capítulo 4

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    Levanto-me apressadamente ao me deparar com o jovem encima de um cavalo parado a minha frente, se dirigindo a mim. Olho em volta. Não há nada nem ninguém além da paisagem limpa e vazia. Não entendo. Eu to drogada?

    - A senhorita está perdida? - ele me pergunta confuso, sem conseguir me encarar direito. Percebo que ele está meio sem graça.

    - Eu não sei. O que aconteceu com a cidade? - pergunto olhando nos olhos dele, esperando que converse comigo sem parecer que há o diabo em sua frente. Que cara estranho.

    - A cidade fica há milhas daqui. Como a senhorita veio parar neste lugar distante? Está acompanhada? - ele ainda fita o mar e a paisagem, olhando para mim quase que sem querer.

    - Não precisa me chamar de senhorita. -  credo, nem minha vó me chama assim - Sou Alice. Eu vim aqui, e em questão de segundos tudo sumiu. Acho que não tô bem. Bati a cabeça forte ontem.

    - Isso explica a tua condição. Uma madame jovem, claramente atordoada, silibando palavras estranhas e com trajas exibindo mais do que deveriam... - palavras estranhas? Isso é uma pegadinha? E trajas exibindo mais do que dev... Meu Deus, mostra apenas minhas pernas!

    Ele desce os olhos em direção às minhas pernas e seu rosto fica vermelho. Fico assustada, pois um comportamento assim significa que ou ele tá brincando comigo, ou ele foi criado em um convento ou ele é muito virgem. Percebo que também estou sem sapatos. Droga. Meu all star sumiu. Restou apenas minha bolsa e o maldito celular.

    - Se me permite, senhorita Alice, peço que por gentileza - ele me guia segurando em meus ombros em direção ao cavalo - suba em meu cavalo e me acompanhe até minha casa. Assim que se sentir melhor, nós iremos atrás do salafrário que te fez isso. Seria muita indecência minha abandona-lá, por favor me acompanhe. - ele estende sua mão, oferecendo-a para que eu possa subir no cavalo.

    Estou muito confusa. Não sei como reagir. Quem é esse homem bizarro e porque ele quer me ajudar? O que eu faço?

    - Eu agradeço muito, cara, mas acho que não - ele me olha confuso e dou um passo pra trás.

    - Perdão, eu a ofendi de alguma forma?

    - Não, não! Eu só... Olha, eu nem te conheço. Não é seguro andar por aí com qualquer um. Acho melhor cada um seguir o seu caminho.

    - Me perdoe, senhorita Alice, mas mal consigo entender o que queres me dizer. Talvez a madame esteja realmente indisposta. Deixe-me ajudar, por favor. Trajada desta forma e abandonada aqui na praia, imagino que seja muito perigoso. Jamais conseguiria voltar pra casa sem garantir que a senhorita fique bem.

    Senhorita, senhorita, senhorita... que chato. De certo modo, ele estava certo. Alguém perigoso pode aparecer aqui, e eu, doidinha e vendo coisas, com certeza não saberia me defender.

    - Está bem. Me ajude a subir

    Seu rosto enrubesceu quando, ao subir no cavalo, boa parte na minha coxa ficou a mostra. Ele sentou atrás de mim, com uma mão pronta pra conduzir o animal e a outra apoiada em minha cintura. Estava claramente desconfortável. No meu colo eu carregava a caixinha com o celular dentro e minha bolsa.

    - Ahmmm.. e, hm, o senhor... - muito estranho ter que usar esses termos - como que o senhor  se chama?

    - Felipe.

    Foram as últimas palavras que trocamos. Depois disso, começamos a cavalgar. Durante o caminho fiquei pensando nas possíveis causas de toda aquela situação. Me assustei com a hipótese de ter desenvolvido algum tipo de esquizofrenia com a pancada.

    Felipe era um jovem muito, muito bonito. Alto, forte, loiro, olhos verdes... exatamente o tipo padrão de cara que eu inventaria se eu fosse esquizofrênica. Em contrapartida, ele era estranho. Isso me ajudava a não ter um ataque de prazer toda vez que eu quase caia e ele apertava minha cintura com força.

    Após uns 10 minutos chegamos a um grande casarão.

senhorita Onde histórias criam vida. Descubra agora