13

211 30 23
                                    

Acordei.

Abri os olhos ao girar na cama e quase fiquei cega com a claridão, então rapidamente voltei para minha antiga posição e puxei o macio edredom que eu estava embrulhada para cima de minha cabeça. Escurinho e perfeitamente aconchegante.

Entretanto, não demorou muito para minha cabeça começar a doer, fazendo-me acreditar que estava prestes explodir. Era melhor pegar no sono novamente, ainda sentia-me exausta. Além do mais, minha cama estava excessivamente confortável para a deixar de lado naquele momento. Depois da noite anterior, eu merecia dormir por mais um dia inteiro. Ou hibernar por uma semana.

A noite de ontem...

Abri devagar as pálpebras dentro de meu casulo. As memórias foram surgindo desordenadamente, mas com sentido. Algumas cenas eram apenas uma grande algazarra. Corpos se movendo de acordo com o ritmo das músicas, jogos de ping pong e vôlei, beijos e risadas.

Outras estavam tão claras que podiam ser tatuagens em minha mente.

Mãos em meu corpo.

Vermelho. Sangue.

Não me mexi. Aquilo tudo só podia ser um sonho. Tinha certeza que se dormisse e acordasse depois, nem lembraria mais do pesadelo.

Fechei os olhos, apertando. Mas no escuro de minha mente, eu somente enxergava um sorriso macabro, uma cabeça sendo chocada diversas vezes no chão e o peso de uma mão passeando meu corpo. Pareciam memórias distantes, como se nem tivesse acontecido comigo.

Ainda assim, tremi. Lembrei de Alec se aproximando de mim com respingos de sangue em seu peitoral, antes de tudo escurecer de vez. Alec...

Eu não estava na minha cama.

Sentei abruptamente. O edredom claro caiu ao meu redor. Tentei abrir os olhos, mas quase fiquei cega outra vez, por conta da forte luz solar que iluminava todo o quarto. Voltei a deitar, encarando o teto de gesso, até meus olhos se acostumarem com a luminosidade. Tomei o tempo para organizar melhor minha mente e lembrar de todos os acontecimentos. Alguns momentos continuaram dispersos, mas consegui captar os mais importantes.

Olhei para o relógio na mesa de cabeceira. Marcava 15h38. Sentei.

O quarto era todo branco, desde as paredes aos poucos móveis, até mesmo a colcha de cama, sem estampa alguma. Apenas o chão tinha um tom diferente, madeira envernizada. A parede à minha frente era de vidro, completamente transparente, oferecendo uma bela vista superior de uma das áreas nobres da cidade, repleta de lojas bonitas e altos edifícios comerciais e residenciais. Se o apartamento do primo de Alec ficava em um daqueles prédios, ele com certeza era rico.

Com a costa ereta, fiquei apenas sentada, olhando nada em específico. Meu corpo parecia estranho para mim. Minha mente parecia estranha. Suspirei derrotada. Eu não posso pensar assim. Eu sou tudo o que me resta, tudo o que sou. Ontem poderia ter sido pior do que foi. Eu estou bem. Estou respirando. Estou viva.

Por experiência própria, repetir aquele mantra não surtia o efeito realmente desejado.

Levantei os braços para os examinar, girando-os de um lado para o outro. Nenhuma marca. Inspirei fundo. E isso não causou nenhuma dor nas costelas. Alonguei o pescoço e os ombros. Estiquei minhas pernas na cama grande e macia. Fora a insistente dor de cabeça, eu estava perfeitamente em ordem.

Sabia que Alec não tinha me machucado. Ele nunca faria isso. Mesmo não sendo mais o Alec que fora meu melhor amigo. Porém aquele só era o meu ritual, um que eu praticava desde de criança, para checar meu corpo depois de uma noite ruim, e que não pensei que precisaria fazer outra vez.

Onde os Demônios se EscondemOnde histórias criam vida. Descubra agora