Natal

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"Bons sonhos com azevinho e fita
Erros são perdoados
E tudo é gelado e azul
E você estaria lá também"

"Sob o visgo
Assistindo ao brilho do fogo
E me dizendo, "eu te amo"
Só de estar em seus braços
Me leva de volta para aquela fazenda
Onde cada desejo se torna realidade"
-Christmas Tree Farm, Taylor Swift

POV KATNISS

-É o primeiro depois de tudo, vamos fazer valer a pena.

É sua última frase antes de fechar a porta, bloqueando a neve. Os poucos flocos que invadiram o piso são empurrados pro lado quando passo para trancar a madeira.

Ele ficou louco de vez, não há outra explicação plausível.

Nem quando todos estavam vivos havia um Natal, agora ele quer um. Logo quando não tem ninguém.

Abro a mão dando um tapa bem sonoro na parede rente a porta, é inacreditável que ele esteja me pedindo isso.

Peeta sabe que não sou festiva, muito menos em datas onde comemora a família, até porque não tenho uma.

Vou comprar presente pra quem? Um dos gansos de Haymitch?

Penso em pegar o telefone, ligar para a construção da padaria e dizer feias palavras a ele. Mas é nesse momento que lembro de Prim.

Ela com certeza estaria escalando as paredes com tamanha animação.
A essa altura a casa estaria lotada de bolas coloridas e pinhas.

Minha patinha amava isso.
Seus olhos azuis brilhavam quando as luzes eram acesas nas casas da cidade.

A padaria colocava laços pendurados nas janelas e sempre saia um cheiro de frutas de lá nessa época.

Pego o telefone no escritório e disco pro meu vizinho, demora até que Haymitch atende.

-O que é, Katniss?

-Bom dia.

-O que o garoto fez agora?

Sento tirando o aparelho do ouvido, rasgo um pedaço de papel do bloco e começo a picá-lo em pedaços menores.

-Peeta quer um natal.- meu tom sai um pouco rabugento demais.

A risada rouca do outro lado tilinta, não haveria reação mais possível dele.
Agora é a hora de Haymitch jogar em mim o quanto sou ruim para Peeta.

-Anda, diga não o mereço. Que sou uma besta rabugenta e que só vejo meu lado...

-Tirou as palavras da minha mente.

-Idiota.- solto um fraco sorriso, como gosto tanto desse bêbado insuportável?

-Lindinha, dê um agrado ao garoto.

-Ele merece, faz tudo por você e... o que mais, Haymitch?- digo jogando os pedaços no vaso de planta vazio.

Me aborreço toda vez que ele começa com esse papo, pois eu tento fazer o tanto que Peeta faz por mim. Mas como competir com ele?

-Certo.- ele bufa dando uma pausa. - Vocês tiveram tradições diferentes no passado.

-Sim. Ele tinha um peru para comer a meia noite e minha família comia arroz com vegetais da floresta.

-E no final ambos ficavam com a família.

Certo. É por isso mesmo que não tem cabimento comemorarmos.

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