Unforgettable Memories

Por seus olhos

Um silêncio constrangedor e denso envolveu as duas. Nenhuma palavra. Catra abriu e fechou e boca uma porção de vezes, incapaz de verbalizar qualquer coisa. Adora mantinha-se parada, os grandes olhos azuis expectantes esperavam pelas palavras que a garota sentada a sua frente parecia engolir; e então, quando se convenceu de que nada sairia dali, notou a mudança na expressão da mais baixa. Um sorriso torto mostrou seus sinais nos cantos da boca por poucos segundos antes que Catra explodisse em uma gargalhada.

— Você é hilária Adora! — deu tapinhas na coxa da mesma — Eu quase acreditei! Sério! Desde quando você se tornou tão boa assim em atuar, huh? Por um segundo eu achei que essas pancadas todas na cabeça tinham apagado sua memória! Genial! Mas agora... — ela levantou batendo a sujeira do corpo e estendendo as mãos na direção da loira que assistia tudo calada, uma oferecendo-lhe a espada de volta e outra ajudando-a levantar - Vem, deixa de corpo mole e vamos andando pra Lua Clara antes que a brilhante morra de preocupação.

— Espera! — Adora deu um puxão de leve para chamar a atenção da outra — Eu sinto que há alguma coisa faltando e que tem algo de errado. Minha mente está em branco mas ao mesmo tempo tudo isso me parece tão familiar ... — ela dizia enquanto gesticulava ansiosa e guardava a espada na bainha num gesto automático — Você tem que me ajudar. Eu irei contigo onde me levar, porque de algum jeito eu sinto que posso confiar em você.

Adora terminou o apelo com os olhos azuis suplicantes fitos no par bicolor. Catra engoliu o bolo que se formara em sua garganta diante da declaração da loira, respirou fundo tentando atenuar a sensação ruim que impregnou seu peito e resignada assentiu

— Tudo bem. Eu... Nós vamos dar um jeito nisso. Vou te trazer de volta, custe o que custar. — uma centelha de determinação iluminou os olhos dela por um fugaz instante — No seu lugar eu não confiaria em mim, mas não estou em posição de questionar seus instintos. A propósito, eu sou Catra e você é a pessoa que mais me conhece nesse universo todinho; bom, pelo menos conhecia. Seu nome é Adora, embora você provavelmente tenha notado já que eu fico te chamando assim o tempo todo... Bem, já que confia em mim, vamos; irei te guiar até o castelo, quem sabe isso não te traz algumas lembranças.

Elas começaram o caminho em silêncio, mas essa situação durou pouquíssimo tempo já que as únicas coisas que habitavam a mente da garota loira eram dúvidas.

— Então eu suponho que meu nome seja Adora, certo? Bom, pelo menos foi assim que você me chamou. — ela divagou, aparentemente esquecendo -se da introdução que tinha acabado de receber, então Catra decidiu apenas assentir com um balançar de cabeça — E seu nome? Qual é o seu nome?

— Catra.

Foi a resposta seca que recebeu. Catra se mantinha nas beiradas, não queria dar abertura à outra; não por apatia, ódio ou sentimentos semelhantes, mas por medo. Aquela situação toda assustava a morena. E recolhida em sua resignação, refletia sobre isso. Por toda sua vida Catra jamais havia vivido seu presente. Antes, ela ansiava, ambicionava por seu futuro; e sobre isso edificou toda a sua vida. Quando as coisas saíam do controle, ela se aferrava ao passado, aos momentos felizes — todos ao lado de Adora, cabe dizer — trazendo um sabor agridoce para sua medíocre existência. Mas e agora? Todo o seu passado se resumia, ou ao menos estava intrinsecamente ligado a Adora; à essa altura do campeonato ela não tinha um futuro ao qual se agarrar, e o presente era uma situação desconhecida. Catra se sentia desoladamente perdida, porque, de forma consciente ou não, Adora sempre havia sido sua estrela guia, a garota de olhos azuis era o Norte de sua bússola; e agora elas haviam sido obrigadas a trocar de papéis. Ela não prestou o mínimo de atenção em nenhum dos questionamentos subsequentes que Adora soltava sem parar e logo em seguida respondia a si própria. Cada uma estava metida em sua bolha. Até que a morena estacou no lugar com a respiração trancada.