- E, depois, ele foi simplesmente embora. - conto a Julian, de forma exasperada, os acontecimentos do dia anterior. - Não vou mentir, fiquei assustada. Ele parecia um bom rapaz, amargurado, rude e picuinhas, mas ainda assim bom. - prossigo o relato.
Julian escuta atento as minhas palavras enquanto mexe nos meu caracóis que, finalmente, me pareceram dar uma trégua. Estávamos no jardim da Saint Andrew's, era hora do almoço, então estavam todos praticamente no refeitório e nós desfrutávamos da privacidade.
- Se calhar ele só queria conversar com alguém. Pelo que percebi, deveria ser alguém com bastantes coisas guardadas só para si. Se calhar, falar com estranhos pode ajudar. - Julian diz, sério demais.
- Ei, está tudo bem? - levanto-me do seu colo, estranhando a sua atitude. - Desculpa se falei demais sobre esta coisa insignificante. Tu sabes como eu sou, não é? Quando começo a falar não consigo parar mais, porque eu simplesmente fico demasiado empolgada para sequer reparar no que... Quer dizer, desculpa. Queres contar-me alguma coisa? Queres desabafar?
- Não, não é nada. - Eu sei que é alguma coisa. - Dormi pouco, fiquei acordado até tarde a ver The Office. Quando dei por mim, o sol já estava quase a nascer. - Sei que não é verdade, mas também sei que ele não quer falar sobre isso. - De verdade, mulher, estou bem.
- Bem o suficiente para falar 'O Código da Vinci', de Dan Brown? - mudo propositalmente o tema da conversa, porque sinto uma energia negativa a querer parar aqui. Não suporto ver o meu melhor amigo triste, mesmo que seja a reencarnação de um demónio. Sei que alguma coisa se passa com ele, mas também sei que quanto mais insistir, pior será para ele. Quando ele estiver pronto, falará. Eu sei.
- Pensando melhor, acho que não estou assim tão bem.
- Ótimo! Queres falar sobre o Número de Deus, a proporção áurea? - digo deitando-me novamente no seu colo, enquanto ele torna a afagar os meus cachos, dando um leve sorriso. - Não, tenho uma coisa melhor! Vamos falar sobre os quadros de Da Vinci! Já leste sobre as teorias todas das obras dele? Algumas são bem macabras. - grito empolgada, já preparando um longo, longo discurso.
- Amo-te muito, Grace. - ouço Julian sussurrar.
- Eu também. - respondo com um aperto no coração.
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grace
Teen FictionA minha vida não dá para escrever uma história. Sou um nada, que tem tudo em mim. Sou uma adolescente, com um amor não correspondido. Sou um monte de clichés, mas não sou igual a mais ninguém. Sou um desastre que anda por aí, uma mutação de ideias a...