Capítulo 8

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O principal conflito entre os homens e as mulheres não é consequência dos jogos que jogamos, e sim das regras diferentes que seguimos. Nós temos umas e eles têm outras.

Do capítulo intitulado «os porquês»

Robert não tinha percebido que Brianna estava ansiosa até que ela o abordou. Mal havia posto um pé na sala principal, quando se viu rodeado por um grupo de empregados carregados com enormes jarros de flores de inverno e uma mão graciosa o segurou pelo braço com uma força surpreendente.
— Preciso de ajuda. —Sua cunhada praticamente o arrastou até uma lareira de mármore italiano junto a um conjunto de poltronas de veludo. — Os convidados estão começando a chegar e o chá será servido dentro de mais ou menos uma hora. O que você acha de colocarmos as rosas bem aqui?
O ramalhete de botões vermelhos e brilhantes contrastava de forma espetacular com a pedra branca, por isso ele respondeu com lógica:
— Acho que está muito bonito.
Ela olhou para ele com olhos suplicantes e uma pequena mancha nas bochechas.
— Você tem certeza?
Ele tirou um lenço do bolso e limpou a tal substância, que tinha um suspeito aspecto de pólen.
— Tenho certeza absoluta.
O rubor de suas bochechas e o tique nervoso na mão o lembrou que Brianna só tinha vinte anos, e embora aparentasse estar segura de si mesma, não estava acostumada a sua nova posição como duquesa de Rolthven. Seu nível de experiência nesse tipo de coisas era limitado.
—A senhora Finnegan — ele disse com tanto tato quanto pôde — tem trinta anos como governanta, e saberá o lugar exato onde colocar as rosas para que causem o melhor efeito, já que organizou muitas reuniões campestres no passado. Minha mãe a teria roubado de nós sem piedade quando foi para a Itália se pudesse convencê-la. Eu acredito que Finnie ficará encantada se delegar a ela algumas decisões.
—Desejo tanto que tudo seja perfeito — disse Brianna com uma seriedade cativante. —Colton aceitou todo este assunto quase como uma imposição, e se for um desastre eu o colocarei em ridículo, além de fazê-lo perder tempo.
Por um segundo, quando Robert observou seu rosto encantador e viu aquela sinceridade em seus olhos, invejou seu irmão por ter uma esposa. Não Brianna especificamente, embora fosse uma mulher bonita em todos os sentidos, e ele admirasse sua coragem e inteligência, mas pela ideia dela ter se dado ao trabalho de planejar essa festa. Não porque seu irmão fosse olhar as rosas, ou muito menos onde elas estavam, mas porque ela desejava fazer Colton feliz acima de tudo.
Pensamento pequeno. Robert estava bem familiarizado com as damas que desejavam que ele as fizesse felizes. Desejava o prazer que ele era capaz de dar a elas na cama, o prestígio de flertar com o irmão mais novo de um duque, a joia usual e outros presentes caros.
Pensavam alguma vez nele? Não no lorde Robert Northfield com sua generosa herança e suas relações influentes, não se ele era ou não um amante hábil e aventureiro, mas em sua vida, em suas ideias e em suas aspirações.
Nunca. Tinha a sensação de que a todas as mulheres com quem havia se deitado, jamais havia ocorrido a ideia de perguntar se ele era feliz. Isso também era culpa sua, concluiu enquanto continuava ali, olhando Brianna e respirando a fragrância de flores do inverno que chegava pelo ar. Ele escolhia de propósito, companheiras que não desejavam mais que relações sexuais esporádicas, sem implicações emocionais. Ele seduzia um tipo específico de mulheres e elas apreciavam muito suas atenções.
Mas, isso bastava? Nenhuma mulher jamais olhou para ele como Brianna olhava a seu irmão.
Colton também, nos momentos de descuido em que não estava fechado em algum lugar seguro, afastado do mundo e dedicado a enviar contratos e cartas aos administradores das propriedades, olhava sua esposa com um carinho especial nos olhos, que Robert suspeitava que seu irmão mais velho nem sequer percebesse.
Era extraordinário que aos vinte e seis anos e com seu grau de experiência com as mulheres, Robert só tivesse considerado a possibilidade de apaixonar-se por alguém como um divertimento.
— Ele tem orgulho de você em todos os sentidos, e não só me refiro ao título. —Robert deu um tapinha na mão que o estava segurando, e não acreditou no tom emocionado de sua própria voz. Ele não era sentimental. Pelo menos isso era o que acreditava. — Agora deixe que eu fale com a Sra. Finnegan, o que você acha? Depois acho que vou ter que me trocar. Passei quase o dia todo cavalgando por aí.
—Obrigada. —Brianna soltou a manga com um sorriso triste. — A verdade é que agradeço a sua ajuda.
—É um prazer, madame, disponha. —Robert fez uma reverência exagerada que a fez rir e em seguida foi procurar a sempre eficiente Finnie, como a chamava desde que aprendeu a falar. Explicou a ela que a jovem esposa de Colton precisava dela para que a orientasse um pouco, e subiu para se trocar.
Sem perder por um instante a sensação de ter experimentado uma espécie de momento profundo.
Enquanto ajustava a gravata frente ao espelho, que mostrou o olhar de um rosto taciturno, muito diferente de sua habitual imagem irresponsável.
Ouviu que o chamavam e se virou.
—Sim? —disse simplesmente.
Damien abriu a porta do quarto e entrou.
—Pensei que poderíamos descer juntos para tomar o chá e apresentar uma frente de solteiros comum.
Robert forçou um sorriso, tentando se livrar de seu desanimo interior.
— Estava planejando como sobreviver a isto?
—Eu sou conselheiro militar —seu irmão deu de ombros —e me parece uma estratégia inteligente, mas reconheço que estou mais acostumado a calcular os movimentos das forças francesas do que damas entusiasmadas e suas intenções.
—Talvez estejamos dando demasiada importância — disse Robert com secura. —É possível que nenhuma das jovens que Brianna convidou esteja interessada em um de nós dois.
Damien fez um gesto de resignação.
—Estou há algum tempo afastado da sociedade, mas me parece que está muito otimista. Somos os Northfield, Robbie, e enquanto formos os homens mais ricos da Inglaterra, seremos um bom partido.
Robert achava o mesmo.
— É provável. Pelo menos a senhorita Marston é encantadora — admitiu, porque estava pensando nela em particular. — E embora fosse desaconselhável, acrescentou: — É linda.
E de onde demônios tinha saído esse comentário? Era desconcertante pensar que guardava no cérebro a ideia de voltar a ver a jovem dama.
Seu irmão arqueou as sobrancelhas.
—A senhorita Marston? A filha de sir Benedict Marston?
—Sim — Robert limitou-se a responder. Não falou de suas diferenças com o homem em questão.
— Falei com ele em alguma ocasião. —Damien adotou uma expressão neutra que sempre adotava quando falava de sua profissão. —Tem muito boa relação com o ministro da Guerra, e com o primeiro-ministro, o conde de Liverpool. É estranho que não a relacionasse imediatamente quando Brianna a mencionou ontem à noite.
—Rebecca é muito amiga de Brianna.
—Rebecca? Tem intimidade o suficiente para chamá-la pelo primeiro nome?
Robert pensou no jardim iluminado pela lua e em seus lábios acariciando o canto suave e tentador de uma boca rosada.
—Não, essa é uma liberdade que não tomaria em sua presença. Apenas nos conhecemos.
Exceto que se lembrava da maleável firmeza dos seus seios junto ao seu peito e a fragrância de seu aroma delicado e envolvente.
—Bem, talvez eu tolere sua presença em troca da oportunidade de falar com seu pai. Para Wellington será bom toda a ajuda que possamos conseguir do regimento da guarda real e Marston tem influência. Fico satisfeito em saber que é mais ou menos bonita, para que meu interesse pareça sincero.
Mais ou menos? Uma corrente de indignação percorreu a espinha dorsal de Robert por algum motivo incompreensível. Incompreensível porque Damien, sempre razoável e comedido, quase nunca irritava alguém.
—De fato é muito atraente, e existem rumores que seu pai rejeitou muitos pedidos de casamento. Assim que a conhecer entenderá por que. Não é uma dessas senhoritas de rosto lânguido que sorriem com afetação e que se sentem orgulhosas de não terem nenhum juízo — respondeu com frieza.
Damien adotou uma atitude jovial.
—Isso é uma grande notícia. Pode ser que esta festa não seja tão tediosa como pensava.
—Pretende mostrar interesse por ela para conseguir audiência com seu pai?
—Não penso ser tão vil. —Seu irmão parecia perplexo ante aquele tom irritado. —Eu só quis dizer que como imagino que ela estará acompanhada de seus pais quase todo o tempo, se conseguir que a senhorita Marston preste atenção em mim, conseguirei a deles também.
Isso fazia sentido. Porque Robert se importava é que era um mistério.
Um breve diálogo em uma conversa informal e uma rápida corrida para os arbustos para ajudá-la a escapar de um caipira aborrecido como Watts não a transformava em mais do que uma mera conhecida.
—Vá em frente, corteje-a. — Levantou os ombros com um deliberado gesto de desinteresse.
—Eu não falei que ia.
—Damien, diabo, faça o que o agradar.
Por que interrompera seu irmão mais velho com tanta veemência? Maldição, aquele episódio com Brianna no andar de baixo o transtornara.
Dirigiu-se à porta.
— Perdoe-me. Odeio este tipo de coisas. Enervam-me. Vamos tomar um bom conhaque antes que tudo comece, você quer?

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