas, e suspirei profundamente antes de me virar na direção da cama, onde ele continuava imóvel e frágil. Seu rosto carregava os traços inocentes de uma criança, e apesar de ter acabado de sair do banho, me senti completamente podre.
Me sentei ao seu lado devagar, observando seu sono desconfortável, e não demorou muito para que minha visão ficasse embaçada e uma lágrima escorresse pelo meu rosto, descendo rapidamente até pingar na blusa. Imediatamente a enxuguei, fungando baixinho e esfregando os olhos com as costas das mãos. Se ele acordasse e me visse chorando, eu não saberia o que dizer. Ele jamais poderia me flagrar naquele estado, não sem motivo aparente. Além do mais, eu havia escolhido aquele caminho, portanto, eu deveria arcar com as conseqüências de meus próprios atos. Eu era fraca demais, incapaz de controlar minhas ações, e merecia sofrer calada por isso. Não havia perdão para o que eu estava fazendo, e muito menos pelo fato de me conformar com isso. Eu merecia passar por todo aquele sofrimento. A culpa era toda minha.
Deitei a cabeça no travesseiro, ainda encarando o perfil de Hazza, e continuei velando seu sono, até que o cansaço me venceu, auxiliado por mais algumas lágrimas silenciosas e insistentes que escaparam por meus olhos e umedeceram a fronha sob meu rosto. Quando na verdade, eu merecia me afogar nelas.
Dedos se enroscavam em meus cabelos lentamente, fazendo um carinho gostoso no topo de minha cabeça. Um sorriso tímido surgiu em meu rosto; eu podia sentir meus lábios se curvando apesar de ainda estar dormindo. Respirei fundo, apenas aproveitando o toque dos dedos quentes em minha cabeça, e abri os olhos lentamente. Tudo o que vi foi... Rosa?
- Te acordei? - um sussurro ecoou pelo quarto, me fazendo pular de susto e olhar na direção da voz. Em meio a todo o rosa que ocupava minha visão, os olhos verdes deHazza entraram em foco, um tanto quanto aflitos.
- Não, eu... Nossa, Hazza, como você está? - suspirei, em choque, só então me dando conta de que todo aquele rosa era nada mais, nada menos que a pele dele, contrastando vigorosamente contra o branco dos lençóis.
- Bem - ele respondeu, acompanhando meu olhar como se aquele fosse seu estado dermatológico normal - Só... Arde um pouco, e faz frio ao mesmo tempo. Chega a ser engraçado.
- Não, Hazza, não é nem um pouco engraçado - gemi baixinho, me sentando na cama - Olhe só pra você... Eu não acredito que te deixei chegar a esse ponto.
- Mel, você não teve culpa de nada - ele negou, franzindo levemente a testa em sinal de indignação - Eu é que devia ter tomado mais cuidado. Além do mais, você não tem a obrigação de cuidar de mim.
- Claro que tenho - retruquei, encarando-o com seriedade - Não é só porque eu sou mais nova que devo me esquecer de ter responsabilidades.
- Pare de se culpar pelo meu bronzeado, senão eu levanto daqui agora mesmo e vou tomar mais sol - Hazza resmungou, me fazendo sorrir de leve alguns segundos depois. Olhei pra ele, que também sorria, só que ainda mantinha alguns traços de sua falsa expressão séria no rosto, e balancei negativamente a cabeça.
- Seu bobo - murmurei, sentindo meus olhos ameaçarem lacrimejar diante da fofura dele, mas engoli o choro e não fugi de seu olhar.
- Eu também te amo - ele riu, mostrando a língua logo depois - Agora vamos mudar de assunto, estou me sentindo um paciente terminal desse jeito.
- Desculpe por me preocupar com você - brinquei, fingindo desprezo - Não tenho culpa por ter calafrios só de te ver rosa desse jeito.
- Ah, vai dizer que eu não estou sexy assim, todo fogoso? - Hazza brincou, fazendo cara de gigolô, e eu por pouco não dei um tapa em seu braço, acostumada a demonstrar minhas reações às suas piadas com uma certa violência.
Assim que nosso riso cessou, um sorriso permaneceu em meu rosto, sem que eu me desse conta disso. Hazza me imitou involuntariamente, me fazendo alargar ainda mais meu sorriso, e logo eu já estava sorrindo abertamente, como se não houvesse motivos no mundo para derrubar uma lágrima sequer. Ele acariciou minhas bochechas sutilmente, e logo depois eu aproximei meu rosto do seu, dando-lhe um leve selinho, que sem querer se transformou num beijo mais intenso.
- Ai, desculpa! - implorei, quando a pele extremamente quente de seu peito entrou em contato com a palma de minha mão por uma fração de segundo, fazendo-o contrair os músculos da região em sinal de dor - Tá ardendo muito?
- Não, tudo bem, já... Já passou - ele gaguejou, com os olhos fechados enquanto a marca amarelada de minha mão em seu peito tornava-se gradativamente vermelha de novo. Hazza voltou a me olhar, com a expressão ainda levemente sofrida, e eu mordi meu lábio inferior, esquecendo-me novamente de meu machucado nesse local. Dessa vez, não consegui conter um gemido de dor, o que o fez notar o corte e olhar com certo interesse para ele.
- Acho que também peguei sol demais - expliquei, com cuidado para não tropeçar nas palavras devido ao nervosismo - Minha boca tá toda rachada.
- Hm - ele respondeu vagamente, e eu senti a tensão se transformar em alívio dentro de mim - Eu ia sugerir que você aproveitasse mais algumas horas de praia antes de irmos, mas parece que não sou o único querendo distância de sol por aqui.
- É - concordei, dando um sorrisinho sem graça. Não tinha conseguido ficar muito bronzeada nem com o dia anterior de sol, o que eu sabia que não conseguiria reverter em poucas horas, e além do mais, eu não queria deixar Hazza sozinho no quarto, muito menos ficar sozinha na praia. Por mais estranho que isso possa parecer, Hazza me distraía de todos os maus pensamentos e aflições que percorriam minha mente, e sem ele, eu provavelmente teria uma síncope. Como isso não estava nos meus planos - pelo menos não enquanto eu não estivesse na minha casa, mais especificamente no meu quarto -, preferi não aceitar a sugestão dele.
- Então o que acha de comermos alguma coisa e voltarmos pra casa? - ele perguntou, entortando a boca em sinal de reflexão. Imitei sua expressão e olhei para o relógio ao lado da cama: meio dia e quarenta e um. Foi então que uma espécie de terremoto tremeu tudo dentro de mim, e eu tive uma grande descoberta: estava terrivelmente faminta.
- Eu acho uma ótima idéia - respondi, assentindo devagar pra ele, que riu de meu olhar sonhador.
- A gente bem que podia comer aquela lasanha instantânea enorme que tá no congelador, né? - Hazza sorriu, adotando o mesmo olhar de criança que eu ao falar.
Não precisei nem responder, apenas sorri de um jeito guloso e corri para a cozinha, ouvindo as gargalhadas de Hazza cada vez mais distantes. Preparei a lasanha (que era realmente enorme e parecia ter uma vinte camadas) o mais rápido que pude, e sem nem me preocupar em parti-la ao meio, levei-a para o quarto. Devoramos quase todo aquele monte de queijo e massa, rindo de nossa própria gula e drenando todo o suco de uva que eu havia levado para o quarto. Só nos demos por satisfeitos quando já era uma e vinte e sete.
- Isso é que é vida - Hazza suspirou de olhos fechados, recostando-se na parede atrás da cama e com as duas mãos cobrindo cuidadosamente sua barriga avermelhada e inchada pelo excesso de comida. Soltei uma risada meio retardada diante da expressão zen dele, o que me deixou na dúvida sobre se o que tínhamos bebido era suco de uva ou vinho.
- Queria poder morar aqui - comentei, após minha breve crise de riso, e encarei o céu azul e limpo que a janela me permitia ver - É realmente um lugar maravilhoso.
- Não sei por que o Boo Bear não se muda de vez pra cá - Hazza disse, olhando vagamente na mesma direção que eu, e assim que ouvi o nome de Louis, meu estômago revirou perigosamente - Quer dizer, o pai dele é podre de rico, e ele, por ser filho único, também é... Pra que trabalhar naquela espelunca de escola quando se pode viver tranqüilamente num lugar como este? Eu juro que tento, mas já desisti de entender o que o prende naquela cidade.
Franzi levemente a testa após ouvir as palavras dele, com os pensamentos subitamente a mil. Então o pai dele era rico mesmo, como Louis já havia me dito antes? Como ele teria enriquecido tanto a ponto de poder dar ao filho tamanho conforto financeiro? E já que tinha tanto dinheiro, por que Louis insistia em morar em Londres, enquanto tinha aquela casa perfeita só para si? O que o prendia àquele apartamento, e o mais intrigante ainda, àquele colégio? Pegar aluninhas era tão importante assim na vida dele?
Omiti um sorrisinho ao imaginá-lo vivendo naquela casa. Por alguma razão, visualizá-lo morando ali me ajudou a entender a razão pela qual ele não o fazia: a solidão. Louis era exatamente o tipo de pessoa que gostava de viver no meio de gente (em especial mulheres), em meio aos barulhos da cidade, onde ele sabia que sempre havia outras pessoas circulando... Ele precisava constantemente de companhia. E isso era uma das poucas coisas que um lugar como aquele não poderia oferecer.
- Desculpe por ter falado dele... Às vezes, eu me esqueço de que vocês não se dão muito bem - Hazza murmurou, virando-se pra mim com um olhar culpado e me puxando de volta à realidade - Foi sem querer.
- Tudo bem - sorri fraco, engolindo todos os pensamentos sobre Louis com certa dificuldade e voltando a focá-los em Hazza.
Ficamos mais algum tempo naquele estado de preguiça pós-almoço, até que eu tomei coragem e levei a louça para a cozinha, lavando-a rapidamente e retornando ao quarto logo em seguida. Assim que voltei, dei de cara com Hazza tentando se levantar, totalmente em vão.
- Ei! - exclamei, correndo até ele ao vê-lo cair sentado novamente na cama com uma expressão de dor - Você é doido? Não vai conseguir se levantar sozinho!
- Claro que consigo... Só preciso me esforçar mais - ele disse, com a voz baixa, e agora que estava mais perto, pude ver que seus joelhos haviam adquirido uma tonalidade vermelho berrante devido ao seu esforço para ficar de pé.
- Quantas vezes você tentou se levantar? - perguntei, arrepiada só de pensar no quanto aquilo devia estar ardendo.
- Algumas - ele respondeu, erguendo o rosto pra me olhar e respirando fundo, mas assim que viu meu rosto se fechar numa expressão brava, logo corrigiu - Calma, foram poucas!
- E agora, Hazza? - indaguei, esfregando o rosto com as mãos e encarando-o reflexivamente em seguida - Se você mal consegue se manter de pé, como vai dirigir por horas até voltar pra casa?
- Eu já disse que estou bem! - ele exclamou, irritado - Só preciso treinar mais um pouco, confie em mim!
- Não seja idiota - falei, séria, após respirar fundo junto com ele, numa tentativa de esfriar os ânimos e pensar claramente - Eu não vou deixar você ficar se esforçando dessa maneira, e ainda por cima, pra nada. Nós dois sabemos que não adianta treinar porcaria nenhuma, ficar tentando se levantar só vai piorar as coisas. Temos que arranjar um jeito de ir embora que não envolva você na direção de um carro.
- Eu sei que você está certa, mas a questão é que não temos outro jeito - Hazza suspirou, derrotado, e eu me mantive séria - A não ser que você conheça alguém que possa e queira vir nos buscar.
Na hora, uma pessoa apareceu em minha mente, que serviria exatamente para aquela tarefa, mas juntei o pouco de juízo que me restava e preferi não opinar. Pena queHazza teve a mesma idéia que eu, e ao contrário de mim, pareceu achar a opção aceitável.
- Se bem que... Tem o Boo Bear.
Engoli em seco, rezando pra que ele desistisse daquela idéia, ou pra que outra pessoa viesse em nossas cabeças e pudesse substituí-lo. Droga, seria tão difícil assim arranjar alguém que não fosse um poço de luxúria pra nos dar uma carona? Além do mais, ele ficaria no mínimo louco de raiva por ter que voltar ao lugar de onde havia acabado de sair, o que não seria algo exatamente bom, tanto para nós como para ele. A simples idéia de ter que interagir com um Louis irritado me dava uma pontada de medo.
- O Boo Bear? - balbuciei, tentando não demonstrar minha resistência àquela sugestão e buscando desesperadamente um bom empecilho - Mas... E o seu carro, como fica? Se ele aceitar vir nos buscar, terá que vir com o carro dele, ou seja, um dos dois vai ficar sobrando... Não daria muito certo.
Segurei uma risada maléfica diante de minha brilhante escapatória, mas o ar ainda tranqüilo de Hazza ao me responder não me permitiu continuar tão alegre.
- Ah, quanto a isso não precisamos nos preocupar - ele deu de ombros pesarosamente - Quando o empregado vier arrumar a casa amanhã, ele mesmo leva o carro do Boo Bear de volta pra Londres. Além do mais, o Tomlinson tem dois carros, fora a moto, não vai sentir tanta falta de um deles se tiver que deixá-lo aqui por alguns dias.
- Ah... Entendi - foi tudo que consegui dizer, totalmente desmoralizada pela resposta de Hazza. O dinheiro é uma merda, especialmente quando pertence às pessoas erradas. E que engraçado, ele sempre pertencia às pessoas erradas!
- Então... Acho que ele é nossa única saída - Hazza murmurou, extremamente sem graça pelo desânimo em meu rosto, e eu apenas suspirei, sem outra solução para nosso problema. Era só me controlar, só isso... Algumas horas dentro de um carro com Louis e Hazza? Tsc, moleza, fala sério.
Hazza pegou o celular que estava na cama e ligou para o amigo, sob meu olhar disfarçadamente apreensivo. Conforme ele conversava com Louis, eu tentava deduzir sua resposta, e ao mesmo tempo, inevitavelmente imaginava como ele estaria respondendo. Com sono, sem dúvida. E mal-humorado, talvez? É, grandes chances de mau humor.
- Erm, é... Obrigado, cara... E desculpa mais uma vez - Hazza agradeceu pouco antes de desligar, sem graça, e assim que o fez, olhou pra mim com a expressão tristonha - Ele tá vindo... Só espero que não durma pelo caminho, porque até eu fiquei com sono só de ouvir a voz dele.
- Hm - murmurei, engolindo a sincera pena que senti dele, junto com a vontade de falar um palavrão dos bem cabeludos. Agora era oficial: eu estava ferrada. Muito ferrada.
Arrumei nossas coisas dentro das mochilas rapidamente, me vesti, e ficamos esperando o tempo passar, vendo um pouco de TV e conversando menos ainda. Um silêncio estranho caiu sobre nós, mas eu não me incomodei com ele. Confesso que a lembrança de que Louis estava a caminho quase me fez subir pelas paredes de nervosismo em alguns momentos, mas sempre que eu estava prestes a fazê-lo, Hazza iniciava timidamente algum assunto e eu me recompunha.
Quando o que me pareceu o milésimo seriado de TV estava acabando, um fraco ruído de motor ecoou do lado de fora da casa, me fazendo prender a respiração. De repente, passar o resto da vida dentro daquele quarto me pareceu uma opção muito mais fácil do que sair dele e ter que encarar Louis outra vez. Um frio com o qual eu já estava relativamente acostumada dominou meu interior, me deixando levemente ofegante, mas eu respirei fundo e simplesmente o ignorei. Ou pelo menos tentei.
- Acho que ele chegou - falei, sem nem pensar, e Hazza, que também parecia ter notado o barulho do lado de fora, pediu:
- Vai lá dar uma olhada, por favor?
Me esgueirei até a janela, sentindo meu coração revirar a cada passo, e assim que o carro de Hazza entrou em meu campo de visão, vi também a moto amarela e linda deLouis (e obviamente, seu dono sobre ela). Ele desceu da moto, com óculos escuros que o deixavam simplesmente irresistível, um casaco de moletom branco que, mesmo sendo de um tecido relativamente grosso, não conseguia disfarçar sua forma física impecável, e uma calça jeans clara. Nem preciso mencionar os tênis extremamente brancos e perfeitos e o cabelo desajeitado pelo vento de um jeito extremamente sedutor, certo?
- É, ele... Ele chegou - falei, com muito esforço pra respirar, e só desgrudei meus olhos dele quando não era mais possível vê-lo pela janela. Pude ouvi-lo abrir a porta no andar de baixo e subir as escadas, arrastando os pés a cada degrau, como se aquilo lhe custasse a vida. Louis entrou no quarto, colocando os óculos escuros na gola da camiseta, e a única coisa que fez foi olhar para Hazza e arregalar levemente seus olhos cansados.
- Caralho, Styles... Que cagada.
- É, eu sei - Hazza resmungou, encarando o amigo com um olhar envergonhado. Não sei por que, mas senti uma vontade enorme de gargalhar. Como tenho amor à minha vida (pode até não parecer em alguns momentos, mas eu juro que tenho), me contentei em continuar quieta, interpretando parte da mobília do quarto.
- Bom... Vamos? - Louis perguntou, parecendo segurar o riso assim como eu, e me lançou um rápido olhar divertido. Foi impossível não sorrir de volta, mesmo que discretamente, e uma incrível vontade de abraçá-lo e sentir a textura macia de seu casaco surgiu em minha mente.
- Claro, eu só preciso de ajuda pra me levantar - Hazza apressou-se em responder, me lançando um olhar embaraçado. Entendendo o recado, assenti depressa, com medo de ter viajado demais nos caminhos sinuosos do olhar de Louis, e caminhei até a cama para ajudá-lo a ficar de pé. Estendi uma mão para que ele se apoiasse, e quando fui oferecer a outra, a mão de Louis substituiu o vazio, e sua presença inesperadamente próxima me arrepiou da cabeça aos pés.
- Se você pretende mesmo levantar, acho melhor se apoiar em alguém forte de verdade - Louis explicou, quando Hazza o olhou surpreso, e por mais incrível que isso possa parecer, não identifiquei nenhum rastro de provocação implícita em sua voz. Tentei engolir uma resposta diante da surpreendente educação dele, mas a vontade de retrucar foi mais forte do que eu.
- Eu sou forte de verdade - murmurei, mais pra mim mesma do que para ele, tentando abafar meu leve incômodo com seu comentário, que até então, me parecia benigno. O problema era que, por mais que eu realmente achasse que Louis conseguiria ajudá-lo a se levantar com mais habilidade do que eu, meu humor sempre ficava um pouco fora dos eixos diante da presença dele, pendendo pra uma certa rispidez desnecessária.
- Mel, calma - Hazza pediu baixinho, me encarando por um momento com o olhar levemente repreensivo, e logo e seguida ficando de pé, graças ao apoio de nossas mãos.Louis passou cuidadosamente um dos braços do amigo por cima de seus ombros (e se eu não estiver ficando doida de vez, pude jurar ter visto um sorrisinho esperto desenhar seus lábios) e eu fiz o mesmo do outro lado, diminuindo o peso em suas pernas. Descemos as escadas devagar, poupando Hazza de quase todo o contato entre seus pés e o chão - como eu previa, Louis foi muito mais habilidoso nessa parte do que eu, mesmo carregando também nossas mochilas, graças a sua massa muscular muito mais desenvolvida que a minha -, e rapidamente o colocamos no banco traseiro de seu carro. Quando estava prestes a me sentar ao lado dele, Louis, que até então guardava nossas coisas no porta-malas, surgiu bem ao meu lado e interferiu:
- Brown, é melhor você ir na frente. Ele vai precisar de bastante espaço.
Olhei pra Louis, sem saber ao certo como reagir, e como Hazza não demonstrou resistência, e até pareceu concordar com ele, fui para o banco do carona. Assim que coloquei o cinto de segurança e vi Louis sentar-se em seu banco, bem ao meu lado, soube que aquela viagem seria perigosa. Inspirei fundo, esperando que o oxigênio me trouxesse algum conforto logo, mas foi simplesmente inútil. O perfume dele entrou com tudo em meus pulmões, devido à nossa proximidade, e eu rapidamente expirei, como se aquilo fosse me ajudar em alguma coisa.
Louis ajeitou-se rapidamente e não demorou muito para que já estivéssemos fazendo o caminho de volta a Londres. Passamos boa parte da viagem em silêncio, sem sentir muita necessidade de falar, e quando havia diálogo, era porque Hazza havia puxado algum assunto comigo. Minhas respostas eram monossilábicas, e apesar do clima calmo dentro do carro, meu nervosismo era quase nítido: minhas mãos suavam frio, agarradas uma à outra, meus olhos mantinham-se firmes no horizonte e meu coração batia absurdamente acelerado pelo risco que eu corria estando num lugar tão pequeno com os dois. E como se tudo isso não bastasse, o fato de Louis estar extremamente tranqüilo, contrariando totalmente o que eu esperava encontrar, me pegou desprevenida e me deixou atordoada. Ele quase parecia uma pessoa normal naquele momento, dirigindo sem pressa, fora a aura de beleza que sempre o envolvia e o destacava dentre os demais mortais. O que será que ele havia fumado pra ficar daquele jeito?
- Meu Deus, que dor de cabeça - Hazza sussurrou, deitado no banco de trás e com uma das mãos sobre a testa. Olhei para ele, que estava de olhos fechados em sinal de sofrimento, e ouvi Louis dizer, sem tirar os olhos da estrada:
- Eu tenho uma cartela de analgésicos na carteira, se você quiser.
Hazza abriu os olhos e sorriu de leve, aliviado.
- Você quase me mata de tesão quando diz exatamente o que eu quero ouvir, Tomlinson - ele respondeu, e eu não consegui conter um sorriso.
- Pois da próxima vez, espero que você morra pra que eu não te imagine tendo uma ereção por minha causa - Louis retrucou, fingindo nojo em sua expressão e também sorrindo um pouco enquanto tirava a carteira do bolso traseiro da calça com certa agilidade - Brown, dá um comprimido pra ele.
Fiz o que ele pediu, tentando disfarçar a leve tremedeira de minhas mãos devido à enorme relação de familiaridade entre eu e aquela carteira, e felizmente consegui passar despercebida. Hazza logo engoliu o comprimido, agradecido, e voltou a fechar os olhos, esperando-o fazer efeito.
Comecei a fazer tímidos desenhos abstratos sobre minha coxa, coberta pela calça jeans, apenas contando os segundos para me livrar daquela enrascada e poder respirar tranquilamente pela primeira vez em três dias. O caminho parecia muito mais longo e torturante agora em comparação à ida, e o por que disso era mais do que óbvio. E o que mais me agoniava era o jeito inesperadamente calmo de Louis, fazendo duas possibilidades disputarem espaço em minha mente: ou algo estava muito certo, o que não ajudou em nada a me acalmar, porque o certo de Louis não era nada confiável; ou algo estava muito errado. Confesso que a segunda opção me causou leves calafrios, porque sempre que algo errado envolvia sorrisinhos sem motivo aparente dele, era praticamente certeza de que eu também estava envolvida. E particularmente, eu ainda não estava totalmente pronta para saber se gostava de participar de seus erros.
Resumindo: tomara que a primeira opção seja a correta, seja lá o que ela for.
OK. Ou talvez não.
Uns vinte minutos de silêncio ficaram para trás durante minha pequena reflexão, até que um barulho curioso foi crescendo aos poucos no interior do carro e me fez voltar à realidade. Franzi a testa ao perceber que ele vinha do banco de trás, e quando olhei na direção do som, minha respiração parou. O barulho era o ronco de Hazza, que dormia feito pedra, de boca aberta e babando no estofado do próprio carro.
O que significava que eu estava praticamente sozinha com Louis.
Harry? Amor da minha vida? Que tal deixar a sonequinha pra mais tarde?
Voltei a olhar pra frente, engolindo em seco, e mantive meus olhos fixos no céu já escuro à minha frente. Sentia meu coração se contorcer em agonia a cada batimento, e cada segundo a mais de silêncio da parte de Louis era comemorado como um segundo a menos de perigo.
Pena que minha felicidade costuma durar pouco. E ela já estava durando demais, eu sabia disso.
- Vai ficar na casa dele? - Louis perguntou, naquele seu tom subitamente hippie, e eu quase pulei de susto ao ouvir sua voz, apesar de seu volume razoavelmente baixo. Sem conseguir compreender direito a pergunta, sob pressão demais para organizar as palavras em minha mente, apenas olhei rapidamente para ele, e pude notar que um sorrisinho surgiu em seu rosto.
- Vou - murmurei, quando finalmente consegui recuperar a razão. Será que eu estava finalmente conseguindo ter uma conversa digna com Louis Tomlinson ou eu estou prestes a acordar?
- Ah... - ele disse, erguendo as sobrancelhas em tom de lamentação - Que pena.
Franzi a testa, sem entender sua resposta, e voltei a olhar para ele. Assim que o fiz, ele devolveu meu olhar, e imediatamente suas íris me transmitiram uma overdose de malícia, a qual eu não estava exatamente pronta para receber. O choque pela mudança brusca de atitude de Louis me deixou paralisada por alguns segundos, mas nada que me impedisse de ouvir o fim de sua frase.
- A Ferrari já está com saudades de você.
Senti meus pulmões virarem aço dentro de meu peito, porque além de parecerem momentaneamente impossibilitados de respirar, seu tamanho pareceu quadruplicar, esmagando meu coração e tornando suas batidas absurdamente intensas.
- Do... Do que você... Tá falando? - gaguejei, num sopro de voz, e ele apenas aumentou seu sorriso, voltando a encarar a estrada. Tentei respirar, sentindo meu cérebro pedir por ar, mas o progresso que consegui foi quase nulo. Quando me preparava para tentar novamente, ainda com os olhos presos no local onde antes estavam os dele, senti sua mão explorar a parte superior de minha coxa, acariciando-a com uma certa pressão e somente parando quando a distância entre ela e minha virilha era quase insignificante. Quando atingiu seu objetivo, ele aumentou a intensidade de sua pressão, e imediatamente meu corpo inteiro se arrepiou. A lembrança de seus toques veio à tona, me desnorteando completamente e deixando minha visão levemente turva.
- Acho que já tem sua resposta - Louis disse, colocando todo o seu charme na voz, e novamente me olhou daquele jeito libidinoso - Ou ainda não é o suficiente?
Ele fez menção de mover sua mão numa direção não muito recomendada, e eu agarrei seu pulso com as duas mãos na mesma hora, em desespero. Meus dedos gelados tremiam escandalosamente contra sua pele quente, mas eu não o deixaria vencer meu autocontrole. Não naquele momento, não naquele lugar.
- Por favor... - ofeguei, fechando os olhos por um momento e buscando a firmeza necessária para tornar minha voz um pouco mais audível - Pare com isso.
- Parar com o quê? - Louis sussurrou, como se estivéssemos brincando de esconde-esconde e não pudéssemos ser ouvidos, e seu sorriso passou a demonstrar também uma leve diversão - Com isso?
Assim que pronunciou a última palavra, ele voltou a pressionar a parte interna de minha coxa, e eu novamente senti a onda de arrepios percorrer minha espinha. Meu aperto em seu pulso intensificou-se involuntariamente, transmitindo minha reação a ele e fazendo seu sorrisinho só aumentar, tornando-se até um baixo riso.
- Incrível como você está demorando a perder a graça - ele falou, com os olhos maliciosos pairando em direção à estrada - A cada dia, se torna ainda mais divertida, como um perigoso brinquedo que se renova constantemente... E se torna cada vez mais excitante.
Dessa vez, me recuperei mais rapidamente da provocação dele, bem a tempo de assimilar com o que ele estava me comparando.
Um brinquedo? Então era essa a imagem que ele tinha de mim? Um simples objeto, que ele podia subordinar às suas vontades quando bem entendesse?
Em que porra de mundo aquele merda vivia pra se sentir no direito de me dizer algo como aquilo?
Uma raiva incontrolável começou a borbulhar em meu estômago, me fazendo pensar que voaria nele a qualquer momento e o mutilaria até que alguém conseguisse me parar. Respirei fundo, ainda sentindo minhas mãos tremerem, mas agora por outro motivo, e então a raiva atingiu em cheio minha garganta, escalando-a e queimando-a com tamanha fúria que minha voz parecia um rosnado quando as palavras irromperam de minha boca.
- Tire a sua mão imunda de mim. Agora.
Louis virou o rosto para me encarar, com a expressão repentinamente séria. Ao encontrar meu olhar enraivecido, ele franziu a testa de leve, num misto de confusão e surpresa. Extremamente incomodada com seu insistente contato físico, eu voltei a falar, só que agora com o triplo de firmeza:
- Me solta, Tomlinson.
Ele parecia ter sido pego totalmente de surpresa pela minha reação negativa, e seus olhos não conseguiam se desgrudar dos meus, como se buscasse alguma explicação neles. Mas tudo que conseguia ver era o enorme nojo que eu sentia, e todos os velhos sentimentos que eu nutria por ele antes de toda aquela loucura começar. Apesar de ainda carregar uma enorme confusão em seus traços, ele pareceu entender o recado e finalmente me soltou, permitindo que minha respiração normalizasse. E então, tudo aconteceu muito rápido.
Uma buzina soou, vinda de trás de nosso carro, nos lembrando de que ainda estávamos na estrada. Alarmados, viramos o rosto bruscamente pra frente, e demos de cara com outro carro parado a menos de dois metros de nós. Louis pisou no freio na mesma hora, com os olhos arregalados, e só Deus sabe como conseguiu fazer com que parássemos sem causar danos a nenhum dos automóveis.
Devido à parada brusca, fui impulsionada para frente, quase sendo enforcada pelo cinto de segurança, assim como Louis. Ao mesmo tempo, um baque surdo e um quase grito de dor vieram do banco de trás, e eu nem precisei olhar para saber o que havia acontecido.
- Hazza! - exclamei, assim que meu corpo voltou à posição normal com um movimento nada delicado, e me virei em sua direção. Ele havia caído no chão do carro, e procurava apoio desesperadamente nos bancos ao seu lado para voltar para cima, ainda soltando gemidos doloridos.
- Mel, tá tudo bem com você? Meu Deus do céu, Tomlinson, o que diabos foi isso? - ele disparou, em desespero, enquanto eu o ajudava como podia a deitar-se novamente, e me concentrava em não olhar para outra direção que não fosse o banco traseiro do carro.
- Desculpa, eu... Me distraí - Louis murmurou, ainda encarando com certo espanto o veículo à nossa frente, cujo motorista agora empurrava para o acostamento devido a um defeito. Engoli em seco, tentando acalmar meu coração descompassado, e assim que Hazza já estava em seu devido lugar, retornei à minha posição correta.
Levei alguns minutos para recuperar o fôlego e acalmar minhas mãos trêmulas, e para acelerar o processo, abaixei o vidro do carro, apesar do leve frio que fazia, deixando que o vento gelado invadisse meus pulmões com maior facilidade. Durante todo o caminho, Hazza se manteve acordado, porém assustado demais para falar, e com Louis não foi diferente. Eu ainda sentia minha garganta fechada devido ao grito que prendi na hora da quase colisão, e não pretendia forçá-la tão cedo, ainda mais diante da presença de Louis, com quem já não mais valia a pena falar. Até a leve proximidade de nossos corpos passou a me incomodar, me sufocar, como se houvessem mãos invisíveis me esganando.
Chegamos com certa rapidez a Londres, fato que me aliviou profundamente. Mais depressa ainda, devido ao trânsito calmo, o prédio de Hazza tornou-se visível, e em menos de cinco minutos, o carro já estava estacionado na frente do edifício. Louis desligou o automóvel, afundando-nos num silêncio ainda maior, e Hazza foi o primeiro a quebrá-lo:
- Erm, Boo Bear... Muito obrigado mesmo pela ajuda. Desculpe ter te incomodado.
Louis balançou a cabeça levemente em negação, e seus olhos mantiveram-se perdidos pelo painel do carro. Sem conseguir olhar para nenhum dos dois, continuei fitando minha calça jeans, até que Louis saiu do carro e seguiu em direção ao porta-malas para pegar nossas mochilas. Fiz o mesmo, sentindo meu estômago afundar, e ajudei Hazza a se levantar, logo depois sendo auxiliada por Louis. Fomos em silêncio até seu apartamento, passando por um Andy chocado ao ver o estado de Hazza, e só o soltamos quando ele já estava sentado em sua cama.
- Mel, você pode acompanhar o Boo Bear até a porta, por favor? - Hazza murmurou sem jeito, com um sorrisinho fraco, e antes que eu pudesse pensar numa resposta, Louis se pronunciou:
- Não precisa, Styles. Eu conheço o caminho.
- Hm... Bom, boa noite então - Hazza não insistiu, sorrindo sinceramente agradecido e levemente preocupado com o amigo, o que só fez meu estômago afundar mais ainda em sinal de desânimo - Te vejo amanhã... Eu acho.
- Se cuida - Louis murmurou, erguendo rapidamente um dos cantos de sua boca numa tentativa frustrada de sorrir, e nem sequer me olhou antes de ir embora. Fiquei paralisada por alguns segundos, e somente quando a porta do apartamento bateu, indicando que ele havia realmente partido, meu coração revirou dentro do peito, devolvendo-me a consciência. Ou pelo menos parte dela.
- Eu vou... Trancar a porta e... Eu já volto - gaguejei, sem conseguir organizar as idéias em minha mente e sentindo minha garganta arranhar a cada palavra. A única coisa da qual eu tinha certeza absoluta era de que precisava ficar pelo menos cinco minutos sozinha, caso contrário seria capaz de morrer asfixiada. Hazza apenas assentiu, ajeitando-se melhor em sua cama, e eu praticamente corri até a entrada do apartamento. Girei a chave, que ainda balançava devido ao movimento de Louis para fechar a porta, na fechadura, ouvindo a tranca mover-se discretamente, e apoiei minhas costas contra a madeira, sentindo minhas pernas tremerem perigosamente.
Abaixei a cabeça num ato derrotado, sendo tomada por pontadas fortes de dor no peito. Sem conseguir entender por que meus olhos estavam se enchendo d'água naquela velocidade monstruosa, desisti de lutar contra a fraqueza súbita de meus joelhos, deixando-os ceder ao meu peso e me derrubar sentada no chão. Enterrei meu rosto discretamente molhado por duas tímidas lágrimas e, por mais que estivesse tentando evitar, minha vontade de chorar só aumentava. Era inútil nadar contra a correnteza. Assim como era inútil fingir que eu não tinha me deixado envolver por Louis, nem ao menos por um segundo... Seu cheiro, sua pele, seu calor, seu gosto, seu toque, tudo me convidava, me chamava, me envolvia, como um vício, uma praga, uma maldição.
Saber que ele pensava em mim daquela forma tão suja, tão superficial, como se eu fosse um simples brinquedo, foi um golpe duro, e mais dura ainda foi a consciência de que eu jamais poderia esperar mais do que isso dele. Mas, mesmo sabendo disso, eu não cumpri minha parte no trato. Eu me iludi, me deixei levar por sensações supérfluas, momentâneas, e que agora já não bastavam mais para mim. Eu precisava de alguém que realmente me amasse como Hazza me amava, mas que também pudesse me dar o que só Louis era capaz de me dar. E apesar de me sentir certa em relação ao que havia feito com Louis, era inegável que meu corpo já dava sinais claros de que sentia falta dele.
Mesmo sabendo que eu estava com a razão, tudo o que eu queria fazer era passar o resto da noite esperando inutilmente pelo momento em que ele voltaria, e eu poderia dizer tudo que estava entalado em minha garganta, mesmo que as palavras não fizessem sentido... Tudo o que eu queria era poder mostrar a ele o quão importante ele havia se tornado em minha vida, por mais errada que tivesse sido sua passagem por ela. E que, apesar de tudo, algo me dizia que ele não podia ficar longe de mim... Que eu não o queria longe de mim.
Mas esse momento não aconteceria, eu tinha plena consciência disso. Ele provavelmente já estaria dentro de um táxi naquele exato momento, voltando para sua enorme e deserta casa, e assim que chegasse, enterraria seu corpo sob o largo e grosso edredom de sua igualmente vasta cama... E igualmente vazia.
Visualizá-lo sozinho naquele apartamento provocou uma fisgada insuportavelmente intensa em meu peito, e eu contive um gemido de dor. Respirei fundo, reunindo todas as forças que aquele fim de semana ainda havia me deixado, e focalizei meus pensamentos em uma única coisa. Hazza.
Ele sim me merecia. Ele sim me amava. Ele sim faria qualquer coisa por mim, eu sabia disso. E, no entanto, não era por ele que eu chorava. Só então eu percebi o quão injustas e traidoras minhas lágrimas eram, passando a queimar meus olhos conforme caíam, e trazendo consigo a pergunta que eu daria a vida para poder responder.
Por que eu insistia em seguir o caminho errado?
Aproveitando-me de um momento de lucidez, ergui meu rosto e engoli o choro, respirando profundamente. Enxuguei minhas lágrimas com as costas de minhas mãos trêmulas, e reunindo os pedaços de mim que ainda restavam, me levantei devagar. Meu caráter podia estar completamente destruído, mas ainda havia alguém por quem valia a pena sorrir. E agora que eu já havia me desfeito de uma de minhas metades, só o que me restava era cuidar da outra, que, naquele momento, precisava de mim mais do que nunca.
Mas talvez não tanto quanto eu precisava dela.
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Biology
Fiksi PenggemarAqui vai ser contada a história de Mellany Brown, também conhecida como Mel, você acha que nunca iria se envolver com um professor, imagine dois Obs: Essa fanfic não é minha, ela é postada no site fanficobsession.com.br