PRÓLOGO

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Paloma 

Ainda olhava para Raimundo – o fiel advogado do meu pai – sem acreditar no que ele me dizia. Não era possível que estivéssemos falidos. Claro que meu pai não morreria e deixaria mamãe e eu sem nada para nos mantermos.

Só que lembro muito bem de quando eu estava no restaurante da faculdade e todos os meus cinco cartões deram cancelados. Ainda liguei para o banco e eles falaram que para resolver eu precisava comparecer lá para falar com o gerente. Já sabia que a partir daí o mundo que eu conhecia começaria a desabar. Graças a Deus que minha melhor amiga – Bianca – estava comigo no momento para não deixar que eu passasse tanta vergonha.

Eu não sabia fazer nada, pois meus pais nunca fizeram questão de me ensinar algo, ou pagar alguém para que fizesse tal coisa, já que eles nunca tinham tempo para mim. Não podíamos estar falidos. Estava no segundo período da faculdade dos meus sonhos e não tinha a mínima chance de bancá-la só com o dinheiro da minha poupança.

— Raimundo, você deve estar enganado — mamãe repetiu com a toda sua classe para o homem que estava sentado do outro lado da mesa de seu escritório.

— Sinto muito, Vilma, mas não estou. — Ele suspirou e continuou: — Edson já sabia que algo do tipo aconteceria e por uma fatalidade do destino ele nos deixou e não tem como reverter isso. Ele perdeu tudo devido a alguns investimentos errados na bolsa de valores e antes de acontecer, bem...

Deixei de prestar atenção, pois tudo que eu conhecia do meu pai começou a cair por terra quando ele morreu há quatro meses em um acidente com um bimotor. Ele estava indo para uma reunião de negócios com o pai da Bianca, minha amiga – eles eram sócios em uma empresa do ramo de peças importadas para carros de luxo. Infelizmente os dois e o piloto não sobreviveram. Só que enquanto minha amiga chorava pela perda do pai, eu não tive tempo de ter meu luto por completo, pois descobri que meu pai errou em algum de seus negócios levando à empresa à beira do abismo. No entanto eu pensei que tinha alguma escapatória, só que o cancelamento dos meus cartões era a prova viva de que isso não seria possível.

Enquanto Raimundo falava com mamãe, eu encarava os objetos que ficavam em cima da sua mesa. Já havia aceitado que minha vida ia mudar e eu tinha certeza de que era para pior, já que cursar medicina não era barato, eu não vivia uma vida humilde – mesmo que não fosse mesquinha, não poderia mentir dizendo que gastava pouco –, e muito menos minha mãe, que nunca andava sem suas bolsas de marcas caríssimas que pagariam uma mensalidade da minha faculdade.

Ah! Eu tinha que arrumar algo para fazer, mesmo que não soubesse por onde começar, senão estaria completamente ferrada aos dezenove anos. 

Degustação - Um Pecado Para o CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora