CAPÍTULO IV

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SEXTA FEIRA, 8 DE SETEMBRO DE 2018

Toda sexta nós saíamos da delegacia direto para o barzinho do Joy. Esses encontros nem sempre eram apenas de colegas de trabalho, às vezes levávamos outros amigos que eram comuns a todos. Exatamente nesse dia, saímos às 19 horas da delegacia até o Joy’s. Percorremos a pé o trajeto de quase 1km, não lembro ao certo o motivo, mas eu e Virginia resolvemos fazer aquela caminhada.
Giovanna já estava a nossa espera, ela trabalhava no jornal local e nos contou sobre uma investigação que estava fazendo com Roberth, seu amigo, amizade esta que lhe custou o noivado, mas sempre a avisamos da intimidade dos dois e o quanto isso podia prejudica-la em seu relacionamento de 4 anos com Paulo.
O que sucedeu foi que, Virginia estava muito inquieta com alguma situação sobre a qual não quis comentar conosco. Saiu de fininho após duas horas de conversa regada a muito whisky e vodca, parecíamos três solteironas em bando a procura de um caçador que pudesse nos mostrar o caminho para casa.  Nossas risadas eram tão altas que tive a impressão de ouvir alguém murmurando “Nossa que falta de ética”, mas, bom, isso não foi suficiente para acalmar nossos ânimos alterados.
Eu fiquei um pouco mais com a Giovanna, afinal ela estava mesmo precisando afogar as magoas em um copo de whisky. Mas quando o efeito começou a aparecer, com ele veio o lamento pelos dias que passara tentando fazer com que Paulo mudasse de ideia em relação a Roberth e, que infelizmente não chegou a lugar algum. Ela começou a berrar no bar.
- Eu disse a ele que o amo. O que mais ele quer? Que eu me rasteje a seus pés? Eu não vou fazer isso, não vou, Iza, isto é humilhação.
Em vão tentei acalmá-la, mas o álcool fazia efeito em mim também, não a ponto de esquecer de tudo, mas ao invés de palavras de consolo desatei a sorrir, um sorriso alto e irônico com palavras que, tenho certeza, em outra ocasião ela teria ficado furiosa.
- Chega de drama Giovanna! Para com isso! Ele não é lá essas coisas mesmo, ele não ti merece. Para de chorara. Vai. Engole o choro agora, sua boneca mimada. Esse desgraçado não vale a mochila que você está usando.
Ela me olhava com ar de fúria e voltava a sorrir. Imagino que todos se viraram para me olhar quando essas palavras saíram repentinas e lascinantes como espada afiada cortando a carne do oponente, mas sim, era verdade tudo o que eu falava, afinal ele era um cretino, lindo, porém cretino.
Por volta das vinte e duas horas, resolvemos que era hora de ir para casa. Não fosse pelo fato de que meu carro estava estacionado uma rua ao lado da delegacia, eu teria voltado e dirigido, mas naquela noite resolvi que um táxi seria melhor.
Como ela morava bem distante de onde eu morava, resolvemos, por bem, parar um taxi que passava no exato momento em que saíamos do Joy’s, e logicamente ela foi a primeira a subir. Lembrei-me de que não havíamos pagado a conta, mas esta lembrança veio seguida de um grito fino capaz de estraçalhar qualquer tímpano.
- Aonde pensam que estão indo sem pagar a conta? Suas caloteiras.
Voltei ao bar me desculpando pelo ocorrido, e de fato eu havia esquecido de pagar. Jamais faria isso, em sã consciência, o que não era o caso.
Após pedir mil desculpas ao bartander, voltei e verifiquei que ela já havia ido embora. Comecei a caminhar sozinha, apesar de saber que era um pouco perigoso àquela hora da noite desacompanhada, mas ainda assim verifiquei por baixo do vestido a arma que sempre carregava comigo no meu coldre de perna. Bom, uma mulher com uma arma é uma mulher bem acompanhada. Passei a mão na minha beretta e o calor dela me fez sentir segura. Segui a passos largos e firmes, graças aos deuses eu não estava tonta. 
Não muito distante do Joy’s situava-se a igreja principal, para onde muitos devotos marchavam em busca de uma solução para seus problemas, fossem eles de qualquer natureza. Um pouco mais além havia um monumento em forma de livro aberto, onde jovens se uniam para rituais nada convencionais, ao lado havia um prédio abandonado e que, em minha concepção, era bem assombroso, sem iluminação e, eu diria, o lugar propicio para realizar qualquer tipo de ação macabra. Eu não tinha outra opção, passaria por lá de qualquer jeito.
Continuei caminhando, cabeça baixa para não chamar atenção, havia nas imediações da igreja um grupo de jovens fumando, afinal, se eles soubessem quem eu era, ou ao menos desconfiassem eu estaria ferrada com todas as letras. Por um instante pensei ter ouvido passos atrás de mim, virei-me e nada. Continuei minha caminhada e novamente, mas dessa vez eu vi uma mulher amarrada a um poste sem luz e, se aquela última dose de whisky não me deixou enganar, ela estava amordaçada e com um embrulho que eu não soube identificar na hora, jogado ao seu lado. Tentei correr em sua direção e foi então que ouvi o barulho ensurdecedor de um tiro que me deixou completamente desacordada.

                                                        ***
Virginia saiu do bar para atender a uma chamada que parecia urgente, essa sim estava sóbria, sabia o que estava fazendo.
Ela era uma mulher de 34 anos, bem resolvida financeira e amorosamente. Ela não era casada e não queria relacionamentos que chamava de abusivos, ter que dar satisfações a outra pessoa não era seu hobby, por isso mantinha distancias dos homens que tentavam conquista-la.
Por esses e outros motivos dos quais todos tinham conhecimento, Luíza e Giovanna sabiam que não se tratava de um namorado secreto, mesmo ela estando muito séria e agindo de forma estranha nos últimos 3 meses. Parecia que ela estava escondendo algo das meninas, mas principalmente de seus colegas de trabalho.
Logo ela voltou com um cara estranha, um misto de raiva e preocupação.
- Sinto muito, mas não vou poder ficar. Tenho um assunto urgente para resolver.
- Como assim? Fica só mais um pouquinho vai.
Giovanna já estava com a voz arrastada, típico de quem está no ápice da embriaguez.
- Sinto muito não poder te ajudar. Bom, até amanhã Iza. E cuide-se Giovanna.
Giovanna choramingou um pouco mais. Sem sucesso. Ela saiu em disparada.
- Calma aí. O carro dela está na delegacia.
Luíza correu até a entrada do Joy’s, mas não conseguiu vê-la, pois já havia sumido.

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