senhorita

capítulo 2.

Entro no bar e logo encontro Lorena. Seu cabelo se destaca na multidão. Me aproximo e me sento ao seu lado, junto do cara alto de pele retinta, camisa de couro preta e uma taça de martini em sua mão esquerda.

Conheci Lorena uns três meses depois que consegui meu emprego na Present Corporation. Eu entrei na sala do diretor para entregar uns arquivos e a encontrei ali, sozinha, fantasiada de girassol. Sua risada foi o suficiente para provar que eu não disfarcei minha cara de dúvida. Faltavam poucos minutos para terminar meu turno, então aceitei seu convite de beber alguma coisa.

Viemos neste mesmo bar. Ela vestida de marrom e amarelo, com uma coroa de flores e glitter pelo corpo, e eu vestida de branco e preto com um coque frouxo e rímel meio borrado. Ela irradiava muita alegria, todos conseguiam enxergar a pessoa extravagante e segura que ela era, não só por suas roupas, mas pelos seus olhos pretos que se destacavam quase tanto quanto seus longos cabelos cor de fogo. Só pela primeira impressão que tive eu já sabia que não tínhamos quase nada em comum, exceto um detalhe: eu amo amarelo.

Conversamos por horas. Ela me contou que é filha do diretor. Não faz faculdade. Não precisa. Assim como seu pai, herdará a empresa. Ela se assusta em saber que larguei meu pai, viúvo, para viver sozinha na capital. Tirando ele, me restara minhas avós e uma tia insuportável na família. Ao contrário dela, desde cedo sonhava em ser independente e o mais inteligente possível. Foi torturante ouvir que o maior sonho dela ela ter a nova bolsa que lançou semana da Gucci.

No nosso próximo encontro, conheci o Caio, o cara negro da jaqueta de couro. Assim como Lorena, Caio teve uma infância de privilégios e riquezas, mas não transparecia nenhum tipo de sentimento de superioridade. Ele e Lorena namoram desde o último ano do ensino médio.

Peço uma dose de vodka e um copo de gim, sendo observada pelo olhar drástico de Lorena de "garota, você tá bem?". Eu a encaro com um olhar vazio e cansado.

- Tô superando o Rafa.

Um cara de camisa azul marinho se aproxima e pede uma cerveja. Lucas. Irmão mais velho de Lorena.

- Já té contaram a novidade? - ele pergunta me olhando com um olhar meio sarcástico, em seguida encarando sua irmã, balançando sua cabeça negativamente e iniciando um papo sobre algas marinhas com Caio.

Olho para ela aguardando uma resposta.

-Eu tô noiva! - ela fala eufórica, quase gritando. - Eu já ia te falar, mas o meu irmão tinha que estragar tudo, como sempre, mas enfim, nosso casamento esta agend...

- Lorena, calma. - encaro-a perplexa. - isso é incrível!

Nós abraçamos e quando a solto vejo umas lágrimas escorrendo de seu rosto. Ela está feliz. Muito feliz. Mais feliz do que normalmente é.

-Eu já encomendei seu vestido de madrinha, mas ainda falta decidir onde você fará seu cabelo e maquiagem. Mas não se preocupe, temos tempo. Ainda faltam dois meses.

Dois meses? Ela vai planejar tudo em dois meses? Logo ela, uma pessoa tão discreta...

Seus olhos pretos brilham apesar de ter pouca luz por perto. Fico me imaginado se algum dia serei capaz de amar alguém como ela o ama.

Enquanto Lorena me contava euforicamente cada detalhe do seu casamento (especialmente a festa, que no momento parecia ser mais importante do que sua própria vida ou quase isso) reparo numa mulher se aproximando. Logo reconheço os cabelos loiros. Vanessa. Ela vinha com uma garrafa de vinho vazia na mão, seguida de Rafa há uns cinco metros de distância.

Ela para na minha frente e bate a garrafa no topo da minha cabeça. Ouço o vidro quebrar, Lorena me abraçar e Rafa, Lucas e Caio correr em minha direção, enquanto ela, calmamente, saía do bar. Em poucos segundos, senti alguém me carregar no colo. Foi a última coisa de que me lembro.