Um barulho incomoda meu sono. Puta merda, eu vou jogar esse maldito despertador na parede e vou rir ainda por cima!
Com toda a força que tenho após acordar, ou seja, quase nula, bato sobre o que deveria ser a merda de relógio fazendo um barulho que parecia querer despertar a porra o quarteirão inteiro. Claro, se minha mão tivesse ido um pouco mais para a direita, talvez eu iria conseguir realizar esse meu desejo de acabar com um tal despertador na porrada. Pois é, talvez.Um erro de cálculo e pronto, dor na certa. Ao invés de quebrar qualquer coisa em cima da cômoda, parecia que eu tinha posicionado alguns ossos em lugares onde eles não deveriam estar.
– Argh! Filho da puta desgraçado! – Esbravejo, sentando de supetão na cama quentinha que parecia me chamar para deitar de volta e massageio minha mão dolorida. O desgraçado ainda tocava, parecendo cantar vitória com aquela porra de barulho provindo do inferno!
– Essas horas já dizendo isso, Yuratchka? Mais cuidado com as palavras! – A porta do meu quarto abre de repente, com meu avô parado sobre a batente, apoiando um dos braços na maçaneta. – Levante que hoje você vai para a escola, não importa o que aconteça. – Ele bate a porta e me jogo novamente sobre os cobertores, colocando os braços sobre meus olhos. Eu só queria dormir por mais alguns minutinhos, será que fará tão mal assim faltar mais um dia? – Desligue logo esse despertador e saia dessa cama, Yuri! E não vou falar mais nenhuma vez!
Meu avô já estava longe, fazendo as panelas e talheres tilintar ali e aqui. Logo um cheiro característico de massa sendo cozida sobe no ar, hmmm, blini no café da manhã.
– Já estou indo, vovô! – Levanto já mais animado, desligando o maldito que um dia ainda vai ser partido em pedaços. Bom, animado até certo ponto, levantar é uma coisa, agora o resto já não é comigo. Com preguiça, meus passos são lentos e arrastados, fazendo um leve barulho por conta do atrito dos meus pés contra o chão de madeira.
Abrindo a porta do quarto, meus olhos ardem por alguns míseros segundos até se acostumarem com a iluminação sintética que tomava conta do resto da casa. Bocejo e esfrego as costas das mãos sobre os olhos, tentando tirar minimamente a cara de sono que tomava conta do meu rosto, que claro, não sairia tão fácil desse jeito. O cheiro de comida estava mais concentrado fora do quarto, chegando a me deixar salivando. Coloco apenas a cabeça para fora do corredor que vai para os quartos, observando meu avô virando um blini na frigideira enquanto sua atenção estava quase toda na televisão da sala, que passava notícias da cidade, mostrando nesse exato momento as temperaturas de cada dia do resto da semana. E claro, todas com um negativo na frente dos números. Maravilha.
– Yuratchka, pensei que não iria levantar. De novo. – Sua atenção volta para a penela a sua frente, colocando mais um blini na pilha de um tamanho considerável sobre o prato, levando até a mesa já montada com xícaras, um bule de chá preto, talheres e uma geléia que aparentemente parecia de morango. – Vá se arrumar para comer.
– ‘Tô indo. – Respondo, com os olhos cerrados, percebendo quase em cima da hora Potya em meu caminho até o banheiro. – Ei pequena, mas já acordada? – Pego a filhote siamesa, acomodando seu corpo pequeno entre meus dedos e meu torso, ouvindo um miado baixo e fino, como se estivesse respondendo minha pergunta direcionada a ela. Levo ela comigo até o banheiro, ligando a luz e deixando a gata sobre gabinete enquanto uso o banheiro, colocando ela sobre a tampa do vaso quando vou para frente do espelho sobre a pia, vendo o estado que chegava a ser deplorável do meu cabelo.
Sinceramente? Me impressiona o fato do meu avô não se assustar com minha aparência logo de manhã ou não perguntar se algum passarinho entrou pela janela do meu quarto de noite e confundiu meu cabelo com galhos e montou um ninho sobre minha cabeça. Pegando a escova de dentes e, em alguns movimentos acabo higienizando a boca, jogando a espuma formada pela pasta na pia, enquanto a água da torneira caía para tirá-la. Tudo correndo bem, agora só falta o mais difícil: esse cabelo, se é que ele pode ser chamado desse jeito nesse estado. Então pego um pente que sempre estava sobre o gabinete, deixando ele cair no mesmo segundo que o toco. Estava pegando fogo! Claro, no sentido figurado da palavra.
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Breaking the Routine
FanfictionYuri, aos 15 anos, mais de 75 anos depois do término da segunda grande guerra, onde Alphas e Ômegas nem aos menos possuem história, se descobre um Ômega. Será possível ele suportar todas as consequências de algo que ele não pediu para ser? Sem escol...