[1] - o dia que não deve ser nomeado

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11 de Julho de 2010 

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11 de Julho de 2010 

*12 anos*

Quero beijar o meu melhor amigo. A minha mãe diz que ainda sou muito nova para essas coisas e que, mais uma vez, é apenas a minha curiosidade a semear minhocas na minha linda cabecinha. Sei que não é verdade, mas eu gosto de imaginar os bichinhos escorregadios.

Hoje é sábado e, como é costume, Edward e Julian vêm cá a casa para brincarmos. Eles são os melhores amigos de todo o universo e eu amo-os aos dois, mas acho que o sentimento, apesar de igual, não é o mesmo. Sempre que Edward ri, sinto as minhas bochechas queimarem e não sei o que fazer com as mãos. Sempre que ele me dá a mão, sinto um formigueiro percorrer-me o braço. Sempre que ele me beija a testa, sinto a minha barriga a dar voltas. E sei que é amor. E Julian, que eu amo muito, também sabe, porque ele diz que tenho os mesmos sintomas da doença que todas as personagens dos filmes de amor que a sua mãe vê. 

A minha mãe tem uma opinião diferente, mas, ainda assim, incentivou-me a declarar-me a Edward e até me deixou vestir o vestido das ocasiões especiais. Já sou bem crescida e sei que Edward será um ótimo namorado para mim.

- Grace, querida, o Julian e o Edward já chegaram. - Avisa a minha mãe, do andar debaixo, tirando-me dos meus pensamentos.

- Já vou! - respondo, sacudindo o vestido e ajeitando as tranças que já se começam a desfazer em pequenos caracóis. Respiro fundo, e abandono o meu quarto.

Enquanto desço as escadas, sinto as pernas bambas e as mãos tornam-se escorregadias só de imaginar o que Edward irá dizer do meu vestido.

- Demoraste, Grace! - exclama Edward, quando me vê. - O que estiveste a fazer lá em cima?

- Também estou contente por te ver, Benjamin! - digo, emburrada, chamando-o pelo apelido que sei que detesta. Nem sequer reparou no que tenho vestido.

- Ei!

- Estás muito bonita, Grace. - interrompe, Julian.

- Obrigada! - digo num meio sorriso. Não quero chorar na frente de Edward, porque sei que ele não gosta de me ver chorar, mas eu quero que ele repare em mim.

- Então foi por isso que demoraste? Não havia necessidade, tu estás sempre bonita! - já não tenho vontade de chorar. O meu sorriso é do tamanho da lua. Não, é maior. - Mas agora já
podemos ir brincar lá para fora?

Antes de sairmos para o jardim das traseiras, onde tem a estufa de flores da minha mãe e os baloiços que o meu pai fez para mim, dou um abraço de urso em Julian por me ajudar, que me retribui com um beliscão no braço. Sei que ele odeia abraços, mas não consegui controlar.

- Preparada? - pergunta, com uma leve excitação na voz.

- Não. - respondo, massageando o local onde ele me beliscou. Edward já se encontra com uma bola nos pés e não consigo evitar corar quando vejo os seus olhos verdes na minha direção.

- Vai correr tudo bem. Vocês fazem um casal perfeito! - sinto as minhas bochechas quentes, de novo. - Vou inventar qualquer coisa para vos deixar a sós! - grita, quase histericamente e sai a correr para dentro de casa.

Confuso, Edward vem ao meu encontro. - Para onde é que ele foi?

- Foi lá para dentro. - respondi, engolindo em seco. A mãe diz que é feio mentir, e eu não sou nada boa mentirosa. - Mas deve voltar já.

- Tudo bem. O que queres fazer? - pergunta, já todo transpirado por ter andado a correr atrás da bola.

- Não sei, podemos ir à estufa.

- Ok...? - concordou, surpreendido, deixando a bola. - Está tudo bem contigo, Grace? Estás muito estranha. - coloca uma mão no meu cabelo, e fita-me com um ar preocupado.

- Claro, só tenho uma coisa para te mostrar. - afirmo.

Durante o curto caminho até à pequena cabana das flores, ouço-o a dispersar sobre Dragon Ball e rio-me, com esforço, quando tenta imitar Goku. Estou demasiado nervosa para o que quer que seja.

- Então, o que me querias mostrar? - questiona, assim que adentramos o espaço inundado por um aroma perfumado.

É agora.

- Fecha os olhos. - peço, com a minha voz trémula.

- Está mesmo tudo bem?

- Sim, só fecha os olhos.

- Grace Blackwell, se isto for algum tipo de partida as minhas cócegas irão atormentar-te para o resto da tua vida. - brinca, enquanto fecha os olhos.

Suspiro fundo uma última vez. Não tem nada para correr mal. Eu gosto dele e ele gosta de mim. E, aliás, o meu pai até me contou um dia destes (em segredo, claro, a minha mãe diz que ainda não é tempo de se falar nessas coisas), que os rapazes gostam de ser beijados. Está tudo a meu favor: eu até sou mais alta do que ele.

Então, beijo-o. E sou feliz. Tenho em mim todos os sonhos do mundo. Durante escassos segundos, contudo.

- O que estás a fazer? - as palavras soam a surpresa, mas a felicidade não as acompanha. 

- Eu... - sinto que já não tenho nada.

- Grace, eu gosto muito de ti. Mas tu és a minha irmã de outra mãe, e os irmãos não fazem coisas de namorados como dar beijinhos na boca. É nojento, se realmente pensarmos nisso - diz, ainda assustado. 

- Achas que foi nojento? - digo, com lágrimas nos olhos. O meu primeiro beijo. O meu primeiro amor. Sua irmã. Isto não era o que eu tinha em mente.

- Bem, um pouco. Irmãos não fazem isto. - eu não sou tua irmã, quero gritar, mas calo-me. Estou tão envergonhada. Quero desaparecer. - Eu gosto muito de ti, Grace, mas apenas como amigo. És a minha princesa, o meu tesouro, e eu sou tipo um pirata.

- Ainda queres ser meu amigo? - interrogo, após alguns momentos constrangedores de silêncio. 

- Claro, vamos só esquecer que isto aconteceu! Vai ficar tudo bem! - sorri, mas não lhe consigo corresponder. - Vamos procurar o Julian, que a estas horas deve estar no teu gaurda-roupa para ver se consegue ir para Nárnia.

Eu sigo-o enquanto uma lágrima desce lentamente pela minha bochecha, esperando mesmo que Julian tenha encontrado o portal para Nárnia.


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