Banho Gelado

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Lentamente meus olhos se abrem e meus sentidos são dominados pela maresia, e se eu me concentrasse o suficiente, acredito que seria possível sentir o gosto salgado em minha boca, até mesmo ouvir o barulho calmo das ondas quebrando na costa. Ilusão de minha mente cansada.

Tentando me mexer abaixo da coberta grossa que esquentava meu corpo que tremia, vejo alguém se movimentando e foco meus olhos em quem seja, enxergando Otabek, com um sorriso pequeno em seu rosto se aproximando.

– Por que não me disse que não estava bem, Yura? – Ele encosta em meu rosto, nas bochechas e testa, parecendo querer medir minha temperatura. Sorrio diante ao apelido enquanto o moreno começa a tirar os cobertores de cima de meu corpo. – Temos que abaixar sua febre.

– M-Mas o que aconteceu? – Surpreendo-me quando ele passa seus braços abaixo do meu pescoço e na parte de trás do meu joelho, levantando-me da cama e seguro fortemente em seus ombros, com medo de cair. – Aonde vamos? – Pergunto, enquanto Otabek abre a porta do meu dormitório e parece olhar o corredor antes de realmente sairmos do quarto.

– Parece que sua pressão caiu ontem de noite e te trouxe para o seu dormitório, estava tremendo, então te cobri com os cobertores que encontrei e liguei um pouco o calefator. E respondendo a segunda pergunta, estamos indo para o banheiro, o melhor jeito e o mais rápido de abaixar sua temperatura corporal é um banho gelado. Agora me responda, por que não me contou a verdade ontem? Preciso chamar Yuuri? Se não estiver bem, eu te levo onde precisar.

– Não! – Digo e então, ao perceber o tom elevado de voz e exaltação, coro. – Não se preocupe, estou bem, foi só o estresse e como bem disse, a pressão caiu. Sinceramente, não quero voltar pra São Petersburgo no momento e nem quero que gaste seu tempo comigo. – Ele me coloca no chão de piso gelado do banheiro usado pelo bloco e após as mãos no quadril.

– Em nenhum momento está gastando meu tempo, estou aqui porque quero. Vai, tira essa roupa ensopada e joga uma água no corpo. – Otabek parece levemente irritado com minha fala e estende sua mão, o que me deixa confuso. – Vai tirar a roupa ou não? – Ele diz, lembrando meu avô, fazendo-me rir.

Entro em uma das cabines e fecho a porta, tentando me equilibrar sem muita força nas pernas.

Que merda aconteceu? Por que estou assim?

– Vamos Yuri, estou esperando! – Otabek diz, quebrando minha linha de raciocínio e lembro o que ele havia pedido, tirando minhas roupas lentamente, jogando-as sobre a porta. Tomo coragem e respiro fundo, abrindo o chuveiro, configurando o mesmo para ficar no modo desligado, querendo gritar quando a água gélida cai sobre meu corpo quente, e não reprimo esse desejo, tentando também não elevar demais a voz.

A água cai sobre minha cabeça e meus ombros e derrama-se sobre toda minha extensão, e eu tremo, meus pelos se eriçam e meus dentes se batem e raspam um no outro, enquanto me encolho, abraçando-me a mim mesmo.

– Pode desligar, Yuri, acho que já é o suficiente. – Otabek bate na porta e eu fecho o registro do chuveiro, virando-me duramente, abrindo a cabine e voltando a cruzar meus braços sobre o peito, tentando encolher para manter qualquer temperatura. O moreno segura uma toalha em mãos, que não lembrava que estava carregando anteriormente.

Ele parece corar e olha para o lado, entregando a toalha e virando-se de costas pra mim, enquanto cubro meu corpo e rio de como ele estava agindo.

– Otabek, você já fez coisa pior do que me ver sem roupa alguma, não precisa agir assim comigo. Vamos?

-~-

– Eu não sabia que fazia música. – Otabek diz, sentando-se na cadeira encostada aos pés da cama, olhando para o grande estojo de acrílico do violoncelo, enquanto eu passava a toalha sobre meus cabelos ainda úmidos. Sento-me na cama e cruzo as pernas. – Essa case não estava aqui da última vez. – Ele diz, fazendo-me lembrar da última vez que o mesmo esteve aqui. Eu tinha deixado o violoncelo no anfiteatro, para alguns testes que estavam acontecendo.

Breaking the RoutineOnde histórias criam vida. Descubra agora