Capítulo Treze

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Alice Black

    Chegando em casa, completamente confusa e, de certa forma, envergonhada, me tranco em meu temporário quarto. Me atiro, de costas, na cama, e só agora reparo em como estou ofegante e minha respiração, descompassada. Me xingo mentalmente por tudo que deixei acontecer. Principalmente por me sentir dessa forma por absolutamente nada.

    Vou para o banheiro, e encaro meu reflexo no espelho. "Idiota" penso. Sinto meus olhos arderem, enquanto lutam para não deixar as lágrimas escaparem. Meu corpo formiga, e sinto meu estômago embrulhar em meu ventre. "Boba", me xingo novamente.

    Encaro de novo meu reflexo. O reflexo de quem costumava ser Alice Black. Agora só enxergo máscaras. Máscara de corajosa. Máscara de feliz. Máscara de estúpida. Máscara de viva... Máscaras que escondem, retiram o " eu" da equação da vida.

    Dirijo minha atenção para meu cabelo. Azul. Sempre foi uma cor que me faz lembrar da vida, e me sentir feliz por ela. Mas, agora, que vida? Hoje, não me sinto mais verdadeiramente feliz por quase nada. Me sinto mais na obrigação de agradar os outros, ou fazer o desejo dos outros. Não tenho mais vida própria.

    Recomeço. Por que não? Por que não recomeçar? Por que não modificar? Por que não me mudar por inteira?

    Abro então minha mochila e vejo todas as tinturas para cabelo que eu trouxe. Todas azuis. Novamente, me xingo mentalmente. Por que só comprei azul?

    Acabo pegando qualquer uma mesmo e retocando a cor já em meu cabelo. Logo após, entro no chuveiro, e deixo a água quente me cobrir, me lavando por completa, e limpando minha mente.

    Demoro no banho mais do que realmente queria e precisava, mas saio de lá muito mais tranquila e relaxada.

    Me troco, apenas vestindo uma camisa larga e folgada, e me sento diante da janela. Sem que eu perceba, a lágrima há tanto querendo aparecer, finalmente consegue realizar seu desejo, escorrendo de meu olho, passando pela maçã de meu rosto, e pinga em minha perna. Depois dela, muitas outras também aparecem.

    E desse jeito, chorando, acabo caindo no sono. Fisicamente, molhada em lágrimas, mas sinto um sentimento novo emergir em meu peito. A nova Alice ocupando o lugar da impostora. A verdadeira Alice.

    E finalmente consigo ter uma noite calma, pacifica, e feliz comigo mesma.

    "Mas terá troco, Alex Tyler", fecho os olhos, e sinto o sorriso surgir em minha boca. "Terá troco"

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