Capítulo 4

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Paloma

Comecei esse dia muito mal, primeiro que a prova na qual eu precisava muito tirar uma ótima nota foi totalmente falha, já que eu não sabia metade das respostas. Na verdade sabia, só que ter cometido a pequena burrada de verificar a notificação do site de acompanhantes e ver que eu tinha um cliente para aquele mesmo dia me matou de desespero.

Saí-me tão mal que tenho certeza de que ficaria de "recuperação". Desci as escadas que levavam em direção ao outro campus, onde Bia e eu sempre almoçávamos e tomávamos café da tarde juntas, com um humor que não estava nada agradável. Assim que minha amiga me viu, já sabia que nada estava bem.

— Que bicho te mordeu? — questionou assim que me sentei de frente para ela na mesa que já era quase um santuário para nós duas.

— O bicho de "vamos tirar péssimas notas" — respondi, fazendo um bico que deveria ser proibido para alguém da minha idade, já que era o cúmulo da imaturidade.

— Calma, sempre tem a n3 para te ajudar — Bia tentou amenizar as coisas, algo que ela sempre fazia quando tudo começava a dar errado.

— Amiga, por favor, não vamos começar com a sua paz interior, não estou com saco para isso hoje. — Fui extremamente imbecil com minha amiga. Depois eu tinha certeza de que pediria desculpas, mas no momento só queria ficar quieta.

— Acho que não foi somente sua prova que te deixou assim, certo? Afinal, hoje, quando almoçamos nesta mesma mesa, você não estava assim. — Bia sempre me conheceu muito bem, então, era complicado esconder a verdade dela. — E você sabe que tá escondendo algo de mim, certo? — Sabia que ela não tinha acreditado na mentira fajuta que inventei no telefone na outra noite.

— Não acho que o momento seja apropriado para isso. — Abaixei a cabeça, sentindo meu rosto corar. Ela era minha amiga, confiava nela, mas tinha vergonha de assumir a que ponto cheguei.

— Ninguém vai nos ouvir, Pah! — Fechei meus olhos e sussurrei de uma forma que só ela podia escutar.

— Eu entrei em um site de acompanhante de luxo e prostituição. — Fora o barulho da área de alimentação do campus nada mais ouvi, nem um suspiro, muito menos um grito que era o que eu imaginava que Bia faria quando descobrisse o que fiz.

Devido à sua falta de reação, tive que abrir meus olhos e assim que focalizei seu rosto percebi o motivo de ela não dizer nada. Bia estava atônita, sua boca estava um pouco aberta, como se duvidasse do que tinha falado – tinha certeza de que o choque fora grande para ela –, e seus olhos pareciam que iam saltar das órbitas.

Não sabia se falava mais alguma coisa ou se somente a deixava ter o tempo que precisava para entender meus motivos. Passaram-se alguns longos minutos até que ouvi sair de seus lábios:

— Por que fez isso? — foi seu questionamento inicial. E assim que expliquei os motivos, ela não deixou de falar: — Eu podia te ajudar, você tinha que se cadastrar em algo desse tipo?

— Seu irmão voltou para tentar recuperar algo para você e sua mãe, acha mesmo que eu iria te atormentar com isso, Bianca?

— Mas somos amigas, eu poderia muito bem tentar te ajudar da maneira que fosse.

— Eu não quero a sua ajuda, será que não percebe? Quero caminhar com as minhas próprias pernas — continuei sussurrando para não chamar a atenção de ninguém, mas sabia que minhas palavras tinham sido como facas para minha amiga. Eu realmente estava sendo a pior pessoa do mundo neste momento.

— E se prostituir vai ajudar? — perguntou com a voz embargada. Ainda não tinha comentado com ela que tinha um cliente para aquele dia, no entanto, achei prudente me afastar antes que fizesse ainda mais burradas por estar com um péssimo humor.

Degustação - Um Pecado Para o CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora