Eu deveria ter percebido...

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ATENÇÃO!!!
Nós estamos tratando de um caso sério de Violência Doméstica - Psicológica, física e sexual - além de um relacionamento abusivo. Coloquei trechos de protocolos de saúde do SUS em casos de suspeita de violência ou violência propriamente dita. Por favor, leiam as notas finais.


SAKURA UCHIHA


Observava as costas nuas de minha melhor amiga com as marcas avermelhadas enquanto estava sendo examinada por Hinata. Ela não era a primeira paciente vítima de violência doméstica que eu havia atendido e certamente não seria a ultima, porém ver Ino a minha frente daquela forma me deixava desarmada.

Como eu não vi que tudo aquilo estava acontecendo? Será que eu estava tão concentrada em meus próprios problemas que não consegui enxergar que minha melhor amiga estava vivendo um inferno? Por que ela não me contou? Não... ela não contaria, a maioria das vitimas não conseguem se abrir com outras pessoas ou pedir ajuda.

Ainda sinto o calafrio ao lembrar da hora em que Sasuke adentrou as portas do hospital com minha amiga desacordada em seus braços, ainda sentia o gosto amargo na boca depois de todos os minutos que se seguiram até que ela acordasse. Eu poderia imaginar qualquer coisa, menos que Sai – seu próprio marido e nosso antigo colega de time – fosse o responsável.

— Ino preciso que você me responda algumas perguntas – Hinata disse, aquela era seu primeiro atendimento com vítimas de violência.

Observei Ino vestir a camisola do hospital e se acomodar na maca.

— Eu sei Hina – sua voz estava fraca – Já fiz esse protocolo com inúmeras mulheres durante esses anos... mas – engoliu em seco – é diferente quando é com a gente.

— Ino, não precisa responder agora se... – disse.

— Não testuda, eu preciso disso – seus olhos estavam vermelhos – quem sabe assim cai a minha ficha mais rápido?

— Certo – a Uzumaki começou pegando a prancheta – Seu companheiro controla ou tenta controlar o tipo de roupa que você usa?

— Sim.

Estreitei os olhos, realmente as roupas de Ino haviam mudado nos últimos anos, seus vestidos eram mais cumpridos, não usava mais os costumeiros tops com a barriga aparecendo. Como eu não reparei? Ela sempre fora tão espontânea e divertida, era óbvio que alguma coisa estava acontecendo.

— Tenta isolar você de seus familiares e amigos próximos?

— Sim, Sai não me deixava frequentar a floricultura da minha mãe nos últimos meses e sempre brigava quando deixava Inojin com ela. Eu... tive que me afastar de vocês também, ele achava desnecessário eu ter contato com outras pessoas que não fossem ele.

"Maldito!" — pensei.

— Tem ciúmes excessivos, insinua que esteja o traindo frequentemente, viola sua privacidade?

— Sim, tudo isso... Eu sempre pensei que não era uma boa esposa ou pelo menos não boa o suficiente porque ele sempre... — cada parada que ela fazia para segurar o choro era uma punhalada em meu peito — Me fazia duvidar de minhas capacidades. Além de ser um filho da puta que me traí descontroladamente por todas as aldeias da aliança shinobi e além.

Apertei as mãos em um punho fechado me controlando para não explodir. Como aquele desgraçado fazia isso embaixo de nossos narizes durante todos esses anos? A cada questionamento eu me sentia pior. Que tipo de médica e amiga eu era? Ino sofria diariamente ao meu lado e eu simplesmente não vi. Ela passou por todas as fases de uma mulher vítima de violência, deu todos os sinais de alerta e eu não vi.

Por um triz - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora