Passado e culpa

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Adora despertou de supetão, se atrapalhando e indo direto ao chão, assustando Catra que se levantou depressa se colocando em posição de defesa por puro reflexo. A cena toda causou uma alta gargalhada na dona da casa, risada essa que logo contagiou a dupla, que terminou caindo no riso também. Quando as risadas cessaram, vieram as perguntas, que Madame Rizzo respondeu com muito prazer e pouca clareza. O Sol já sumia no horizonte e elas resolveram que era hora de ir ao Castelo de Cristal, uma vez que seus amigos deveriam estar preocupados. Rizzo as guiou até a edificação dos primeiros e entrou com elas, sempre fazendo algo com as paredes e dizendo umas bobagens incompreensíveis.

Ah, Mara queridinha, se sua memória não fosse tão horrível não precisaríamos estar passando por isso! Mas com você as coisas nunca são fáceis, não é mesmo?

— Desculpe a intromissão — pediu Adora — Mas quem é Mara?

— Ora, Mara é você queridinha! Humm... acho que tantos golpes com essa espada maluca acabou deixando você doidinha.

— Espada?

— É! Esse trambolho que você leva pra lá e pra cá nas costas o tempo todo. - ela disse restando importância - Você está tão doida que nem sequer percebeu que antes de sair a pegou.

E de repente Adora notou o peso em suas costas, esticando as mãos para alcançar o cabo do objeto e puxá-lo até sua frente. Surpresa percorreu todo o fio da espada com o indicador, prestando atenção em todos os vincos da lâmina reluzente. Um sentimento estranho tomou conta de seu peito e empunhando a espada com ambas as mãos a ergueu à altura do rosto encarando o que deveria ser seu reflexo, mas se deparando com outra figura. Eram os mesmos olhos azuis, mas os refletidos exalavam poder; eram os mesmos fios dourados, mas os do reflexo brilhavam mais e pareciam flutuar no ar. Era ela, mas não exatamente. Uma voz estranha ressoou em sua própria cabeça e ela estancou os passos, numa espécie de transe, em seguida uma sequência de flashes bombardeou sua consciência. Eram cenas soltas, de batalhas onde a guerreira do reflexo lutava com aquela espada, ao lado de pessoas que ela ainda não conhecia. Flashes de Catra a atacando a fizeram retroceder. Ela se viu na Floresta dos Sussurros erguendo a espada e então se transformando, sentiu aquele estranho poder borbulhar em suas veias enquanto uma voz ecoava "She-ra. Você é a She-ra". Um holograma azul, uma moça morena bonita, She-ra, a espada estilhaçada, o céu, o breu, e o silêncio. E então Madame Rizzo apareceu e fitando seus olhos disse "She-ra não é a espada. A She-ra é você, queridinha. Sempre foi.". A escuridão se fez presente outra vez e o silêncio foi dissolvido em vozes diferentes que repetiam e chamavam seu nome em diversas situações, "Adora. Adora... Adora!". De volta a sua realidade ela sentiu sua cabeça latejar e cambaleou para trás sendo amparada por Catra, que havia se conservado quieta até então.

— Adora! O que houve?! Você está bem? — a preocupação era notável no tom de voz da morena que ajudava a outra a se manter em pé

— E-eu vi coisas. São lembranças... Minhas lembranças. — gaguejou — Minha cabeça dói. O que... o que realmente aconteceu, Catra?

— Muito bem, o que fez com ela?! O que tinha naquele chá? — Catra endureceu o tom de voz se dirigindo a senhorinha que permanecia ali

—  Eu não fiz nada. O chá era de frutinhas colhidas na floresta, as melhores! O efeito dele é apenas realçar os sentidos sensoriais e aliviar a dor, pois recuperar memórias é doloroso. Não há com o que se preocupar, ela ficará bem, mas vai precisar de você. — ela a encarou por cima dos óculos e continuou — Seguindo esse corredor em linha reta vocês vão chegar na câmara principal. Lá você deve contar tudo a ela, sem deixar de lado nem o menor detalhe. Conte inclusive dos sentimentos. Depois disso, vocês saberão o que fazer.

Unforgettable MemoriesOnde histórias criam vida. Descubra agora