Capítulo III

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VIRGÍNIA

-Vamos, corra! Mais rápido!
Virginia gritava baixo para mim enquanto corríamos em direção ao estacionamento do hospital.
Minha mente contorcia tentando achar uma razão para aquela fuga inesperada, e o outro policial? Por que ele não estava ali com ela? Um turbilhão de pensamentos contra Klaus começou a surgir, mas não conseguia imaginar que uma pessoa com uma aparência tão dócil quanto ele seria capaz de fazer mal a alguém.
Antes de chegamos ao carro de Virginia, parei de correr, tentando respirar o máximo que podia.
- Escuta! Por que estamos fugindo? Ele, o cara de cavanhaque não trabalha com você? Ele não deveria estar aqui conosco? – Minha voz foi abafada pelo grito de Virgínia que ficou imóvel ao ver algo próximo ao carro atrás de mim.
O celular dela caiu próximo a um carro vermelho que eu não soube identificar o modelo. Mal lembrava das cores, imagina se conseguiria distinguir modelos de veículos.
O que se seguiu foi uma forte pancada na minha cabeça que não soube de onde veio, mas lá estava eu, jogada ao chão do estacionamento com uma policial que mal conhecia, mas que estava tentando me salvar de algo ou de alguém.
Quando acordei, estava em uma sala. A sensação de déjà-vu, de que tudo estava se repetindo. Olhei para um vulto que se aproximava em baixo da lâmpada, que por sinal era a única que iluminava a minúscula sala, a procura de um rosto, tentei não pensar no pior, e para mim o pior era um psicopata tentando me matar, e então lembrei de Virgínia. Ajustei meus olhos à luz fraca à procura de um corpo inerte caído na sala, mas para minha surpresa lá estava ela, ela era o vulto sem rosto que eu não consegui definir.
- Eu não estou entendendo nada, você quer fazer o favor de explicar o que está acontecendo aqui? - Perguntei com a voz embargada de medo, embora tentasse não demonstrar.
- Calminha princesa! O chefe está chegando para ter uma conversinha com você.
Nesse mesmo instante ouvimos um batido na porta que indicava que provavelmente ele tinha chegado. Virginia levantou o dedo indicador.
-Está ouvindo? Ele já chegou. Geralmente ele não se atrasa.
Quando abriu a porta, o que consegui ver foi apenas uma silhueta gorda que cobria toda claridade emitida pela lâmpada que só então identifiquei, era de emergência.
-Olá Luíza! Soube que você anda se metendo em meus negócios. Digamos que essa conversa será apenas um aviso: não se envolva mais nisso! Ou a próxima conversa será bem diferente, ou melhor, Virginia, garanta que não haverá próxima.
Passando a mão asquerosa no rosto de Virginia, ele começou a andar em minha direção.
-Pode deixar comigo. Não teremos próxima.
A voz de Virgínia soava um tanto rispida, o que me fez tremer, talvez de medo, ou quem sabe de determinação, isto porque tentei levantar-me de um salto, mas sem êxito, pois minhas mãos estavam amarradas para trás das costas, cai com um baque que fez minhas costelas doerem ao se chocarem com o chão que só então pude ver, era de pedra.
- Vocês podem por favor me explicar o que está acontecendo? Eu sinceramente não sei de que tipo de negócios estão falando, eu não faço ideia de quem sou.
- Uhm! Parece que você fez um bom trabalho Masette.
- Não fosse pelo metido do Klaus eu teria acabado com isso ontem mesmo.
Klaus. Minha mente começou a dar guinadas desesperadas tentando recordar da pessoa, pois o nome me era familiar.
Klaus fora meu colega de trabalho, quer dizer, um dia já fomos mais que amigos, mas agora um protegia ao outro como forma de nos redimir do que não conseguimos ser enquanto amantes. Mas até aquele momento ele era um completo desconhecido, apesar da vaga lembrança de seu nome.
A silhueta gorda agora chegava mais perto e eu pude sentir os cheiros de cigarro e whisky que vinham dele. Senti vontade de vomitar aos seus pés, mas talvez isso só piorasse minha situação.
- Bom, acho que estamos quase acabando esse serviço, não é mesmo Masette?
- Sim, senhor. Acredito que com apenas uma ligação resolvemos tudo, e o melhor, sem evidências.
Virginia procurou o celular na bolsa de coro de onça, que por sinal era bastante fora de moda, pelo menos foi o que eu achei naquele momento. Apesar de todos os problemas, meu raciocínio não me enganava em relação a isso.
-Que droga! –Ela disse tentando fingir normalidade, mas quando se virou para mim pude ver o terror em seus olhos.
- Vejo que algo está a caminho de dar errado, ou estou enganado? – A voz daquele homem não me era de tudo tão estranha. Sabia que já tinha ouvido aquela voz, talvez na delegacia mais cedo, talvez em algum sonho. O fato é que ele finalmente virou-se para a luz e eu pude ver seu roso redondo e sua testa que brilhava com o suor que descia pelas têmporas.
- Não é nada chefe, apenas acho que esqueci o celular na delegacia, ou no hospital, não sei ao certo, mas não se preocupe, dentro de meia hora consigo contornar a situação.
- Acho que já dei tempo demais para você, inspetorazinha. Se soubesse que falharia não teria lhe incumbido essa missão. Mas veja só – a voz dele soava grave e com tom de fúria – a rainha do disfarce está metida em uma encrenca. Vou lhe falar uma coisa apenas Masette: resolva isso agora, ou a solução a sua vida.
- Já falei para não se preocupar chefe. Tudo se resolverá.
Ele saiu com passos largos e firmes da sala, tão firmes que eu pude ouvir seus pés batendo com força no chão de pedra. Furioso. Ele estava muito furioso com a mulher loira de olhos azuis.
Assim que ele estava longe, ela caminhou rápido em minha direção, me socou no rosto e eu apaguei.

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