capítulo 5.

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     Era uma casa enorme feita de madeira. Os móveis todos rústicos, impecavelmente arrumados e sem nenhum pó. As cores eram neutras ou de tons pastéis. Era um ambiente leve. Me lembrava o casa da família Bennett, em orgulho e preconceito. Era uma decoração ultrapassada, mas trazia uma sensação boa, aconchegante, como se eu estivesse mais em casa do que na minha própria casa.

     Uma senhora que usava um vestido que mais parecia um lençol veio em nossa direção.

     - Ainda bem que está aqui, Celina. Me ajuda com esta moça. Encontrei-a desorientada na beira-mar. Peça aos outros que arrumem uma cama confortável para ela. - Ele tinha uma voz muito bonita. Grave e um pouco rouca.

     - Creio que eu também tenha o dever de lhe arranjar trajes decentes? - a senhora olhou pra ele, que concordou na hora - Oh, coitada. Se me permite, irei agora mesmo pedir a Saulo que me ajude a preparar um banho para a senhorita.

     Ela se retira da sala. Olho para o lado ao mesmo tempo que Felipe olha. Ele sai da sala apressado. Sou largada sozinha ali.

     Vejo quadros pendurados. Pinturas lindas, devem custar uma fortuna. Não tive muito tempo pra admirar as obras pois em menos de dois minutos Felipe voltou a sala com um cobertor nos braços.

     - Com licença. - Ele se aproximou de mim, com o cobertor enorme aberto. - Enquanto Celina não te trás uma roupa, isso irá te cobrir. - Ele colocou o cobertor sobre mim, deixando à mostra apenas os meus pés.

    A senhora voltou novamente e me conduziu a um dos quartos. Me ofereceu ajuda e quase não consegui convencê-la a me deixar sozinha por uns minutos.

     Deitei na cama, fechei os olhos. Me belisquei forte. Eu ainda estava certa de que aquilo era um sonho. Eu estava lúcida. Já havia bebido várias vezes e estudei dezenas de tipos de drogas. Eu sabia dos efeitos, e sabia que estava sóbria. Me belisquei mais forte.

     Comecei a me preocupar cada vez mais. Em um pulo, corri pelo quarto e peguei o celular novamente. Aquela luz me levou lá. Foi depois daquela luz que as coisas ficaram estranhas. Aperto aquele único botão freneticamente. Por favor, por favor, por favor...
Uma mensagem aparece.

                "Este é o começo da sua jornada. Encontre seu propósito."

     Encaro o celular durante minutos.

**

     No canto do quarto havia uma banheira. A água foi trazida de balde em balde, provavelmente esquentada em fogão a lenha ou seja lá o que eles usam pra esquentar a água.

     Antes de sair do meu quarto, Celina deixou um vestido comprido azul claro em cima da minha cama.

     Fazia uns vinte minutos que eu estava sentada na banheira. A água já estava esfriando, mas eu não estava desconfortável. Faltavam poucas semanas para o começo do verão, e o clima estava tão confortável quanto no século 21.

     Século 21. Que bizarro.

     Esse tempo sozinha me ajudou a não surtar, mas ainda havia muita coisa pra processar. Muitas teorias se passavam pela minha cabeça. Esquizofrenia? LSD? Um experimento baseado em algum episódio de Black Mirror em que eu estou sendo usada como cobaia?
E aquela mensagem de texto? Quem enviou? Como? Existe Wi-Fi no século... hmmm talvez 18, ou 19? Claro que não existe Wi-Fi...
Lorena! Será que um dia eu irei vê-la de novo? Será que ela notou que eu sumi? Será que está ligando pro Caio ajudá-la a me procurar? Talvez o rafa tenha percebido minha ausência... Se não percebeu, que se dane.

senhorita Onde histórias criam vida. Descubra agora