[4] - dusty and other types of books

20 8 0
                                    

Quarta-feira

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Quarta-feira. Provavelmente, é o meu dia preferido da semana - não incluiremos os sábados, pois são apreciados por razões diferentes. Eis a razão: tenho a tarde completamente livre da escola e consigo trabalhar um turno integral na "Dusty & Other Types of Books", ou apenas Dusty, como é conhecida na comunidade.

Dusty nada mais é do que uma pequena livraria local, aberta por Mr. Dustin, em 1968, que me aceitou como funcionária em part-time por passar aqui praticamente todo o meu tempo livre. O Mr. Dustin, meu patrão, estava com falta de funcionários dispostos a vender o seu produto, e então apareci eu, "porque ninguém vende melhor que os nossos clientes",.

Para alguém como eu, este é quase um emprego de sonho: estou constantemente rodeada por uma das coisas que me traz mais prazer em todo o mundo e, desde que comecei a trabalhar aqui, o meu parco conhecimento literário aumentou quase que de forma exponencial. O cheiro a papel tem o mesmo efeito que os calmantes têm para as pessoas com ansiedade e, ainda que a maior fonte de rendimento venha dos materiais e livros pedagógicos, sinto uma felicidade enorme quando me dão a oportunidade de recomendar obras literárias.

Mas, sem sombra nenhuma de dúvida, a melhor vantagem se trabalhar na Dusty são os descontos enormes de que posso usufruir na compra dos livros (e, por vezes, acompanhadas de amostras grátis).

Porém, nem tudo é parecido com o romanticizado por filmes e romances. (In)felizmente, há alguma afluência à livraria - excluindo dias de maior precipitação, como hoje -, e eu nunca mais tive a oportunidade de tirar um tempo para desfrutar de uma leitura como nos velhos tempos. Apesar disso, não é algo que me aborreça.

- Já sabes, pequena Grace, qualquer coisa que precises, estou a um telefonema de distância. - Garante Mr. Dustin, enquanto cobria os cabelos grisalhos com a sua boina.

- Não se preocupe. Vou organizar os novos livros que chegaram da editora e, talvez reponha o stock de material de pintura. E, como hoje está mau tempo, não acho que vá haver grande problema.

- Tu és um tesouro. - sorri, novamente. - Ah, outra coisa, não te esqueças de eleger os "Livros da Semana" e de fazer aquelas coisas todas bonitas na vitrine, que tu tão bem sabes fazer! Bom, até sexta!

- Até sexta! Beijinhos à Senhora Regina. - despeço-me e fico um tempo parada a olhar para o temporal lá fora.

Como eu adoro dias de chuva!

Adoro o som das gotas a baterem contra as janelas da loja e som fustigante do vento contra as árvores dos passeios. E, sem nenhuma razão, todo este cenário torna o meu dia produtivo.

- Se trabalhares aqui, és uma funcionária terrível. - assusto-me com uma voz grossa que surge atrás de mim. - Como és a única pessoa aqui, suponho que sim. Para que conste se eu quisesse assaltar isto, tu nem irias dar conta.

O cliente arrogante. Esse tipo de cliente.

- Mas não assaltou, por isso, não tem o que me apontar, senhor. - sorrio amarelo. É tentar lidar. - Seja muito bem-vindo, em que o posso ajudar? - questiono o rapaz de preto à minha frente, ainda sorrindo.

- Pensei que espeluncas como estas já não existissem. - gargalha sarcasticamente. - Trata-me por tu, tenho praticamente a tua idade. - ordena com uma cara carrancuda, enquanto dirige o seu olhar para as diversas estantes que se estendem pela loja.

Ui! Tanta amargura em um rapaz tão belo.

Sinto os seus olhos côr de amêndoa a olharem-me com atenção à espera de uma resposta, enquanto algumas gotas caem do seu quase inexistente cabelo, acabando por molhar ainda mais a sua pele escura. Ele era incrivelmente atraente

- Eu sei! A mim também me custa acreditar. É realmente uma pena não existirem mais lojas como estas. Mas por um lado é fantástico, porque aposto que sentiste, nem que por uns segundos, o prazer da descoberta de um achado.

- As pessoas ainda compram livros? - o rapaz moreno à minha frente ainda oferece alguma resitência, mas sinto-o ficar ligeiramente menos carrancudo. Felizmente.

- Ficarias surpreendido! Se quiseres posso apresentar-te algum!

- Romances de Nicholas Sparks? Não muito obrigada! Não sou nenhuma mulherzinha à procura desses livros sem conteúdo.

- Ofendes-me. - por momentos, perco a compustura. Ainda que não seja a maior fã do escritor, o seu comentário desagradou-me bastante. - O gosto pelos livros não se define pelo sexo.

E, ainda mais inesperado do que a sua aparição, ele faz A Pergunta.

- Então, o que recomendarias para um rapaz como eu? - questiona, de propósito.

- Bom, qualquer tipo de livro. Um rapaz como tu pode ler Romances, romances LGBTQ+, ficção científica, biografias, poesias, livros "conspiracionais". Um rapaz como tu pode ler o que ele bem quiser. - tento parecer séria, mas a empolgação de falar sobre o que eu gosto sobrepõe-se a qualquer rudeza por parte do cliente.

Então, entre o meu falatório, ele sorri.

- Gosto de ti! Acho que poderemos vir a ser grandes amigos. - ele finalmente perde o seu semblante carrancudo e a sua pose de bad boy desfaz-se. - Prazer. O meu nome é Michael e peço desculpa por ter sido um estúpido contigo.

Para uma pessoa que anda praticamente quase sempre com a cabeça noutro planeta, estar perdida em momentos diversos é algo inevitável. Mas o rapaz à minha frente deixou-me completamente confusa.

graceOnde histórias criam vida. Descubra agora