Capítulo I

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LUÍZA

Me vi sentada naquela sala mal iluminada, e meu coração quase parou. Olhei para as paredes brancas com manchas de mãos desesperadas provavelmente em busca de uma saída. Meus olhos marejaram, mas minha mente falava mais alto dizendo você é mais forte que essa sala. Só então, quando comecei a pensar no que estava fazendo ali, senti um ardor na minha cabeça, imaginei ter tomado um porre e ter esquecido para onde tinha ido na noite passada. Esfreguei os olhos e a dor aumentou. Passei as mãos na minha nuca e quase soltei um grito quando as vi sujas de sangue. Bem, o motivo de ela estar daquele jeito eu não sabia, mas uma coisa era certa, eu tinha que descobrir.
Comecei a bater desesperadamente naquilo que imaginei ser uma porta, tinha característica de porta, talvez eu estivesse em uma sala com isolamento acústico e ninguém podia me ouvir, mas....
Ouvi passos rápidos e o medo cresceu a tal ponto que minha respiração ficou acelerada, era possível ouvir meus batimentos a milhas de distância. Os passos estavam cada vez mais perto, e minhas mãos sujas de sangue começaram a suar. Em minha mente apenas o eco: O que estou fazendo aqui? O que machucou minha cabeça? Quem está vindo? Alguém tentou me matar?
A porta se abriu e uma mulher loira com um salto de 15cm veio em minha direção, a essa altura eu estava em um canto da sala encolhida, talvez imaginando que ali ela não conseguiria me ver, mas ela me viu, e me pegou pelo braço me ajudando a levantar.
- Vamos, levante! Não temos muito tempo.
- O que eu estou fazendo aqui? Quem é você? Onde eu estou?
- Eu sei que você tem muitas perguntas, mas nós também. Não precisa se preocupar, somos da polícia.
Policia? Como assim polícia? O que eu fiz de errado?
Ela deve ter percebido meu jeito desesperado de tentar entender a situação porque tentou me tranquilizar.
- Calma. Você não fez nada de errado, ao contrário, você vai nos ajudar a solucionar um caso. Vamos fazer algumas perguntas e depois te liberamos.
- Ok! Mas o que aconteceu?
- Você foi encontrada próximo a um galpão abandonado com a mochila de uma garota desaparecida. Pode ser que você seja inocente mas preciso que se lembre de tudo.
Como assim tudo? Eu mal lembro meu nome. O que será que eu fiz? Garota desaparecida. E essa tal mochila, onde está? Senti vontade de fazer todas essas perguntas, mas poderia soar estranho e parecer mais criminoso ainda.
- Então, vamos começar, vou chamar um policial que vai te fazer algumas perguntas, e não esqueça, fale tudo que lembrar para ele. Eu vou estar do outro lado da sala te observando, qualquer coisa pode sinalizar que eu venho.
Só percebi que tinha uma câmera me monitorando naquele instante, quando ela falou te observando e fez um gesto para a parede atrás de mim. Como eu não percebi a presença daquela câmera, bom, eu não sei, mas eu não conseguia lembrar meu nome, nem onde estive na noite anterior, e essa história de mochila, galpão abandonado.
- Bom dia!
Aquela voz.
-Senhora Luiza Sanchez.
Eu não respondi, não sabia de quem se tratava.
- Senhora Luiza, a senhora está bem?
- Bom, se é comigo que está falando, sim estou bem, quer dizer, não fosse pelo fato de minha cabeça estar doendo e essa mancha de sangue que eu não lembro por que está aqui.
Ele puxou uma cadeira no outro canto da sala e me pediu que sentasse, e sem muito esforço sentou-se à minha frente e puxou um walk talk do bolso da camisa. Eu conhecia aquela voz, mas de onde? Isso eu não lembrava e quanto mais me esforçava mais doía minha cabeça.
- Ela não está bem. Não consegue lembrar o próprio nome. Temos que levá-la ao hospital, não podemos perder mais tempo, existe um assassino à solta e sem ela não podemos chegar até ele.
- Oi? Como assim um assassino? Me diz por que eu estou aqui, por favor.
As lágrimas começaram a cair sobre a mesa. Eu não tinha noção do que estavam falando. Primeiro a garota com uma mochila, depois um assassino. Onde isso ia parar? O desespero começou a aumentar e eu sentia a adrenalina correndo em minhas veias, mas eu não tinha para onde correr, tentar fazer aquela sensação horrível desaparecer.
- Ela precisa descansar. Chamem o Dr. André.
Acredito que o pânico tomou conta de mim pois, quando acordei estava em um quarto de hospital. A última coisa que lembrava era de ver o Dr. André se aproximando de mim e aplicando em minha veia uma injeção de não sei o que.
- Oi! Você se sente melhor?
Aquele rosto era familiar, eu conhecia aquela mulher loira, os olhos azuis brilhando quando me viram acordar. Então lembrei, era ela, a mulher da delegacia. Bom, eu acho que estava em uma delegacia, com todos aqueles policiais.
- Sim. Está tudo bem.
Lembrei da dor de cabeça e do ferimento, passei a mão e senti algo envolvendo minha cabeça.
- O que é isso? O que fizeram comigo?
- Calma! É só um curativo. Você vai ficar bem.
Imagino minha cara de alivio ao ouvir a palavra “curativo”. Ela me olha com aqueles olhos azuis hipnotizantes, que me deixam quase que paralisada.
- Você lembra seu nome?
- Eu não sei ao certo. Talvez Eloisa, algo como esse nome.
- Você precisa se lembrar de tudo antes que eles voltem.
- Eles quem?
- Os policiais.
- Eles não são seus amigos?
- Isso é uma longa história. Não podemos confiar em todos. Você precisa acreditar em mim. Vou te contar tudo.
Ela puxa da bolsa uma peça de roupa, que eu imagino ser um vestido.
- Toma. Vista-se rápido antes que eles cheguem.
Eu pego a roupa e dou de costas para ela, imaginando que assim não sentiria vergonha, mas ela parece não entender e solta uma frase, quase que como um grunhido.
- Vamos. Precisamos sair daqui logo.
- Mas para onde vamos?
Falo enquanto termino de me vestir.
- Não importa para onde. O que importa é porque estamos indo. Rápido venha.
Ela me puxa pela mão antes mesmo que eu pudesse perguntar se ela me trouxera uma sandália.
Não sei exatamente para onde ela me levava, mas sei que tinha muita vontade de sair urgente daquele lugar.
Mal pude sentir a brisa bater levemente em meu rosto e, como um raio de luz, minha mente foi iluminada com flashes do passado. Eu pude lembrar de quase tudo. Meu nome, sim, meu nome, Luiza Sanchez. Agora eu entendia porque ele chamou assim na delegacia, se é que eu realmente estive em uma delegacia. Eu começava a me lembrar do dia anterior, das minhas amigas conversando sobre o casamento de um ex noivo da Giovanna, e de como ela sentia-se feliz por ter terminado com ele. Agora tudo começava a fazer sentido. Eu levara uma pancada na cabeça e por isso estava daquele jeito.
O detetive Klaus Baima estava sentado em frente ao computador, olhando as fotos das evidências do caso da garota desaparecida. Ele pensava, como podia Luiza estar envolvida em tudo aquilo, logo ela uma das melhores investigadoras do departamento de homicídios. Impossível acreditar. Impossível ser verdade que algo assim pudesse acontecer.

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